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‘Cruella’ mostra como a personagem de ‘101 Dálmatas’ se tornou má

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

A Madrasta da Branca de Neve queria matá-la apenas porque um espelho disse que ela tinha deixado de ser a mais bonita do reino. A Madrasta da Cinderela também a castiga por causa de sua beleza. Um vilão – em geral, uma vilã – nos contos de fada e nos desenhos da Disney raramente teve chance de ser mais do que mau como o Pica-Pau. Isso até o lançamento de Malévola. Ali, a bruxa que amaldiçoava a princesa Aurora se transformava em uma fada incompreendida. Seu sucesso certamente abriu caminho para a pior de todas as vilãs, aquela fútil o bastante para querer sequestrar filhotes de dálmata para confeccionar um casaco de pele.

E assim Cruella, de Craig Gillespie, chega aos cinemas e ao Disney+ com Premier Access (custo adicional mesmo para quem é assinante), na quinta-feira, 27. “Os vilões são divertidos de retratar, porque têm licença para fazer coisas que não são apropriadas, criando esses personagens extravagantes”, disse o diretor, que teve sua experiência com “vilãs” em Eu, Tonya, sobre a patinadora artística Tonya Harding, em entrevista coletiva, por videoconferência.

“Sou brilhante, má e um pouco maluca”, diz Cruella, interpretada por Emma Stone, em determinado momento do filme, que se passa na Londres dos anos 1970. Mas, até ali, o espectador já acompanhou toda a jornada da personagem, a partir da pequena Estella (Tipper Seifert-Cleveland), uma garotinha rebelde de cabelo bicolor que perde a mãe logo cedo. Chegando sozinha a Londres, ela arruma como companheiros os igualmente órfãos Horace (Joseph MacDonald) e Jasper (Ziggy Gardner).

Na fase adulta, os três, agora interpretados por Stone, Paul Walter Hauser e Joel Fry, praticam roubos cada vez mais elaborados. Até que Jasper vê um anúncio de emprego na loja Liberty. Estella, que sempre quis mexer com moda, começa de baixo, limpando banheiros. Numa noite de frustração e bebedeira, refaz a vitrine da butique, chamando a atenção da Baronesa (Emma Thompson), a maior estilista da época, que a contrata. Não demora, e uma rivalidade feroz se estabelece entre as duas quando o passado vem à tona e provoca desejo de vingança em Estella. Assim nasce Cruella. “Nenhum ser humano sai pelo mundo achando que é um vilão, que é mau”, disse Emma Stone por videoconferência. “É uma história de natureza versus criação. Sua volatilidade, considerada um defeito por sua mãe, torna-se sua força por meio de sua criatividade e genialidade. É um filme sobre como suas fraquezas se tornam suas fortalezas, de certo modo.”

Se a Cruella da animação clássica 101 Dálmatas (1961), de Clyde Geronimi, Hamilton Luske e Wolfgang Reitherman, e do “live action” de 1996, com Glenn Close, parece má, espere até conhecer a Baronesa, toda trabalhada na rigidez e na frieza. “Eu tenho muito interesse no lado sombrio de uma personagem feminina, porque raramente as mulheres têm permissão de serem sombrias. Sempre temos de ser fofas e boas”, disse Emma Thompson na coletiva. Mas a Baronesa também apresenta suas razões para agir como age, dizendo que, se não tivesse sido focada, teria de engavetar seu talento, como tantas outras mulheres da época – e de hoje. “E ela não deixa de ter razão. Eu não faria o que ela faz para conseguir seu espaço, mas acho que tem algo de admirável seu compromisso com sua criatividade”, afirmou Thompson.

Emma Stone também declarou ter preferência por Cruella sobre Estella. “Cruella tem aceitação completa de quem é e da sua autonomia”, disse a atriz. Para o ator Mark Strong, que interpretou sua cota de vilões e vive aqui John, o valete da Baronesa, esse tipo de personagem é muito mais bacana de interpretar. “Porque você pode fazer coisas que não faria na vida real”, disse ele em entrevista ao Estadão. Aqui, há a raridade de serem duas as mulheres nessa posição. “E por que elas não podem se divertir com esse tipo de papel? Eu tinha total consciência de que se tratava de um longa protagonizado por duas mulheres, e tudo bem para mim. Quanto mais produções assim, melhor.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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