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1600 anos de La Serenissima

Quando os habitantes do nordeste da hoje Itália, refugiados nas inúmeras ilhas da Laguna de Veneza, no delta do rio Pó, fugindo dos ataques dos bárbaros que assolavam o Império Romano, ergue­ram uma pequena capela a São Giacometo, no dia 25 de março de 421, dia da Anunciação, não previram que estavam dando início à história de uma das mais lindas, misteriosas, poderosas e sedutoras cidades do mundo.

Veneza só se conhece quando se a vive. Perder-se nas suas ilhas, canais e pontes, no alvorecer, durante o dia ou quando começa a chegar a noite é uma experiência única. O marulho das águas desgastando constantemente suas casas e palácios, os gritos dos gondoleiros, o barulho dos passos dos que caminham em torno de seus canais misturam-se com o granido dos pássaros marítimos que se fundem à paisagem.

Meio surreal é ver que a vida se desenvolve nos pequenos ca­nais como se desenvolve numa cidade comum: são transportado­res de materiais de construção, padeiros levando seus produtos, verdureiros oferecendo seus verdes e mantimentos que transitam sobre as águas. Por isso, suas pontes são sempre em arco, para permitir o tráfego das gôndolas, típica embarcação de trabalho, de fundo chato, que romanticamente foi adaptada em transporte para turistas enamorados.

O apogeu da cidade se inicia a partir de 1204, quando durante a Quarta Cruzada, seus navios tomam Constantinopla e o Império é dividido entre Veneza e os Cruzados. O corpo doApóstolo São Mar­cos já havia sido trazido de Alexandria e inicia-se a soberba Basílica para abrigar a relíquia, substituindo construção anterior, menor e desproporcionada ao novo status da cidade: senhora do Mar Adriáti­co, centro comercial e político da Idade Média.

Se a cidade tem o Canal Grande, majestosa via ladeada por palácios e palacetes e cortada por vaporetos que servem de transpor­te coletivo e por onde se realizam as célebres regatas, também tem pequenos canaletos, cheios de charme e mistério. Perder-se por eles, observar a estranha e bela arquitetura da cidade é experiência que marca a vida do visitante.

O badalar dos sinos – e há sinos a valer na cidade, seja nos cam­panários das igrejas, seja nas torres para este fim edificadas, dá um toque etéreo nas tardes e noites quentes da Sereníssima. Parece um chamado constante para o divino, o imaterial, perdendo-se seus ecos nas nuvens vermelhas de seus poentes.

A queda do Império Romano do Oriente, em 1453, a chegada às Américas, em 1492 e a descoberta do caminho marítimo para as Índias, em 1498 começam a solapar o predomínio da cidade, deslo­cando as rotas comerciais que Veneza centralizava.

Tamanha riqueza medieval traz para a cidade uma enorme quantidade de obras de artes, construções originais, monumentos que a transformam hoje num grande centro artístico e cultu­ral. Os que querem beber de sua cultura têm uma miríade de escolhas, precisam passar horas e horas para conhecer tudo que Veneza oferece. O Paraíso, de Tintoretto, talvez a maior obra de arte conhecida, com seus 22 m por 7 m, dá uma dimensão do poderio da cidade.

Localizado no Salão do Grande Conselho e pintado no século XVI, presidiu por muito tempo as decisões dos dirigentes da cidade e de seu Doge. A vizinha Basílica de São Marcos, com seu altar do século X, formado por 250 painéis de ouro puro e maciço e encimada pelos cavalos de bronze, trazidos como lembrança da conquista de Constantinopla surpreendem e encantam o visitante.

1600 anos depois, Veneza é sonho de todo viajante, cidade que se oferece a ele com toda sua elegância, charme e sedução.

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