Reeleito para seu segundo mandato com 2.282 votos Renato Zucoloto (PP) tem como um de seus principais focos a legalidade, seja em relação às propostas que ele próprio apresenta, nas de outros parlamentares e do Executivo. Bacharel em Direito com especialização em várias áreas, em 2016, quando foi eleito para o seu primeiro mandato Zucoloto recebeu 1.980 votos. Considerado nos meios políticos como virtual candidato a presidência da Câmara em 2022 – fala-se, inclusive que um acordo entre os vereadores que compõem o grupo majoritário naquela Casa de Leis já teria selado sua vitória – Zucoloto prefere a cautela ao comentar o assunto. “Já manifestei meu desejo de ser presidente, e se for da vontade da maioria posso chegar lá. Meu nome foi visto com simpatia por alguns, mas o caminho até aquela cadeira é longo e cheio de percalços. Na política, sabemos que não podemos contar com vitória antecipada. Isso as próprias urnas nos mostram”.
Tribuna Ribeirão – O senhor está em seu segundo mandato parlamentar. Como avalia sua reeleição nas eleições municipais do ano passado?
Renato Zucoloto – A política atualmente está muito polarizada, o que terminou refletindo nas eleições. Não bastasse esse fator, a mudança de legislação vedou coligações e fez com que os partidos lançassem chapas puras com muitos candidatos, o que tornou a eleição ainda mais difícil. Basta ver que vários colegas da legislatura passada não conseguiram voltar. Somado a todos esses fatores, ainda temos a descrença dos eleitores nos políticos, o que fez com que aumentasse ainda mais o número de abstenções e votos nulos. Posso dizer que minha reeleição foi muito comemorada e mostrou que é possível fazer política de uma forma diferente.
Tribuna Ribeirão – A pandemia do coronavírus mudou o jeito de se fazer campanha em função do distanciamento social. Como o senhor fez para chegar ao seu eleitorado?
Renato Zucoloto – Acredito que fizemos um bom trabalho no primeiro mandato, fazendo com que eu fosse um dos três vereadores que cresceram votação na reeleição. Durante a campanha eleitoral, não menti e não prometi nada que não pudesse realizar. Participei de debates virtuais e creio que essas novas ferramentas foram fundamentais para que minha mensagem chegasse à população. Em que pese eu não ter um nicho, tive um aumento de minha votação em todos os bairros, o que se de um lado me deixa muito feliz, de outro, acentua ainda mais a minha responsabilidade na condução do meu trabalho.
Tribuna Ribeirão – Em sua opinião o que um vereador precisa fazer para fazer seu trabalho chegar até a população considerando que o distanciamento social imposto pela pandemia do coronavírus mudou a forma deste relacionamento que, regra geral, era baseado no contato pessoal?
Renato Zucoloto – O distanciamento social aumentou significativamente a demanda do vereador. Temos visto que a economia sofreu um colapso e muitas pessoas que nunca imaginaram precisar de alguma ajuda, se viram diante dessa necessidade. Desta maneira, eu não parei o meu trabalho em nenhum momento, apenas mudando um pouco a forma de chegar até os cidadãos, seja através das redes sociais, reuniões por videoconferência ou ainda pessoalmente quando necessário chegar em pessoas mais vulneráveis que sequer tinham acesso a essas ferramentas.
Tribuna Ribeirão – O seu partido faz parte da base de apoio do prefeito Duarte Nogueira. O senhor apoia o prefeito e que avaliação o senhor faz da atual gestão dele até agora?
Renato Zucoloto – O partido apoiou, de fato, a reeleição do atual prefeito e eu, não somente apoiei a primeira gestão de Duarte Nogueira como também acompanhei suas ações e medidas. Entendi como correta a administração dos recursos orçamentários e observei que as prioridades foram atendidas, principalmente as ações para o reequilíbrio das contas públicas e o combate austero aos despautérios cometidos pela administração anterior que endividou sobremaneira o erário público, virando caso de polícia. É preciso levar em consideração que a pandemia também trouxe um fato novo e que, de certa forma, fez com que houvesse a necessidade de novas medidas para reequilíbrio das contas públicas, em que pese a ajuda dos governos Estadual e Federal.
