Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) anunciaram nesta terça-feira, 25 de maio, a descoberta de uma nova variante do coronavírus, em amostras coletadas no município de Porto Ferreira. Batizada como P.4, por derivar da mesma linhagem que deu origem à P.1, identificada inicialmente em Manaus (AM), a nova cepa já foi encontrada em amostras de outras 20 cidades do Estado de São Paulo.
“A primeira coisa que percebemos foi a mutação L452R, na proteína spike (espícula) do vírus. Então, analisamos outras sequências já decodificadas do banco de dados e verificamos que esta poderia ser uma nova variante”, explica Cintia Bittar, pesquisadora virologista da Unesp e membro da Rede Corona Ômica BR.
Ela conta que, após identificada a mutação no último dia 4, a amostra foi submetida à análise em uma plataforma internacional, que reúne sequenciamentos realizados no mundo todo com o objetivo de identificar e monitorar o surgimento de novas variantes. Após fazerem novas investigações, o grupo da Unesp identificou que essa nova cepa vinha da B.1.1.28, a mesma linhagem que deu origem à P.1, identificada inicialmente em Manaus.
Entre o último dia 4 e esta terça-feira, a variante foi batizada como P.4 e encontrada em amostras de outros 20 municípios do Estado de São Paulo. Segundo a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), a nova variante tem circulado na região das cidades paulistas de Mococa, Caconde e Itapira (próximas da divisa com Minas Gerais) e também em Descalvado, Itirapina, Capão Bonito, São Miguel Arcanjo, Itapetininga, Iperó e Cesário Lange.
De acordo com Cintia, pelo menos a cidade de Porto Ferreira já estaria com essa cepa circulando livremente. “Comparamos a nossa amostra com outras sequências do banco de dados e já existia essa variante em outras cidades de São Paulo”, explica a pesquisadora. Ela também afirma que a P.4 apresenta alterações similares à B.1.617, identificada inicialmente na Índia.
“É a mesma mutação em uma região importante do vírus, também encontrada na variante indiana, apesar de elas não estarem relacionadas, e que causa uma redução no reconhecimento do vírus pelos anticorpos.” Cíntia frisa que ainda é cedo para afirmar se a P.4 é mais transmissível ou letal do que o vírus original.
Ela afirma também que, até o momento, as vacinas disponíveis já apresentaram alguma eficácia contra as variantes descobertas, mas alerta: “Estamos vendo ainda que a circulação da variante está aumentando em Porto Ferreira. Essa é uma mutação considerada importante”.
De acordo com a pesquisadora, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCIT) e a prefeitura de Porto Ferreira foram informados sobre a descoberta no último dia 4. “Nosso objetivo é identificar as mutações no começo e tentar evitar que essa variante esteja no mundo inteiro, como aconteceu com a P.1. Se esperarmos para decidir se ela é ruim ou não, pode ser tarde demais.”