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Livraria Gato Sem Rabo abre as portas apenas com obras escritas por mulheres

Por Maria Fernanda Rodrigues

Primeira livraria do Brasil exclusiva para obras escritas por mulheres, a Gato Sem Rabo abriu suas portas para o público, na Avenida Amaral Gurgel, 338, em frente do Minhocão. A iniciativa é de Johanna Stein, ex-modelo formada em Artes Visuais que, mesmo sem conhecer nada ou ninguém do mercado editorial, decidiu se aventurar num negócio cujo modelo está em xeque. Se em 2018 as livrarias físicas eram responsáveis por 50,5% do faturamento das editoras, segundo a Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro, em 2019 esse índice caiu para 41,6% e, em 2020, para 30%.

Mas ela está otimista – e abertura de novas livrarias de rua é um movimento que está ocorrendo nas principais cidades do mundo (embora aqui, por ora, haja mais fechamentos). Johanna acredita que por não ter conhecimento dos modelos existentes, não saber exatamente como as outras livrarias funcionam, é que a Gato Sem Rabo já começa diferente. Ela teve uma consultoria profissional, claro, mas entende que o que vai fazer a diferença é justamente esse outro jeito de pensar. “A Gato Sem Rabo nasce de uma curadoria e do movimento que existe e é liderado pelos leitores – há uma demanda crescente de leitura de obras de mulheres e de outras perspectivas. Acredito que estamos muito mais próximos de um movimento pela leitura do que de um modelo de negócio de livraria”, diz a nova livreira, que acaba de completar 30 anos.

O nome foi tirado de Um Quarto Só Seu, texto de Virginia Woolf do final dos anos 1920, e Johanna conta que, para o acervo, considerou “os escritos de mulheres e os cruzamentos que essa definição abrange”. O objetivo, segundo ela, foi olhar para a produção do mercado editorial brasileiro a partir de uma perspectiva que não a do homem branco ocidental privilegiado. “Um olhar a partir dessas outras perspectivas: de mulheres, corpos dissidentes, não binários, do Sul global, principalmente. A ideia é trazer para a livraria justamente o que seriam esses gatos sem rabo, todos aqueles animais que fogem do cânone universal”, explica – e diz que o mercado editorial sempre privilegiou a autoria masculina. Com a livraria, ela espera ajudar a dar maior visibilidade a essas autoras.

Mas a Gato Sem Rabo não é uma livraria de nicho. Há ali todos os gêneros e assuntos. Entrando, o leitor encontra, à esquerda, poesia, ficção, conto e crônica. Depois tem um canto para as crianças. Outro para a geração Z, com leituras jovens. Na sequência, arte e livros de artistas e então uma seção mais ampla, chamada de Humanidades. Ela tem 65 m² e cerca de 1.700 títulos de 650 escritoras publicados por quase 200 editoras. Haverá também um café, e a ideia é realizar conversas sobre livros presencialmente na livraria, quando for mais seguro por causa da pandemia.

Já era para ela estar funcionando, mas a inauguração precisou ser adiada algumas vezes. De março para cá, quando se começou a falar na Gato Sem Rabo – a coluna Babel foi a primeira a noticiar o novo negócio -, a livraria ganhou nada menos que 9 mil seguidores no Instagram. Em maio, ela começou a organizar esses debates – quinzenais e online. Os dois primeiros “circuitos” foram sobre Virginia Woolf.

Na semana passada, quando precisou adiar mais uma vez a abertura porque as estantes não estavam prontas, Johanna resolveu que começaria a atender o público por WhatsApp e se surpreendeu com a procura no primeiro dia. Os dois primeiros livros vendidos foram Eisejuaz, de Sara Gallardo (1931-1988), publicado pela Relicário, e Ética do Amor Livre: Guia Prático Para Poliamor, Relacionamentos Abertos e Outras Liberdades, de Janet W. Hardy e Dossie Easton, editado pela Elefante.

A livraria vai funcionar de terça a sábado, das 11h às 17h. Quem preferir receber em casa, as entregas são feitas duas vezes por semana, pela Señoritas Courier.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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