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“Meio” médico é pior que nenhum

“Melhor meio médico do que nenhum”. Esta frase tem sido repetida por aqueles que defendem a absurda tese de trazer médicos estrangeiros para o Brasil sem avaliar seius conhecimentos e capaci­dades. Tornou-se ainda mais usada quando escrita pelo jornalis­ta Hélio Schwartsman em artigo escrito na “Folha de São Paulo”.

O desprezo com a qualidade foi tão forte que levou a Presidente do Centro Médico de Ribeirão Preto à época dos fatos, Dra. Cleusa Cascaes Dias, a cancelar sua assinatura, de muitos anos, daquele jornal. É realmente revoltante, para quem vivencia a medicina e suas mazelas no Brasil, ouvir e ler afirmativas tão equivocadas da parte de formadores de opinião. “Meio” médico não tem valor algum.

Ao contrário, tem valor negativo, pois é um agente perigoso, capaz de matar ou sequelar pessoas por desconhecimento de princípios básicos e incapacidade de procedimentos fundamen­tais. Este assunto demanda vários aspectos a serem discutidos. Vamos, hoje, nos fixar em dois.

O primeiro diz respeito à ideia, que tenta impingir à nação, de que nossos problemas de saúde são decorrência do baixo número de médicos, e, portanto, serão resolvidos com o sim­ples aumento de profissionais. Querem que se acredite que ao aumentar o número total de médicos resolveram o problema maior, que é o de sua distribuição. Não estão muito interessados em saber porque faltam médicos em centros pequenos e periféri­cos e sobram nos centros maiores.

Querem que se acredite que, em pleno século XXI, a medici­na continua exercida pelos heróicos médicos antepassados, que faziam o lhes era possível, sem auxiliares e sem equipamentos. Querem realmente para as populações periféricas a medicina com um século de atraso. Mas, pior ainda, medicina exercida por pessoas de qualificação tão duvidosa que eles não querem que sejam submetidos a exames de qualificação.

Não querem enxergar que a eficiência em um sistema de saúde pública não depende apenas de médicos, mas de uma estrutura multiprofissional (e não se ouviu falar nada sobre trazer do estrangeiro enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e tantos outros) e de uma organização do serviço de saúde pública, que inclua a existência de equipamentos básicos indispensáveis e um sistema de carreira que estimule os profissionais a escalarem degraus, como o que já existe em outras profissões.

De que adianta colocar um médico em uma pequena cidade e não dar a ele mínimas condições de trabalho, nem mesmo fios para suturas ou aparelhos modestos de RX? E ainda assim estamos pensando em um médico formado em Faculdade de Medicina autorizada e fiscalizada pelos ministérios “competentes”. O “com­petente” aqui vai entre aspas. E deve ser assim, pois, o que se pode dizer de ministérios que abrem mão da sua prerrogativa de fiscalização e do controle de qualidade, propondo a contratação de médicos estrangeiros, sem passar por exames de qualificação?

Na verdade isto mostra que não lhes interessa ter médicos intei­ros, “meio” médico basta. Parece que é isso que querem para a saúde dos brasileiros: números e não qualidade. Vale indicar que algumas faculdades de Medicina brasileiras formam tão mal quanto a maioria das escolas estrangeiras procuradas por brasileiros.

Por isso entendemos que o exame de qualificação deve ser feito por todos, formados no exterior ou no Brasil. Precisamos de médicos sim, mas de médicos bem formados. Precisamos também de autoridades que entendam que é fundamental dar condições para que os médicos “inteiros”, possam trabalhar em condições “inteiras” para o exercício profissional. Meio médico não serve. Também não serve trabalhar sem condições.

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