Tribuna Ribeirão – A Câmara aprovou este ano vários projetos de lei criando a reforma administrativa na Prefeitura de Ribeirão. A reforma era necessária?
Renato Zucoloto – Essas reformas se tornaram obrigatórias, em decorrência de ordem judicial. Foram anos editando leis sem critérios técnicos e que um dia foram julgadas inconstitucionais pelo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que modulando os efeitos do julgado, deu prazo para que a Prefeitura reorganizasse os seus quadros. Como reza a Lei Orgânica, é uma competência privativa do Executivo e acredito que a Câmara Municipal não se furtou a estudar e a votar o projeto, ainda que bastante polêmico.
Tribuna Ribeirão – O senhor é considerado um parlamentar que conhece bastante os trâmites legislativos e as leis. Que avalição faz da judicialização do projeto de lei aprovado pelos vereadores que extingue o Daerp e cria a Secretaria Municipal de Água e Esgotos?
Renato Zucoloto – Penso que a judicialização da política seja um caminho perigoso. O prefeito foi eleito no voto, e o seu projeto político vitorioso nas urnas. Assim o foro adequado para as discussões políticas é o plenário da Câmara. O ajuizamento de ações para questionamento da lei em tese, isto é, antes de promulgada não é um movimento pacífico, tanto assim que duas outras ações nos mesmos moldes não tiveram êxito no Judiciário. Em que pese a decisão ter sido proferida em primeiro grau e mantida em segundo, estou convicto de que o processo legislativo estava correto.
Tribuna Ribeirão – A Prefeitura de Ribeirão tem enfrentado problemas com obras paralisadas em função de empresas vencedoras de algumas licitações, estarem querendo aditamento no valor dos contratos. Ao definir o menor preço como um dos principais requisitos para se vencer uma licitação, a Lei Federal de Licitação não incentiva este tipo de problema, já que para vencer as empresas oferecem um valor bem baixo apostando que os contratos terão aditamento de valor?
Renato Zucoloto – Essa pergunta é um tanto complexa, principalmente porque, se tem notícias de escândalos em processos licitatórios, aditamentos de valores exorbitantes e sem critérios e práticas de crimes, como o desvio de verbas públicas. Ocorre que o processo licitatório era regido por legislação de quase 30 anos atrás (Lei nº 8.666/93) e que sofreu modificações recentes, com o advento da Lei nº 14.133/2021. A empresa licitante, seja em que modalidade for, participa e vence um processo dentro de regras e princípios, inclusive do ‘reequilíbrio econômico’. Esse princípio permite que seja aditado o valor do contrato, em situações específicas, imprevistas, como as recentes alterações da economia, fruto da pandemia do Coronavírus. É indiscutível que os preços aumentaram sobremaneira e, que não há oferta de matéria prima e insumos de forma a suprir as necessidades de mercado. Portanto, em caso de comprovação de desequilíbrio econômico, devidamente analisado e com parecer do Jurídico da Administração Pública, não há motivos para que não sejam aditados os valores e que as obras retomem os seus regulares cursos, até porque, obra parada é sinônimo de ‘dor de cabeça’, de congestionamentos, de acidentes e de prejuízos à população.
Tribuna Ribeirão – Nos meios políticos fala-se da existência de um acordo para elegê-lo como presidente da Câmara em 2022. Isso é verdade?
Renato Zucoloto – Essa Câmara já mostrou maturidade na discussão de várias questões e sendo um colegiado plural, é natural que haja diferentes grupos políticos em sua composição. Assim, no primeiro ano da atual legislatura um grupo de vereadores reuniu-se e elegeu o atual presidente [Alessandro] Maraca que, no meu entender, vem fazendo uma excelente administração, me coloquei à disposição para esse grupo junto com outros colegas. Meu nome foi visto com simpatia por alguns, mas o caminho até aquela cadeira é longo e cheio de percalços. Na política, sabemos que não podemos contar com vitória antecipada. Isso as próprias urnas nos mostram. Já manifestei meu desejo de ser Presidente, e se for da vontade da maioria posso chegar lá. As tratativas passam por outros nomes, para o próximo ano, e tenho plena certeza que todos os 22 vereadores, eleitos pelo voto direto e soberano, teriam condições de se candidatar e que seria legítimo o pleito.
