A cidadania é uma conjunção da educação informal e formal, que começa com o nascimento, e floresce no final do ensino fundamental. A Promulgação da Constituição de 1988 pretendia tirar o Brasil da égide de uma democracia ateniense, que permitia a elite branca e escravocrata todos os direitos e privilégios. Mas a democracia moderna pressupõe que haja uma equidade. E neste paradigma de construção da cidadania fica claro à necessidade de uma amalgamação perfeita entre a educação formal e informal, no entanto essa integração é boicotada o tempo todo por aqueles que se acham os donos do poder.
Anísio Teixeira afirmou: “Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no País a máquina que prepara as democracias -essa máquina é a escola pública”. Mas o tempo passou e essa escola pública, que prepara para o exercício da democracia e a prática da cidadania, não conseguiu sair do papel, talvez seja porque a intenção da classe dominante é que tudo continue como sempre foi. A elite brasileira se alicerçou e enriqueceu em cima do trabalho escravo, e a chegada da Família Real ao Brasil trouxe em seu bojo a máxima de que rico não pode trabalhar, pois isso seria uma desonra, e com isso o abismo, que nos dias de hoje é quase intransponível, começou a ser cavado.
Com a demarcação social bem definida, a segregação chancelou a marca que oensino escolarteria no País, de um lado os filhos das classes abastadas, que são preparados para comandar, e do outro os filhos dos trabalhadores que são preparados para serem serviçais, e colocaram a meritocracia como uma questão de força de vontade para galgar a escada da ascensão social, no entanto o distanciamento entre os degraus é infinitamente superior para quem vem da base da pirâmide.
Chegamos à terceira década do século 21, e aquela escola pública que seria a máquina que prepararia para o exercício da democracia e a prática da cidadania, ainda não saiu do papel. Para se construir um Estado-Nação é preciso desmontar a velha política de segregação que divide os estudantes da educação básica em grupos opostos, de um lado a rede privada que atende a elite, e do outro a rede pública que atende os pobres. A Constituição Federal e a leis complementares da educação corrigiram, ou tentaram corrigir este abismo, no entanto o costume vezo de não se cumprir as leis se eterniza.
Uma educação básica pública de qualidade e para todos colocaria o Brasil numa posição mais confortável no ranque do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), no entanto a escamoteação cuida para que a educação básica pública seja uma maravilha, mas somente no papel. Os projetos inovadores são interrompidos a cada mudança de governo, pois ossofismas confundem os eleitores pobres, que acabam achando que essas novidades vão ser prejudiciais aos seus filhos, e acabam elegendo o velho retrocesso que já conhecem.
Só através de uma educação básica pública libertadora e autônoma conseguiremos mudar a atual realidade cruel em que estamos vivendo. Acontece que a democracia ateniense que predomina entre nós, não permitindo que as castas subalternas se libertem e exijam seus direitos. O conhecimento é libertador, e provoca mudanças, e como as mudanças não fazem parte do horizonte de quem está no poder, excluir o ensino de filosofia e sociologia da educação básica pública, para não permitir que os educandos reflitam sobre a vida que estão vivendo, e não aceitarem mais o sim senhor, não senhor.
A pandemia por caminhos não programados está mostrando para as crianças e os adolescentes que eles são os principais atores dos sistemas educacionais. Um novo horizonte começa a ser descortinado, mesmo com o atraso de duas décadas a meninada vai fazer raiar o século 21.