Diariamente somos chamados a fazer opções. No trânsito procuramos escolher a melhor faixa e quando congestiona, buscamos outra. Na fila do supermercado também buscamos a menor e, muitas vezes, trocamos. Existem opções que são definitivas, não tem volta, mas na maioria das vezes, a estrada da vida proporciona um retorno logo à frente.
Muitos brasileiros são cristãos e tem na Bíblia seu guia de vida, embora não a sigam corretamente. Lá encontram histórias e ensinamentos interessantes. No paraíso homem e mulher foram orientados a comer qualquer fruto, exceto um. Eles fizeram a opção de seguir a serpente e o resultado foi a expulsão, além das outras penalidades.
Quando retornou da montanha com as tábuas da Lei, Moisés encontrou seu povo adorando a um bezerro de ouro e conclamou os que fossem do Senhor a segui-lo. Os filhos de Levi se juntaram a ele e seguiram rumo à Terra Prometida, enquanto os 3000 homens que fizeram outra escolha morreram. Antes da destruição de Sodoma e Gomorra, dois anjos orientaram Ló e sua família a partir, e disseram para que, no momento da fuga, não olhassem para trás, a esposa olhou e virou estátua de sal.
Ao longo da história, parte da humanidade manifestou uma inquietude e, diante de fatos e fenômenos, sentiu a necessidade de identificar, observar, pesquisar e explicar o que são e porque ocorrem, é a chamada ciência. Foi assim que dominou o fogo, inventou a roda e desenvolveu toda a parafernália tecnologia disponível atualmente. Não foi uma caminhada fácil e muitos encontraram a tortura e a morte, proporcionadas como último recurso dos céticos ou daqueles que teriam seus interesses prejudicados pelo crescimento do conhecimento.
Na adolescência aprendi a história do homem que tinha construído sua casa na baixada e, frente a uma grande chuva, começou a ser inundada. Diante de sua grande fé, começou a orar e pedir para Deus para cessar a chuva. Enquanto a chuva prosseguia ele recusou ajuda de um canoeiro, depois de uma lança e até de um helicóptero. Morreu afogado e, ao encontrar São Pedro, tentou reclamar a falta de ajuda divina. Indignado o santo respondeu que foi Deus quem tinha enviado as equipes de socorro recusadas por ele.
Vivendo a maior crise sanitária contemporânea, milhares de pessoas estão mobilizadas na busca da cura ou pelo menos no desenvolvimento de tecnologias capazes de arrefecer a disseminação e consequências do Covid-19. Outros milhares estão trabalhando na assistência, cuidando dos pacientes nos mais diversos serviços de saúde. Enquanto isso em proporção incrível cresce a onda negacionista que se contrapõem a tudo e busca uma improdutiva fuga da cruel realidade. Propositadamente disseminam notícias falsas, criam teorias conspiratórias e deturpam ensinamentos religiosos.
Negar a vacina, deixar de adotar as medidas profiláticas e preventivas é como comer o fruto proibido, cultuar o bezerro ou ficar olhando para trás até virar estátua de sal. Não é questão de fé é uma opção política que pode ser definitiva de seguir uma estrada que provavelmente não terá retorno.
Enquanto o número de infectados continua aumentando, os profissionais da saúde continuam colocando todos seus esforços e ferramentas disponíveis para salvar vidas e, a maioria, ao final da jornada de trabalho também curva a cabeça e dobra os joelhos buscando a ajuda divina, mas primeiro fazem sua parte com maestria. Diferente do homem da enchente, eles já compreenderam que ciência e fé não são inimigas.