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Um ícone da ciência e tecnologia

Para Sérgio Mascarenhas, a motivação recebida de seus professores, en­quanto cursava o científico, antigo ensino médio, foi decisiva para sua opção profissional. Além disso, o incentivo e o entusiasmo de colegas estudiosos, em uma época que ele mesmo afirmava ter sido dispersivo, de poesia, de danças de gafieira, de festas e de muito namoro, colaboraram para sua dedicação aos estudos, sendo aprovado em primeiro lugar no vestibular da então Universi­dade do Brasil.

Esta contradição, no entanto, para longe de admoestá-lo, apenas lhe confirmou que, mesmo alunos medíocres, como ele achava ter sido, podem ser motivados pelo ambiente da escola e dos colegas. No mais, o fato de, ainda criança, ter morado com Ary Barroso, bem como, ter sido colega de “bagun­ças“ de José Carlos Manga e aluno querido de Anísio Teixeira e Joaquim da Costa Ribeiro, lhe pareceram condições especiais o suficiente para motivá-lo a construir um belo caminho profissional.

Atribuindo seu interesse pela pesquisa em Física, Química, Educação e Filosofia ao excelente am­biente da Faculdade Nacional de Filosofia, bem como, aos ensinamentos discentes recebidos de Joaquim da Costa Ribeiro, e por ter conhecido os trabalhos de César Lattes anteriormente ao vestibular, entendia que todos esses fatos, em conjunto, o motivaram a ser um continuador de tais pesquisas.

Por sua vez, de suas viagens ao exterior, ocasionadas pela pesquisa, recordava-se com carinho de seu trabalho em Harvard, envolvido com Física Médica; no MIT – Massachusetts Institute of Technolo­gy- aprofundando-se em Física da Matéria Condensada; e no México, auxiliando na implantação de um novo grupo de pesquisas, o qual se transformou em um modelo na América Latina.

Entretanto, reconhece que foi sua pesquisa sobre dosimetria de ossos irradiados que ficam paramag­néticos, iniciada em São Carlos e em Ribeirão Preto, que o levaram à Hiroshima, onde pôde verificar a quantidade de vítimas da cruel bomba atômica. Também na China, acompanhando o grande Abdus Salam, prêmio Nobel de Física, com quem trabalhou por 12 anos, até seu falecimento, já como Diretor da Biofísica e Física Médica, em Trieste, na Itália, lhe foram recordações importantes.

De acordo com o andamento de suas pesqui­sas, Mascarenhas esperava que o Brasil assumisse decisivamente uma nova estrutura para ensino e aprendizagem, uma formação de professores com forte concentração em Português, Inglês, Ciências, Matemática/Informática e, sobretudo, Arte, usando a grande revolução da informática, do ensino à distância e a grande convergência entre as mídias da TV Digital, Cabo, Telefonia e Sistemas com Banda Larga, para melhorar, e muito, sua posição no cenário científico e cultural. Isto tudo sempre com as visões de política educacional no grande Anísio Teixeira, com quem afirmava ter trabalhado, e de Paulo Freire, que muito lhe agradou conhecer pessoalmente antes do falecimento do mesmo.

Enquanto cidadão, Mascarenhas também pensava que o cerne da questão era o brasileiro necessitar não apenas de Educação, mas, principalmente, de Civilização, isto é, de valores nos quais o amor ao próximo e o espírito de solidariedade e respeito às diversidades culturais, estivessem realmente presentes. Confessan­do que, enquanto não estava pesquisando, gostava de sonhar com inovações, inclusive na arte e na música, Mascarenhas citava Graciliano Ramos, Monteiro Lobato, Celso Furtado, Darci Ribeiro, Caio Prado Júnior e Gilberto Freire como as principais referências para quem queria entender, realmente, o Brasil.

Por sua vez, indicando descobertas dos bioeletros, dosimetria com ossos irradiados, novos métodos de datação arqueológica, tomografia computadorizada aplicada à solos, plantas e produtos industriais, além de contribuições da instrumentação biomédica, como bisturi criogênico, consolidação elétrica de fraturas e biofísica da água, como as temáticas com as quais ele mais contribuiu em pesquisa, deixou o seguinte incentivo para a futura geração de pesquisadores: “Aproveitem o privilégio mara­vilhoso de estarem num dos melhores ambientes do país, cercado, não somente, de tradições, mas, principalmente, de brilhante futuro, para alavan­carem suas carreiras”.

Falecido na última segunda-feira, Sérgio dei­xa, como legado, sua sabedoria consciente para a construção de um mundo melhor. Descanse em paz, meu amigo.

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