Tomires, um ser humano de primeira. Acompanho sua luta em prol do Comercial FC numa fase em que nossos clubes estão no maior perrengue. Ele está em todas as campanhas pra ajudar o Leão do Norte, seu amor pelo clube é tanto que fico pensando: “Ah… Se todos os clubes tivessem um Tomires”!
Começou sua carreira em Jaú, passando depois pelo Ituveravense, Comercial e Araçatuba, encerrando sua trajetória no nosso Leão do Norte. Como amante do futebol, sou fã da camisa “1”. Ela é tão importante que basta acrescentar o zero para que se torne a mais desejada no futebol, a número “10”. Sou das antigas, gosto das velhas numerações, hoje bagunçou tudo. Todas têm sua importância, a mais lembrada é a 10. Alguns comentaristas reclamam da falta que faz um camisa 10 raiz, tipo Rivelino, Gerson e Zico.
Zico foi homenageado com muitas músicas, Jorge Ben Jor compôs pra ele. Jorge era Flamengo de carteirinha e batia um bolão. Compôs também pra outros boleiros. Um de seus maiores sucessos foi “Fio Maravilha”, camisa nove do Mengão, tinha os dentes desalinhados, era uma figura. Não jogava nada, mas fazia seus gols. Também, com aquele timaço era mamão com açúcar.
Essa música fez enorme sucesso, então Fio Maravilha processou o compositor querendo grana. Jorge Bem Jor, de bronca, até mudou o nome da música para “Filho Maravilha”… O jogador caiu no anonimato, indo trabalhar como entregador de pizza nos Estados Unidos. Mas do goleiro e sua arte quase ninguém fala. O goleiro se arrisca saltando num espaço vazio somente pra desviar a pequena bola.
Hoje, na qualidade de amigo e fã do grande Tomires, homenageio os guardiões dos três paus, o goleiro, o último homem a ser batido e que faz até milagres pra redonda não entrar. Liguei pro Tomires, o goleiro das mãos limpas. Queria saber curiosidades da camisa 1. Disse a ele que achava o goleiro um solitário. Ele disse: “Engano seu, Buenão, comigo não tinha esse negócio de solidão, não. Eu não dava mole pra minha zaga, parceiro, gritava o tempo todo: ‘pega o oito, cuidado com a canhota do 10, olha o 9, não deixem o 9 subir’. Meus zagueiros ficavam ligadaços, Buenão”.
Perguntei se tinha alguma manha na hora do pênalti. Orgulhoso, disse: “Buenão, fui pegador de pênalti, eu azucrinava tanto o batedor que ele perdia o foco. Eu cuspia na bola e, com minhas chuteiras de cravo de couro e prego, desmanchava a marca do cal, xingava a mãe dele, ficava de lado no gol provocando o cara. Daí ele batia sem a certeza do canto e eu ia pra cima, pegava e saia pro abraço, amigo.”
Tomires não usava luvas, disse que naquele tempo não eram confiáveis, e nem joelheiras, camisas e calção acolchoados, “coisa de goleiro fresco, Buenão (rsrsrs). Nada disso me atrapalhava, fiz grandes defesas só com a ponta dos dedos. No Ituveravense, fiz a mais bonita da minha vida. Uma noite, aqui no Palma Travassos, contra o América de Rio Preto, o 10 deles bateu no ângulo, voei como uma águia e com a ponta dos dedos mandei pra escanteio. Saí consagrado do campo aquela noite, amigo”.
Disse que certa noite, contra o Santos na Vila Belmiro, ele foi apanhar a bola atrás do gol, um torcedor a poucos metros dele o xingou de frangueiro, ele homenageou a mãe do cara e o sujeito ficou uma fera. Tomires emendou: “Seu babaca, você tá aqui e sua mulher tá por aí, jogando bola nas suas costas…Aí, Buenão, o cara queria pular o alambrado, mas um enérgico policial mandou ele baixar a bola”.
Tomires, goleiro cristão, fazia suas orações nos dois lados do gol, mas sempre deixava seu terço no esquerdo, pedia proteção para ele e seus companheiros de profissão. Querido amigo Tomires, que nosso bom Deus proteja sempre você e nossos heroicos goleiros.
Sexta conto mais.