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Sérgio Mascarenhas: o Gênio (1928-2021)

Certo dia, nos corredores da Academia, encontrei-me com o já falecido Prof. Dr. Clodoval­do Pavan, grande geneticista de nossa terra, e, neste encontro, perguntei-lhe para qual cientis­ta ele “tiraria o chapéu”. O Prof. Pavan não titubeou e, de imediato, respondeu: Sérgio Masca­renhas. Ao que eu lhe questionei: “Por quê?”. E Pavan, “É a pessoa mais criativa e inteligente que já conheci”. Os anos passaram e, em 2008, a USP – São Carlos rendeu uma justa home­nagem aos 80 anos de Sérgio, nesta reconhecendo-lhe sua genialidade e sabedoria, ambas de mãos dadas à sua habilidade de fazer amigos. Sérgio não é menos que um Nobel, estando à altura de qualquer um que, merecidamente, recebeu esta grande láurea.

Possuidor de alta inteligência fluída, caracterizada por suas habilidades em resolver problemas, alguns extrema­mente complexos, também se destaca por sua profunda capacidade de inovação. Tal inteligência fluída encontra-se alicerçada numa profunda e vasta inteligência cristalizada. Seu conhecimento é tão diverso e profundo que se torna difícil enquadrá-lo numa única área do saber científico. Tal como Janus, também seu olhar aquilino tem alcance tanto para a ciência e tecnologia como para as artes e a literatura, além de ser um apaixonado pela obra de Portinari.

Com rara felicidade, este homem une sua alta inteli­gência fluída e vasta inteligência cristalizada num proces­so contínuo de criatividade para resolução de problemas. Como se não bastasse, também é um sábio, entendendo que a nação precisa, mais do que nunca, da solidez e divulgação do conhecimento cien­tífico para reduzir suas desigualdades sociais, econômicas e educacionais. É um homem reconhecido em seu tempo, assim como o será para muito além deste. Gerações futuras de cientistas sempre destacarão seu legado e poder de criação.

Por ocasião de seus oitenta anos, mi­nistrou a palestra “Sonhos de um cientista octagenário”. Humilde, disse apenas um sonho, pois a modéstia não lhe deixou dizer que vários outros foram os sonhos que ele tornou realidade com sua mão de Midas da Ciência: Ministério da Ciência & Tecnologia, Embrapa, UFSCar, Enge­nharia de Materiais e Instituto de Estudos Avançados da USP – São Carlos, além do recente equipamento não invasivo da pressão intracraniana, já utilizada pelo SUS em todo o país. E isso para só ficarmos em alguns. Algumas das mentes mais brilhantes da ciência brasileira aprenderam a engatinhar com este magnífico e genial cientista. Eu mesmo tendo compartilhado com ele muitas ideias de instrumentos possíveis de mensurar a dor em pacientes incapazes de verbaliza-la.

Caprichoso, quis o senhor Destino acometer-lhe de um mal de difícil diagnóstico, para o qual a medicina mundial ainda não tinha avançado um equipamento não invasivo capaz de medir a pressão interna do cérebro. Mas, a ge­nialidade de Sérgio provou ser mais caprichosa, ainda, que o Destino: Sérgio criou um equipa­mento de baixo custo, capaz de medir tanto a pressão interna do cérebro como a que acomete os traumatismos cranianos. Caprichosa genia­lidade! Não obstante, Sérgio tem um grande e único defeito: ser um só.

Entretanto, na última segunda-feira, último dia do mês de maio deste ano, Sérgio foi colhido do jardim terrestre para se tornar uma estrela no jardim celeste. Neste, ao lado da lua, dos pla­netas e das estrelas, está no ambiente de estudos da Física mais enaltecido pelos que pesquisam a mesma. Querido amigo, muito obrigado por tudo. Principalmente, por ter ajudado a Humani­dade a avançar um pouco mais em direção ao progresso. Descanse em paz.

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