Dando continuidade às comemorações pelos dez anos de criação da Cia. OmondÉ, a atriz e diretora Inez Viana apresentará o espetáculo “Auto de João da Cruz”, de Ariano Suassuna (1927-2014), de sexta-feira a domingo, entre 5 e 28 de março, no YouTube da companhia (bit.ly/omondeyoutube), com sessões gratuitas, de sexta a domingo, às 19 horas.
O elenco é formado por integrantes da OmondÉ e atores convidados. Em cena estão André Senna, Elisa Barbosa, Iano Salomão/Joel Tavares, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Tati Lima e Zé Wendell. Escrito em 1950, o texto de Suassuna é uma recriação do “Fausto”, de Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).
A trama traz também elementos de três romances populares nordestinos – “História de João da Cruz”, “História do Príncipe do Reino do Barro Branco e a Princesa do Reino do Vai-não-Torna” e “O Príncipe João Sem Medo e a Princesa da Ilha dos Diamantes” – de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), Severino Milanez da Silva (1906-1967) e Francisco Sales Areda (1916-2005), respectivamente.
Gravada com seis câmeras no Teatro Firjan Sesi Centro, mesma sala em que estreou em janeiro de 2020, a peça conta a história de João, jovem ambicioso que, inconformado com a ausência do pai e com a miséria em que vive, resolve sair de casa, deixando tudo para trás, em busca de riquezas.
O Guia (espécie de diretor da peça) e o Cego (aqui simbolizando o Diabo) fazem, então, uma aposta pela alma de João que, ilusoriamente, passa a ter tudo que deseja. Ao mesmo tempo em que vai perdendo sua humanidade, João vai se distanciando da família e dos amigos e se transformando em um homem frio e perverso.
Quando, enfim, recobra a consciência, já é tarde demais para se arrepender dos males que causou. A peça “Auto de João da Cruz” teve sua primeira montagem profissional pela Cia. OmondÉ, que ganhou o texto de presente de Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano.
“Suassuna é eterno, atemporal, nunca sairá de moda. A história dessa peça é sobre a insana ambição humana, que pode levar o homem a se perder de seus valores mais profundos e a cometer os piores crimes. Infelizmente, é um texto extremamente atual”, ressalta a diretora Inez Viana.
Inez e Ariano: amizade e parceria – A diretora manteve uma parceria com Suassuna nos últimos 16 anos de vida do escritor. O primeiro encontro foi 1998, quando Inez se apresentou em Recife e o autor estava na plateia. Um ano depois, em 1999, ela dirigiu o documentário “Cavalgada à Pedra do Reino”, onde o narrador principal era o próprio Suassuna.
Criada a partir de um encontro teatral que resultou na montagem do “As Conchambranças de Quaderna”, de Suassuna, a Cia. OmondÉ celebra uma década de trajetória voltando ao autor que uniu nove atores de diferentes lugares do Brasil – foi fundada em 2010.
A Cia OmondÉ é a concretização de um desejo que a atriz e diretora Inez Viana nutriu por mais de duas décadas. Tem em seu repertório oito peças, todas de autores brasileiros, clássicos e contemporâneos, como Ariano Suassuna, Nelson Rodrigues (1912- 1980), Grace Passô, Jô Bilac, Alcione Araújo (1945-2012) e segue na busca de uma linguagem cênica que dialoga com temas vigentes, contribuindo para a reflexão sobre o papel do artista na sociedade.
A companhia tem oito peças montadas, todas com direção de Inez Viana: “Auto de João da Cruz” (2020), “A Mentira”, de Nelson Rodrigues (2018); “Mata Teu Pai”, de Grace Passô (2017); “Os Inadequados”, criação coletiva Cia OmondÉ (2015); “Infância, Tiros e Plumas”, de Jô Bilac (2014); “Nem mesmo todo o oceano”, de Alcione Araújo, adaptação Inez Viana (2013); “Os Mamutes”, de Jô Bilac (2012) e “As Conchambranças de Quaderna”, de Ariano Suassuna (2009).