Para entender o presente é preciso conhecer o passado. Se fosse possível fazer o caminho inverso, talvez pudéssemos corrigir na origem as mazelas que atravessaram séculos, e não permitir que o presente repetisse o passado. O Brasil foi alicerçado na desigualdade social e no totalitarismo aristocrático dos donos do poder, que pavimentaram as estradas de suas riquezas com o suor e o sangue da mão de obra escrava, e da exploração das classes submissas. Os séculos se passaram e estes privilégios se mantiveram quase que intactos, e nos dias de hoje vemos o presente repetir o passado.
Quando falamos em democracia, o Brasil aparece como um país que desde a Proclamação da República está tentando solidificar seu modelo de país, pois ao invés da República trazer paz e prosperidade prometida pelos seus idealizadores, na maior parte do tempo andou de mãos dadas com regimes ditatoriais. Acontece que a deposição do Império se deu através de um golpe militar, não foi uma construção da sociedade, e com isso os militares se arvoraram o direito nato ao poder, e não querem ser submetidos a nenhuma Constituição, pois eram o poder, e o consolidaram aliados a aristocracia rural e urbana.
Como não temos o poder para percorrer de volta o caminho para mudar o passado, a convivência com o novo que é tão velho se torna inevitável. Como diz os versos de Chico Buarque: “Aquela esperança de tudo se ajeitar pode esquecer”, retrata com fidelidade o momento que estamos vivendo. A repressão violenta em cima da população pobre produzefeitos psicológicos de maneiras distintas.Alguns vão se rebelar pedindo liberdade e direitos humanos, mas serão facilmente dominados pela repressão, os outros como os bois que seguem para o matadouro, acham que tudo sempre foi assim, e nada vai mudar. E assim se constrói a identidade de um povo ordeiro e solidário, que será despertado quando os interesses dos poderosos solicitar.
A ilusão de que uma Carta Magna democrática pudesse transformar o Brasil em uma Nação, foi aos poucos se diluindo, e após trinta e dois anos está mais remendada do que os telhados dos barracos nas favelas. Até o Supremo Tribunal Federal, que é o guardião-mor da Constituição, cometeu adultério, atraindo vergonhosamente, pois alguns magistrados da corte a vilipendiaram, alegando que estavam ouvindo as vozes das ruas – coisa vergonhosa.
O desrespeito à lei maior do País está abrindo a porta do inferno, e os demônios começam a voar livre leve e solto. O Brasil está derretendo como as geleiras no verão. Há algum tempo que os cupins arraigados no subsolo do poder tramam para sermos o laboratório experimental do novo liberalismo radical. A pregação sistemática, de que só seremos um País evoluído, e sem miséria, quando tivermos um Estado mínimo, e tudo for privatizado, e para cometer este crime com o povo brasileiro, trabalham diuturnamente.
Até a Constituição de 1988, no Brasil não havia compromisso em cuidar da saúde e educação dos pobres, a saúde da população dependia da misericórdia das Santas Casas e Beneficências, que por caridade prestavam estes serviços. Não existia a proteção das crianças e adolescentes – eram tratados como adultos, e cumpriam pena nos mesmos estabelecimentos prisionais.
A Carta Magna trouxe o SUS, que está sendo o esteio no combate à pandemia da Covid 19, e as políticas para o desenvolvimento da educação básica. A diminuição da mortalidade infantil nos colocou em outro patamar perante o mundo. Mas os grandes ladravazes querem acabar com tudo isso. A proposta de Emenda Constitucional, que acaba com o piso de gastos na saúde e na educação são o ápice destes contumazes bandidos ladravazes e milicianos.
Se estas políticas se concretizarem retrocederemos cinquenta anos.
Não podemos suportar tanta iniquidade!