A absorção da história de um país pela sua população, e não por uma pequena parcela, evita que erros graves do passado se repitam no presente. A história brasileira contada nos livros didáticos, não retrata o que aconteceu realmente – são histórias que foram construídas no final do século 19 para dar uma identidade ao regime Republicano que estava nascendo. Um país precisa de heróis nacionais para dar uma identidade para seu povo, e a elite cuidou para que isso acontecesse. Criaram heróis nacionais alicerçados nos heróis do romantismo, que só existiram no papel. Os movimentos literários retrataram e retratam a realidade do cotidiano brasileiro, mas como não temos uma população de leitores, as histórias dos livros didáticos permanecem.
O não conhecimento da própria história, nos leva a repetir os mesmos erros do passado, e a cada vez que isso acontece o retrocesso é maior. A República no Brasil começou com um golpe militar, passou pelo aristocratismo rural, por golpe militar de novo, que durou quinze anos, depois um pequeno período “democrático”, ai golpe militar de novo, desta vez durou vinte e um anos. A Constituição de 1988 colocou o Brasil no mapa mundial da democracia, mas como grande parcela da população estava acostumada com o sim senhor, não senhor, não entenderam o que significava a porta da gaiola aberta.
Os mais de trezentos anos de escravidão negra, e os regimes de exceção, que impuseram a população pobre um comportamento servil, que para se defender, e evitar, punições e castigos usaram o sofisma do negro doméstico que aparentemente se conformava com a escravidão para sobreviver. E essa população desvalida escondia as suas agrurasem baixo do manto da gentileza, hospitalidade e cordialidade. Acontece que a vida em sociedade está em constante transformação, só que os resquícios da servidão são difíceis de apagar, os versos do grande Gonzaguinha escancararam este comportamento “você deve rezar pelo bem do patrão, e esquecer que está desempregado, você merece, você merece”. E acabam repetindo os valores éticos e morais dos seus algozes.
A escola pública, que é por definição a formadora da cidadania, no entanto o seu sucateamento proposital não permitiu que as atrocidades dos regimes de exceção chegassem ao conhecimento dos educandos, e o que aprenderam sobre a ditadura militar foi através de familiares, muitos deles acostumados com o não senhor, sim senhor, que aceitavam a ditadura como coisa natural, até concorriam ao premio de operário padrão do ano, que era entregue sempre por um militar das Forças Armadas. O resultado desastroso da falta de conhecimento criou uma geração de analfabetos políticos, que apoia a volta da ditadura militar, que é um crime previsto na Constituição, mas eles não sabem disso.
Tudo que estamos passando no Brasil agora foi uma construção de décadas, que começou a tomar forma em 2013, quando alguns estudantes capacitados pela extrema direita, iniciaram um movimento, que a principio era contra o aumento da tarifa do ônibus, mas logo mostrou o seu verdadeiro motivo: atentar contra os poderes da República, e com a ajuda do Tio Sam, um movimento para destruir a nossa incipiente democracia foi desencadeado. Sob a batuta da elite branca e escravocrata, com o apoio da classe média que acha que é rica, e dos pobres desinformados, o golpe contra a classe trabalhadora foi consumado.
A Operação Lava Jato criou um clima de justiçamento e linchamento moral, jamais visto no Brasil, até os grandes ladravazes pintaram como heróis da salvação nacional, mas nada como um dia após o outro, aquela operação de heróis virou uma operação de bandidos. E esse clima de perseguição política, bandidagem e crimes na internet elegeu em 2018, o pior presidente da história do Brasil, um negacionista, racista, homofobico, com ligações explicitas com os milicianos do Rio de Janeiro, e segundo investigações é praticante contumaz de peculato quando era parlamentar, não bastasse isso essa figura tacanha já contribuiu para a morte de quase trezentos mil brasileiros.
“Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que arremessou hoje” (mitologia Iorubá).