Como estamos constatando, emergências em saúde pública afetam a saúde, a segurança e o bem-estar tanto dos indivíduos, quanto das comunidades, causando insegurança, confusão, isolamento emocional e estigmas, aos primeiros, e perda econômica, fechamento dos locais de trabalho e das escolas, falta de recursos para os atendimentos médicos e distribuição deficiente das necessidades, tal como o auxílio emergencial, para os segundos. Esses efeitos, entretanto, não se restringem a esses dois elementos, podendo, muitas vezes, refletir em grande amplitude de reações emocionais, como o estresse psicológico, a ansiedade, o medo, a depressão, a apatia e, até mesmo, em desordens psiquiátricas variadas, como ideações suicidas e abusos de bebidas alcoólicas e substâncias. Por adição, emergências de saúde pública que são, podem acarretar reações contrárias e não aderência às diretrizes de saúde pública, tais como o confinamento, o lockdown e a vacinação nas pessoas que contraíram a doença e na população em geral. Além disso, algumas pessoas podem ser mais vulneráveis que outras aos efeitos psicológicos das pandemias, o que faz com que esforços para a prevenção devem fornecer atendimento e suporte social para estes e outros grupos que estejam em maior risco para os desfechos adversos psicológicos.
No inicio da pandemia da Covid-19, logo após a mesma ter se espalhado da China para se tornar um problema de emergência em saúde pública mundial, os governos, na ausência de tratamentos eficazes, decretaram políticas que visavam reduzir as infecções através de intervenções não farmacológicas. Tais intervenções incluíram fechamento das escolas, fechamento dos serviços considerados não essenciais, como restaurantes e bares, e a proibição de aglomerações em praças esportivas, igrejas e lugares similares. Agora, ao longo da 2ª onda, foi decretado lockdown envolvendo fechamento de supermercados, padarias e paralisações de transporte público e campeonatos esportivos. Importante, as políticas de tais intervenções têm variado substancialmente de país para país, bem como, de nação para nação. Em países com dimensões continentais, como o Brasil, as intervenções têm sido diferentes de Estado para Estado.
No que concerne ao fechamento das escolas, entendendo que as crianças representavam um vetor significante para a disseminação da Covid-19, diferentes estados americanos, em março de 2020, fecharam suas portas, a despeito da falta de evidência suportando a eficácia dessa ação política em mitigar o espalhamento deste vírus. Para analisar o impacto do fechamento dessas escolas, ação adotada em todos os 50 estados norte-americanos, Auger e colaboradores (JAMA, 2020; 324 (9): 859-870) empreenderam estudo para determinar se o fechamento das mesmas e o momento em que isso ocorreu foi associado com a diminuição da Covid-19 e sua mortalidade. O estudo foi observacional e conduzido entre 9 de março a 7 de maio de 2020. Os Estados foram analisados em quartis (quatro partes iguais) baseados na incidência cumulativa neles ocorrida por 100.000 residentes no momento do fechamento das escolas.
Modelos foram usados para derivar as diferenças absolutas estimadas entre as escolas que fecharam e as escolas que permaneceram abertas, bem como, o número de casos e mortes, e se estados tinham escolas fechadas quando a incidência cumulativa da Covid-19 estava no quartil mais baixo comparado com o quartil mais alto.
Os principais desfechos analisados foram a incidência e mortalidade diária pela Covid-19 por 100.000 residentes de cada Estado. Importa saber que a incidência relativa cumulativa nos Estados, no momento do fechamento das escolas, variou de 0 a 14,75 casos por população de 100.000. Nestes casos, o fechamento das escolas foi associado com um declínio significativo na incidência da Covid-19 e da taxa de mortalidade. Por sua vez, ambas as associações foram mais elevadas em Estados com baixa incidência cumulativa de Covid-19 no momento do fechamento das escolas.
Análises minuciosas, então, permitiram aos autores estimarem que o fechamento das escolas, por ocasião da incidência cumulativa de Covid-19, estava no quartil mais baixo, inferior, comparado com o quartil mais elevado, associado com 128,7 menos casos por 100.000 habitantes, ao longo de 26 dias, e com 1,5 menos mortes por 100.000 habitantes, ao longo de 16 dias. Tomados juntos, estes dados e análises indicam que, no período estudado, o fechamento das escolas nos Estados Unidos foi temporariamente associado com uma diminuição na incidência da Covid-19 e com sua mortalidade. Estados que fecharam suas escolas mais cedo, quando a incidência cumulativa de Covid-19 era baixa, tiveram uma redução relativa mais alta na incidência e mortalidade. Não obstante, os autores chamam a atenção para o fato de que alguma parte desta redução pode ter estado relacionada à outras intervenções não farmacológicas concorrente.