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Quem você será neste circo?

É bom recordar que o Dia Nacional do Circo foi escolhido em homenagem a Abelardo Pinto, o palhaço Piolin, maior de sua época, nascido no dia 27 de março de 1897, debaixo da lona de um circo armado na Rua Barão do Amazonas em Ribeirão Preto. Muito criativo, se destacava também pela habilidade como ginasta e equilibrista. Tornou-se mundial­mente famoso sendo homenageado durante a Semana de Arte Moderna de 1922. Quando os passeios estiveram liberados, uma ótima opção será visitar sua bela praça em frente ao Ribeirão Shopping.

Dizem que a arte circense era praticada na China, Grécia, Egito e Índia há quatro mil anos. Ganhou notoriedade na Roma Antiga que implantou a política do pão e circo, reali­zando alguns banquetes, distribuindo trigo aos pobres e pro­movendo espetáculos no Circo Maximus e depois no Coliseu, inclusive com gladiadores lutando entre si ou enfrentando animais ferozes. A desgraça alheia fazia com que esquecessem as próprias mazelas.

Já o circo moderno data de 1768, na Inglaterra e no Brasil foi introduzido por volta de 1830, tornando-se uma das mais importantes expressões culturais. Recordo como era legal comer pipoca e outras guloseimas assistindo àquelas atra­ções. Resistindo a modernidade e sem a utilização de animais adestrados, o circo precisou se adaptar econtinua sendo um espaço de encanto e de magia.

Em certas situações é comum as pessoas dizerem: “Se cercar vira hospício e se cobrir vira circo”. Já no clássico “So­nhos de um palhaço” gravado por Antônio Marcos e, também Vanusa, há um trecho que diz: “Ah, o mundo sempre foi um circo sem igual onde todos representam bem ou mal”. Então vamos entrar na brincadeira fazendo uma analogia com o cenário social e econômico em que vivemos.

Quando o apresentador avisar ao respeitável público que o espetáculo vai começar, quem será você neste circo? Talvez a primeira reação seja identificar-se com o palhaço, mas vou além, o brasileiro é por natureza um malabarista jogando para o ar as contas e impostos mensais e equilibrando com o salário reduzido. Faz contorcionismo para colocar o alimento de cada dia na mesa da família e precisa ser mais habilidoso que o trapezista para enfrentar o transporte coletivo lotado. As mulheres caminham na corda bamba trabalhando em dupla jornada, fugindo do assédio e da violência doméstica. Nossas estradas são mais perigosas que qualquer globo da morte e estamos mais expostos a uma bala perdida do que a assistente a um erro do atirador de facas.

Nas diversas esferas de poder encontramos ilusionistas que fazem o dinheiro público sumir diante de nossos olhos e observando as movimentações no Congresso Nacional, percebemos que não é só aquela mulher famosa deve botar as barbas de molho. Alguns mais do que de comer Gillette e vidros ou engolir espadas, acabam engolindo sapos e cuspin­do fogo. Resumindo, viver nos dias de hoje é só para os fortes como o halterofilista.

E então, neste circo de horrores que nosso país está se transformando, quem você será? Um dos protagonistas ou apenas mais um espectador que assiste a tudo sorrindo e aplaudindo efusivamente a desventura que pensa ser alheia?

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