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Ser bibliotecária é trabalhar no paraíso

Se você é apaixonado por leitura, com certeza já ouviu a frase mais famosa de Jorge Luis Borges: “sempre pensei no paraíso como uma espécie de biblioteca”. Por isso o título deste pequeno artigo. Meu nome é Gabriela Pedrão e sou bibliotecária. Sei que pode soar estranho para alguns de vocês ler que alguém é bibliotecária. Afinal, quantos bibliotecários você conhece? Quantos bibliotecários famosos existem por aí? É difícil responder, não é mesmo?

Afinal, ser bibliotecária é trabalhar com o que? Livros? Lu­gares empoeirados? Estantes pesadas maciças e lotadas? Pode até ser em alguns lugares, mas acredite, hoje eles são minoria.

Uma rotina maçante não combina com ser bibliotecária. Não existe um dia igual ao outro na biblioteca, e na biblioteca escolar então nem se fala. Aqui cada livro conta uma história, que muda, que cresce, que é lida, relida e volta diferente do que foi. Vai livro, volta livro com chocolate, com respingo de chuva, com reclamação, com declaração de amor. Entra um leitor na biblioteca, sai um mago, um inventor, um pirata.

Entra uma leitora, sai uma cientista, uma fada, uma desbravadora. No balcão tem conversa, tem dúvida, tem ajuda para embalar um presente de namorado, tem uma flor colhida no jardim da escola. O livro vai e fica um par de tênis esquecido ali junto dos livros infantis, o livro volta com um bilhete para a amiga e um problema de física no meio das fo­lhas. De repente, um dia a gente abre aquele livro antigo, que nunca saiu da estante, e se depara com a mais linda dedicató­ria na folha de rosto.

Na biblioteca tem empréstimo de livro, fone de ouvido, guarda chuva e conselho. Tem histórias feitas de palavras e histórias contadas no balcão. Nunca fico sozinha; quando não tem gente, estico o braço e as palavras me fazem companhia. Aqui o Machado não fere ninguém e todo mundo adora uma certa Rocha.Tem bolsa amarela, panela na cabeça, coelhinho azul voando, sertão, cidade e serra. E cuidado ao abrir uma porta, a gente nunca sabe onde ela pode dar…

Mas nem tudo são histórias. Vejo todo dia o que tem dentro de cada livro, que talvez vocês não vejam. Vou ali no esqueleto, em cada informação, do título e autor até o núme­ro de páginas, e quanto mede cada livro. Tudo é registrado. Coloco cada um no seu lugar: se é livro de matemática ganha sua classificação, se é de história, poesia ou literatura infan­to-juvenil, ganham outra. Cada um tem seu espaço e meu trabalho é conhecer todos eles.

E aquela famosa pergunta: você já leu todos os livros da biblioteca? Não respondo; é segredo entre bibliotecários. Mas pode ter certeza, todos eles já passaram pela minha mão, conheço cada um de perto e observo muito bem o que eles contam e ensinam.

Parece mágico, e de certa forma é. Por isso digo: se o paraíso é uma espécie de biblioteca, estou todos os dias no paraíso.

Feliz dia para todas as bibliotecárias e bibliotecários!

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