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Cultura

‘Confronting a Serial Killer’ recupera histórias de mulheres esquecidas

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

Quando a jornalista Jillian Lauren ouviu falar de Samuel Little, que estava preso pelo assassinato de três mulheres em Los Angeles, identificou-se com as vítimas. No passado, Lauren também sofreu violência doméstica e tentativa de assassinato por estrangulamento, o método usado por Little. Ela resolveu falar com o assassino e recuperar a história daquelas mulheres esquecidas. Acabou fazendo com que Little, que não admitia nem os crimes pelos quais tinha sido condenado, confessasse o ataque a outras 90 mulheres, um número que o torna o maior serial killer americano.

Lauren, que mora em Los Angeles com o marido Scott Shriner, baixista da banda Weezer, e os dois filhos adotados, publicou uma matéria na revista New York e atraiu a atenção de Joe Berlinger, que ficou famoso com o documentário O Paraíso Perdido: Assassinatos de Crianças em Robin Hood Hill (1996) e, mais recentemente, esteve envolvido com Conversando com um Serial Killer – Ted Bundy (2019), Jeffrey Epstein: Podre de Rico (2020) e Cena do Crime – Mistério e Morte no Hotel Cecil (2021). Assim nasceu Confronting a Serial Killer, série em cinco partes que está disponível na plataforma Starzplay.

“Eu fiquei fascinado que alguém com o passado de Jillian tivesse conseguido fazer esse cara confessar, um sujeito que atuou durante 40 anos e escapou inúmeras vezes da Justiça”, disse o diretor Joe Berlinger em entrevista ao Estadão. “Ninguém parecia muito preocupado em pegá-lo. E isso para mim joga luz sobre o preconceito sistêmico contra pessoas não brancas, mulheres, trabalhadoras do sexo. É inacreditável que ele tenha vivido tanto tempo solto. E, no fim, foram mulheres que reconquistaram a narrativa”, completou o diretor, referindo-se à detetive Mitzi Roberts, do Departamento de Polícia de Los Angeles, e à promotora Beth Silverman, que finalmente prenderam e conseguiram a condenação de Samuel Little, além de Jillian Lauren.

Durante décadas, Little acumulou uma extensa folha corrida, com roubos, estupros, tentativas de assassinato e assassinatos, sem nunca despertar a desconfiança de se tratar de um serial killer e sem que ele passasse muito tempo na prisão. A explicação é uma só: suas vítimas eram mulheres pobres, boa parte delas negras, viciadas em drogas e/ou trabalhadoras do sexo.

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