Tribuna Ribeirão – Como presidente da Câmara quais seriam suas prioridades?
Renato Zucoloto – É muito difícil fazer esse prognóstico diante de um cenário imprevisível e futuro. Mas se pudesse contar com o voto e a confiança dos colegas, a ideia é fazer uma gestão plural, com a participação da Mesa analisando o que fora feito nos anos anteriores para que houvesse uma continuidade na gestão dos recursos financeiros. A reforma do prédio antigo e a reforma administrativa com a modernização da gestão pública são pontos que me sensibilizam. A criação de um departamento de auditoria contábil e de uma Procuradoria Jurídica também não passariam ao largo daquilo que penso.
Tribuna Ribeirão – Qual avaliação o senhor faz do presidente Bolsonaro e do governador João Doria na condução das ações contra ao coronavírus?
Renato Zucoloto – O Brasil é um país abençoado e por isso não tem uma cultura de enfrentamento de problemas e catástrofes naturais. Me parece que a par de termos tido dificuldades no enfrentamento da pandemia, ainda tivemos um complicador político que foram as vozes dissonantes, pois os entes federativos, União, Estados e Munícipios não tiveram no Ministério da Saúde, como unificador de políticas públicas. Insistiu em um tratamento não comprovado cientificamente que em nenhum lugar do mundo foi recomendado, e negligenciou tratamentos tidos como eficazes no enfrentamento da covid-19. O Plano São Paulo se mostrou ineficaz em muitas circunstâncias, abriu quando não podia, fechou quando não devia. Em síntese, o Brasil apanhou mais que outros países que também não tinham a mesma expertise no combate a Pandemia, mas fizeram escolhas melhores. O resultado é catastrófico, já que caminhamos para 500 mil mortes. Não superamos a pandemia. A polarização chegou ao seu enfrentamento e a sociedade ainda não se conscientizou de que é preciso responsabilidade no seu enfrentamento, somados ao fato de que os investimentos em leitos hospitalares não se mostraram suficientes a permitir o tratamento de todos os que precisam de internação. A soma desses dois fatores está cada vez mais assombrando a população.
Tribuna Ribeirão – Quais são as suas prioridades neste mandato?
Renato Zucoloto – É preciso que a Administração tenha os olhos voltados às camadas mais vulneráveis de nossa população, especialmente nesse período de pandemia. Tinha um propósito nesse segundo mandato e já nos primeiros meses conseguimos ser o mediador em uma parceria entre a Prefeitura e a Comunidade Missionária Divina Misericórdia, para atendimento a pessoas de rua, um público extremamente vulnerável e que no meu entender não teve um cuidado na administração anterior. Essa entidade tem expertise em outras cidades e em dois meses já mostrou um serviço que tem sido diferenciado junto ao público mencionado. Também é preciso ter um olhar diferenciado para empreendedores que querem trazer investimentos para nossa cidade. Não temos uma política atrativa que incentive a vinda de novos investimentos em nosso município. Impostos, empregos e renda é tudo o que a cidade precisa em um momento como esse de retomada da economia. Para terminar, essa legislatura votará importantes projetos que regulamentam o nosso Plano Diretor, o que deve fazer com que tenhamos bastante responsabilidade na análise dessas leis, especialmente na Lei de Parcelamento Uso e Ocupação do Solo, que afeta direta ou indiretamente todos os moradores de nosso munícipio. Agradeço o espaço concedido e sonho com uma sociedade mais inclusiva, próspera e fraterna, esperando que o exercício de minha função pública, contribua de forma decisiva para que um dia tenhamos esse ideal alcançado. Ano que vem teremos eleições, razão pela qual faço votos que tenhamos uma campanha propositiva e não palco de discussões e brigas ideológicas, que não levam a construção e fortalecimento de nossa Democracia.