Por Rodrigo Fonseca, especial para o Estadão
Espécie de Rambo em versão zumbi, cuja barriga ronca por justiça e não por carne humana, Penitente é a mais nova aquisição do cinema brasileiro no sonho de fincar os pés na milionária seara dos filmes baseados em quadrinhos, três anos após a experiência de O Doutrinador.
Mas uma das diferenças básicas entre os dois é não haver cargas políticas tão explícitas no vingador de lenço vermelho criado pelo quadrinista Lorde Lobo, já contratado pelo produtor Luiz Pereira para ganhar as salas de exibição. Em uma recente live no canal do YouTube Fanitoverso, um dos mais concorridos do setor de HQ, Pereira falou do projeto de privilegiar o anti-herói. Pelo menos na web, o assassino de aluguel que volta do além com a tarefa de “salvar setenta vezes sete vezes o número de vítimas inocentes que executou”, segundo determinou uma entidade que se intitula Deus.
“Mesmo trabalhando com um gênero cheio de clichês, que é o dos super-heróis, tento abordar algo diferente, pois o meu universo gráfico, o Sacroverso, bebe muito da fonte do terror”, explica Lorde Lobo, artista gráfico gaúcho, de 48 anos, que, de 2001 a 2006, ao lado do quadrinista Law Tissot, editou a revista independente de histórias em quadrinhos Areia Hostil, eleita a melhor zine de 2005, durante o 18º HQ Mix, o Oscar nacional de gibis.
“Tento misturar os dois gêneros, principalmente nas HQs do Penitente. Por lá, as coisas não são como costumam ser nos universos heroicos tradicionais, com protagonistas bonitões e vilões feios. Para começo de conversa, nem gosto de definir meus personagens como heróis e vilões, uma vez que meu protagonista, o Penitente, era um dos piores seres a pisar na Terra. Ele era um assassino profissional extremamente frio, quando vivo. Tanto é que um grande inimigo do Penitente será o Próspero, que é o super-herói oficial da cidade de Nova Virtude, principal cenário de suas aventuras”, comenta.
Pereira ainda não escolheu elenco nem direção para versão de Penitente, mas já tem em mãos outras adaptações de HQs, como Velta, uma espécie de Mulher-Maravilha nacional. Está de olho ainda em outra vigilante do universo de Lorde Lobo, Lady Lâmina, uma trans, especialista em facas, que combate o crime em Nova Virtude. Circula ainda por essa Gotham City tupiniquim o Pitboy, uma espécie de Demolidor que busca vingança pela morte de seus filhos, cujos agressores ficaram impunes pela inadimplência judicial. Se os heróis são assim, tão cercados de realismo, o que dizer dos vilões de Lobo?
“Nem sempre há vilões, mas sim oponentes. No caso do Penitente, além do Próspero (um herói baseado na tecnologia), ele vai enfrentar o São Redentor, um homem que enlouqueceu por meio de uma fé deturpada. Tem ainda o Duplo, um pretenso líder do crime, com uma condição física um tanto diferente, provocada por um anabolizante que afetou apenas metade do seu corpo. Temos ainda a Madame Mortalha, bruxa que se alimenta de mortos, absorvendo suas capacidades de quando vivos. Tem o Dracco, um ex-militar que adquiriu a capacidade de se transformar em um homem-dragão de pele azul”, enumera Lorde Lobo, soltando toda a sua imaginação em prol de uma fauna tipicamente brasileira de quadrinhos, congregando talentos de todo o País. “As primeiras aventuras do Penitente foram escritas por mim. O primeiro desenhista a acreditar no personagem foi o pernambucano Nel Angeiras. Já o roteirista que veio depois de mim foi o cearense Edvanio Pontes. Depois deles, muitos e muitos outros já se juntaram ao time do Zumbizão, como o Penitente é chamado por seus fãs.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.