As grandes realizações do ser humano, sempre começaram com um sonho, que depois se materializou, portanto, estimular os sonhos desde tenra idade é o caminho para se construir uma sociedade solidária. O local ideal para se aprender a convivência social e a prática da cidadania – é a escola básica pública.
O Brasil é um país republicano, no entanto as bases republicanas, não permitem que haja segregação social no espaço público, mas a classe dominante, por tradição tinha que manter a velha segregação social, enão permitir que seus herdeiros compartilhassem o mesmo espaço escolar com os filhos de seus subalternos, e para isso criaram as escolas privadas, não abrindo mão do apoio financeiro imprescindível do erário. E assim a escola básica pública sem recursos suficientes passou a atender exclusivamente os filhos da classe trabalhadora.
Na visão dos governantes brasileiros, a educação básica para os filhos da classe trabalhadora, não poderia ser uma educação autônoma, pois isso criaria problemas de insubordinação e contestação do sistema vigente, e como o pensamento não tem fronteira, portanto, não permitir que a classe subalterna sonhe é o mantra dos dominadores.
O modelo de escola ideal para a classe trabalhadora foi concebido no final do século 19, baseado no modelo taylorista fordista, que aplicava as escolas os mesmos princípios fabris. O modelo da educação básica no Brasil foi bem definido, para dificultar ao máximo a integração social. O ensino básico era dividido em: Primário, Ginásio e o Secundário, que era dividido em quatro segmentos: Cientifico, Clássico, Normal e Contabilidade.
O Primário, também conhecido como grupo escolar era o espaço dos filhos dos trabalhadores pobres, tinha quatro anos de duração, mas a maioria dos estudantes não chegava ao terceiro ano, à necessidade de trabalhar para ajudar a família contribuía para a grande evasão escolar neste período. E com isso tínhamos nos anos 1940/50 quase 70% dos adultos analfabetos no Brasil. Para os que conseguiam terminar o Primário havia a barreira do programa de admissão, que era o vestibular para o acesso ao Ginásio, e como as vagas eram limitadas, a maioria ficava somente com o ensino Primário.
O alicerce da segregação social é matar os sonhos da classe trabalhadora no nascedouro. Até a segunda metade do século passado, o que mais os filhos dos pobres ouviam de seus pais e familiares era: “isso não é pra você, você tem que saber o seu lugar – deixa de ser sonhador”, e isso marcou diversas gerações. Mas não falavam por mal, achavam que estavam protegendo seus filhos do sofrimento, pois a maioria tinha os seus sonhos sufocados com medo da repressão que sempre foi e é violenta contra preto e pobre.
Por mais que haja ou tenha havido repressão contra sonhos e pensamentos livres, eles sempre se materializam de alguma maneira. O sonho de ter uma educação holística e uma escola acolhedora é antigo. Michel Montaigne (1533 – 1592) afirmava: “O mestre ideal, seria aquele que não sufocasse o aluno de conceitos memorísticos, mas, que deixasse o aluno descobrir por si, através de sutis observações, o que seria melhor para ele, e despertasse o sentido de curiosidade e de observação das coisas que cercam o estudante”.
No Brasil, este sonho veio de um grupo de educadores, que em 1932 publicaram o Manifesto da Escola Nova, que mostrava que era possível sonhar. Uma sociedade plural e solidária, só será possível tendo uma escola básica pública do século 21, sendo inspiradora, que fomenteos sonhos dos seus educandos, que seja um local de felicidade, que coloque em primeiro plano a história de vida de cada aluno, e depois os conteúdos curriculares. Não se constrói uma Nação com segregação, e fechando o caminho dos sonhos.