Durante longas horas os olhares do país estiveram voltados para a CPI da Covid-19 que contou com a participação da Dra. Nise Yamaguchi, uma das principais defensoras da cloroquina e da hidroxicloroquina e da Dra. Luana Araújo, contrária aos tratamentos precoces sem comprovação científica. Os depoimentos foram totalmente antagônicos, deixaram nítida a divisão existe na classe médica e ganharam destaque nacional.
Preocupado em não perder o protagonismo, que já seria natural por ocupar o maior posto da república, conforme ocorre tradicionalmente nos finais de tarde, o presidente encontrou seus apoiadores no “cercadinho” do Palácio Alvorada e, no dia em que o país atingiu 465 mil mortos pelo vírus, ao insistir em ironizar os efeitos da doença, cometeu um deslize vernacular. Bolsonaro disse ser o “homem dos três ‘is’: imbrochável, imorrível e incomível”. Depois ele acrescentou mais um adjetivo: “E infectável.” Logo foi corrigido, alertado que seria “ininfectável”. Há quem defenda que o correto seria “incontaminável”, mas também não poderia ser aplicado, já que testou positivo em julho do ano passado.
Continuando sua imperícia, no Dia Nacional da Imprensa o presidente resolveu instigar seus apoiadores atacando a jornalista Daniela Lima, chamando-a de “quadrúpede” e deturpando sua fala ao chamar uma matéria em programa da CNN. A prática não é involuntária, aliás, insistentemente ele infunde ideias misóginas muito comuns naqueles que insistem em tentar reduzir as mulheres comparando-as com animais (burra, vaca, galinha…).
Desnecessário informar que as expressões destoam da liturgia esperada do ocupante do maior cargo do país. Para piorar, as falas inusitadas parecem não ser apenas cortina de fumaça para ocultar problemas maiores, o que já seria lamentável, mas essa irreverência macabra parece expressar o real pensamento dopresidente e seus incautos seguidores.
Até as pessoas mais cultas ficam sem adjetivos para nomear uma figura que possui a capacidade de desdenhar do sofrimento alheio e insiste em promover uma política de confrontos e destruição da vida e da natureza. Sua insensibilidade e ausência de empatia reverberam em diversos setores da sociedade, da economia e até de igrejas. Incomodados com tal situação, internautas usam suas redes para, em contraposição, usar seus “is” para adjetivar o presidente como: “ignóbil, irracional, indecoroso, indigno, insano, idiota, imbecil, ignorante, irresponsável, insignificante, incompetente, incapaz, imaturo, indecoroso, insuportável, impolido, iliterato.”
A inquietude popular chegou ao ponto de, até os defensores do isolamento social irem às ruas para externar insatisfação. Digna de veemente protesto, a arbitrária e insana atitude de policias militares do Recife que, por imprudência, inabilidade ou crueldade causaram lesões em cidadãos inocentes próximos aos protestos. Também os agentes de Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, que prenderam um professor por adesivar seu veículo com críticas ao presidente.
Chegaram a tentar usar um dos últimos resquícios da ditadura militar, a Lei de Segurança Nacional- Decreto-Lei nº 314/1967 – que estabelece em seu artigo 31: “Ofender a honra ou a dignidade do Presidente ou do Vice-Presidente da República, dos Presidentes da Câmara dos Deputados, do Senado, ou do Superior Tribunal Federal: Pena – detenção, de 1 a 3 anos”. O intrépido professor foi conduzido para a delegacia de Polícia Civil da cidade, onde o delegado não quis registrar a prisão. Posteriormente levado para a sede da Polícia Federal em Goiânia, foi ouvido e liberado.
Não sou incoerente, tão pouco ingênuo, mas hoje prefiro não ser tão rude e opto por preservar a lhaneza no texto. Impávido observo que aos poucos, mesmo os fervorosos militantes, admiradores e eleitores do “mito”, dotados de mínimo discernimento, começam a ficar incomodados em perceber o desserviço do atual desgoverno.
Para muitos o Brasil é uma grande empresa, que no próximo ano deve renovar seu quadro diretivo. Para a principal vaga de comando, procura-se um líder idealista, integro, idôneo e inteligente. Exige-se que não seja infeliz, inconsequente, enfim, inominável.