Sérgio Roxo da Fonseca *
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O Rio de Janeiro era conhecido como “Cidade das Mortes” no final do século XIX tantas eram suas epidemias, tantas eram as suas desordens urbanas.
O Presidente Rodrigues Alves enfrentou os problemas, valendo-se principalmente do trabalho intenso de dois homens, a saber: a) Oswaldo Cruz que dirigiu a guerra contra as doenças, inaugurando a política de vacinação obrigatória, contra a manifestação dos mais famosos juristas de então, enfrentando até mesmo a rebelião de alguns militares; b) e também nomeando prefeito o engenheiro Pereira Passos, conhecido como “Bota-a baixo”. Bota-a baixo procurou aplicar no Brasil as visões de Haussmann, advogado francês, que deu nova face à cidade de Paris, após quase 20 anos sob sua administração.
Rodrigues Alves, tendo ao seu lado Oswaldo Cruz, venceu a luta contra as epidemias cariocas, estendendo, em seguida esta política pelo interior do Brasil. Submeteu as regiões urbanas à fiscalização dos “mata-mosquitos” que mensalmente visitavam os prédios residenciais, buscando impedir a propagação de doenças. Surpreende ouvir em nossos dias o Presidente da República afirmar que o censo deve ser cancelado, como foi, para evitar a propagação do “covid”! O nosso Presidente ainda não ouviu a voz dos paulistas Rodrigues Alves e de Oswaldo Cruz…
Analistas dos nossos tempos afirmam que, se já houvesse sido implantado o Prêmio Nobel naquela época, Oswaldo Cruz, seguramente, seria o primeiro brasileiro historicamente agraciado pelos suecos.
O Prefeito Bota abaixo, ou seja, Pereira Passos, esteve várias vezes na França e na Suíça. Faleceu a bordo de um navio viajando para a Europa. Bem ou mal tentou transformar o Rio de Janeiro aplicando a ótica de Haussmann como construindo estradas de ferroem São Paulo impulsionado pela produção do café.
Cometeu muitos acertos e alguns erros históricos. Administrando o Rio de Janeiro, resolveu acabar com todos os “cortiços”, pondo abaixo até mesmo o Morro do Castelo, que ficava na região central da cidade, base de vários “cortiços”. Os cortiços multiplicaram-se pelo Brasil por razões econômicas.
O Morro do Castelo foi posto abaixo e em seu lugar foi aberta a Esplanada do Castelo. Ali hoje está a Assembleia Legislativa. Os moradores dos cortiços foram despejados para um morro existente para os lados da região portuária. Sem eira e nem beira!
Muitas são as versões para o acontecimento. Uma delas afirma que o morro era coberto por “favas”, daí resultando o vocábulo “favela”, que, infelizmente expandiu-se pela Cidade da Morte que na época passou a ser conhecida como “Cidade Maravilhosa”.
Na época, sob a influência da França, muitas grandes cidades resolveram construir um Arco do Triunfo ou abrir uma avenida semelhante à dos Campos Elíseos. O Porta-a baixo, após derrubar o Morro do Castelo rasgou uma avenida do centro do Rio, tomando como base inicial o antigo prédio do Senado, hoje já destruído, finalizada na Praça Mauá, sem erro lateral nem de um centímetro. Foi batizada como Avenida Central e em seguida rebatizada como Avenida Rio Branco.
E os “cortiços” e as epidemias? Os cortiços também mudaram de nome, passaram a ser conhecidos como favelas. As doenças receberam um vasto apelido, para hoje serem conhecidas como epidemias e até mesmo como pandemias.
Espanta saber que o número de vítimas de moléstias e de favelas multiplicou-se pelos caminhos e descaminhos do Brasil, atingindo todo o seu território, sem que surja alguém como Rodrigues Alves, tendo como ministro um homem com o padrão de Oswaldo Cruz e um engenheiro da qualificação de Pereira Passos, este inspirado nos acertos do advogado francês Hausmann.
* Advogado, procurador de Justiça e professor livre-docente aposentado