Os primeiros mosquitos geneticamente modificados levantaram voo no vilarejo de Islamorada, localizado nas Ilhas Keys, sul do estado da Flórida, nos Estados Unidos. Depois de um longo debate, a empresa britânica de biotecnologia Oxitec liberou as muriçocas para tentar controlar a população invasora de Aedes aegypti, que vem espalhando dengue e a Zika. na região.
Os mosquitos transgênicos são machos e já estão em idade de acasalamento. Eles cresceram a partir de ovos colocados em caixas hexagonais do tamanho de torradeiras em casas suburbanas no final de abril. Monitores do experimento confirmaram o amadurecimento dos pernilongos. Agora, os animais vão encontrar as fêmeas de Aedes aegypti.
Os insetos da Oxitec carregam complementos genéticos que bloqueiam o desenvolvimento nas fêmeas. Assim, nenhuma larva fêmea deve sobreviver até a idade adulta na natureza. Metade dos mosquitos filhotes do sexo masculino liberados carregam a característica de matar as filhas. Isso porque são as fêmeas que transmitem as doenças. A outra parte vai gerar famílias normais de carapanãs.
Se tudo acontecer como planejado, até 12 mil mosquitos geneticamente modificados vão alçar voo por 12 semanas, inicialmente. Casas da região, longe dos nascedouros dos insetos, vão hospedar armadilhas para monitorar os mosquitos. Depois, mais lançamentos das muriçocas podem colocar até 20 milhões dos bichos no ar até o outono do Hemisfério Norte.
Projeto polêmico
O plano da Oxitec foi aprovado em 2020, pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) por meio de uma autorização especial. A decisão se destacou porque a agência nunca pediu que a Oxitec realizasse testes em gaiola, experimentos que mostrariam como os mosquitos modificados se saem em ambiente controlado. Isso ajudaria a revelar problemas antes que eles tenham a oportunidade de causar danos reais.
Também não há exigência para avaliar se o experimento realmente levará a uma redução na transmissão de doenças ou se causará impactos no ecossistema. O processo regulatório também foi omisso aos olhos do público. Só duas páginas da documentação foram disponibilizadas no site da EPA.
A Oxitec, em contato com a reportagem do Olhar Digital, explicou alguns pontos:
- A solução biológica desenvolvida pela Oxitec para auxiliar populações de todo o mundo no controle ao mosquito Aedes aegypti, vetor responsável pela transmissão da dengue, zika e chikungunya, recebeu a aprovação unânime de sete departamentos e agências do Estado da Flórida (EUA) para que o projeto-piloto fosse realizado no arquipélago de Florida Keys.
- Entre as instâncias de aprovação norte-americanas estão a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) e o Departamento de Agricultura e Serviços ao Consumidor da Flórida (FDACS), após avaliação de risco completa;
- Esta solução já é aprovada no Brasil pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, desde 25 de maio de 2020, e projetos-piloto semelhantes a este estão em curso no Brasil há 11 anos.
- Atualmente, a tecnologia do Aedes do BemTM, já em sua segunda geração, está em funcionamento na cidade de Indaiatuba (SP), onde apresenta eficácia de 95% no controle de mosquitos (diminuição da população do Aedes aegypti) e plena segurança ao meio ambiente, às pessoas e aos animais, associado a outros programas integrados de manejo de pragas. Para mais informações, acesse: https://www.oxitec.com/br/indaiatuba e https://www.oxitec.com/br/nossa-tecnologia
- Entre 2013 e 2015, a primeira geração da tecnologia também foi utilizada no combate ao mosquito no município de Piracicaba (SP), atingindo o mesmo patamar de eficácia. Neste momento, a Oxitec e a Prefeitura de Piracicaba conversam para retomar o uso da tecnologia a partir de outubro deste ano.
- Mais de 100 estudos, revisados por pares, foram publicados sobre a tecnologia da Oxitec, fornecendo uma base científica sólida e que comprova a sua eficácia, sustentabilidade e compromisso à resolução de uma importante questão de saúde pública;
- A Oxitec afirma que a tecnologia Aedes do Bem pode ser usada como parte de programas integrados de manejo de pragas, podendo coexistir com outras soluções.
Via: Science News