O físico Sérgio Mascarenhas morreu na noite de segunda-feira, 31 de maio, aos 93 anos, em Ribeirão Preto, em decorrência de parada cardíaca. Ele estava internado no Hospital São Paulo. O cientista, físico e químico, deixa um legado a todos os que acreditam no desenvolvimento científico e na democratização da educação e da ciência como forma de construir um Brasil mais justo, com mais saúde e acesso.
Professor no Instituto de Física de São Carlos, na Universidade de São Paulo (IFSC/USP), e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Sérgio Mascarenhas lecionou, pesquisou, desenvolveu tecnologias e recebeu títulos em dezenas de universidades e centros de pesquisa internacionais, como os laboratórios da Bell Labs e RCA, as Universidades de Princeton e Harvard, o Massachusetts Institute of Technology (MIT), entre outras instituições da Inglaterra, Alemanha, México e Japão.
Em sua brilhante trajetória profissional, Sérgio Mascarenhas optou por não aceitar os inúmeros convites recebidos para se estabelecer em grandes centros de pesquisa no exterior para abraçar seu compromisso com a ciência e sua missão de contribuir com a ciência e a educação de seu país. Aos 86 anos fundou, no Brasil, a brain4care, e por meio dela, deixa uma herança inestimável para toda a humanidade.
Dotado de inteligência e senso de empreendedorismo singulares, o cientista sempre esteve de mãos dadas com a inovação. Defendia que era necessário diminuir a distância entre a “Torre de Marfim”, como chamava os centros de conhecimento científico, e a sociedade. Um dos exemplos mais recentes foi quando questionou e comprovou cientificamente que a caixa craniana é expansível.
Com isso, derrubou um dogma da Medicina – um dos pilares da Doutrina de Monroe Kellie, de 1783 – e criou uma tecnologia que abriu inúmeras portas para a ciência. Considerado o “mestre dos cientistas” e respeitado internacionalmente pelas suas contribuições à física, ao agronegócio e à medicina, Mascarenhas nasceu no Rio de Janeiro, onde se formou na Universidade Federal (UFRJ), mas fez carreira em São Carlos, para onde se mudou motivado a fazer pesquisas inovadoras.
Mascarenhas transformou a pesquisa de materiais na sua missão de vida. Foi um dos primeiros pesquisadores a trabalhar na área no Brasil e a inseriu em todas os setores que conseguiu. Em São Carlos, criou o IFSC da USP e a Embrapa Instrumentação, que hoje abriga o Laboratório de Nanotecnologia para o Agronegócio.
O principal legado de Mascarenhas para São Carlos foi a UFSCar, da qual foi um dos idealizadores e onde foi responsável pela criação do curso de Engenharia de Materiais, o primeiro do tipo na América Latina. A universidade deu início com ensinos de áreas pouco conhecidas na época como engenharia de materiais, computação e ecologia.
Por meio de nota, o diretor do IFSC da USP, Vanderlei Bagnato, lamentou a morte de Mascarenhas. “Estamos em profunda tristeza, perdemos um de nossos membros mais expressivos e responsável por grandes avanços da física brasileira. Não exageramos em dizer que foi um dos grandes responsáveis do crescimento cientifico de São Carlos e de muitos outros ao redor do Brasil”.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também divulgou uma nota de pesar. “Querido por todos, o Prof. Sérgio deixa um grande legado para a ciência brasileira, tendo mantido, sempre, um forte vínculo com o CNPq, como o apoio à criação e ao desenvolvimento do Centro de Memória da instituição.”