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COVID-19: Quando e como reabrir as escolas (8)

Qual é o estado de saúde mental dos estudantes universitários que ficaram confinados durante a pandemia da Covid-19, bem como, quais fatores são associados à origem e ao agravamento de problemas de saúde mental? Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, uma quarentena consiste em separar, e restringir, o movimento de pessoas que têm sido expostas a uma doença contagiosa para verificar que sintomas ocorrem. Quaren­tena em larga escala parece ser o termo mais apropriado para se referir a uma separação física obrigatória, incluindo restrição de movimento, de populações que têm sido potencialmente expostas a uma doença contagiosa. São estratégias que visam reduzir o contato entre as pessoas e, portanto, a disseminação de um vetor de contágio, sob pena de sanções criminais ou econômicas. Um exemplo? A quarentena ocasionada pela Covid-19 que obrigou as pessoas no mundo todo a ficarem em casa.

Considerando esse cenário, pesquisadores franceses investigaram os fatores associados às desordens de saúde mental entre estudantes universitários na França, confinados durante a epidemia da Covi-19 (JAMA Network Open, outubro 23, 2020). Para isso, pesquisadores coletaram dados de 17 de abril a 04 de maio de 2020 de um total de 69054 estudantes universitários vivendo na França durante a quarentena da Covid em 2019. O que registraram? Registraram a taxa de incidência de ideações suicidas, estresse severo, estresse e depressão por meio das seguintes escalas psicológicas: Escala de Impacto de Eventos, Escala do Estresse Perce­bido, Inventário de Ansiedade, Traço-Estado e Inventário de Depressão de Beck. Também foram registradas as Características Sociodemográficas, Indicadores de Vulnerabilidade (como perda de renda ou pobre qualidade da moradia), Dados relacionados à Saúde, Informações sobre o Ambiente Social, bem como, Consumo de Informação de Mídias e busca de Cuidados de Saúde Física e Psicológica.

Tomados em conjunto, os dados revelaram que a prevalência de pensa­mento suicida, estresse severo, alto nível de estresse percebido, depressão se­vera e alto nível de ansiedade estiveram presentes em 11,4%, 22,4%, 24,7%, 16,1% e 17,5% respectivamente, com 42,8% dos estudantes registrando, pelo menos, um desfecho entre aqueles que buscaram um profissional de saúde. Entre os fatores de risco identificados, registrando, pelo menos, um desfecho de saúde mental, foi registra­do, no sexo feminino, a perda de renda, a baixa qualidade de moradia, história de acompanhamento psiquiátrico, sintomas compatíveis com a Covid-19, isolamento social, baixa qualidade das relações sociais e baixa qualidade da informação recebida da mídia.

Em relação aos desfechos dos indicadores de saúde mental, os autores identificaram que tanto o sexo feminino quanto o sexo masculino foram associados com elevado risco para todos os desfechos de saúde mental registrados. Estudantes iniciando sua educação universitária registraram elevado risco autoregistrado de pensamentos suicidas, depressão severa ou estresse severo, de forma que, quanto mais avançados os estudantes estavam, tanto menor o risco para tal. Em relação ao estresse e ansiedade percebida, foi identificado um risco aumentado entre estudantes do 2º ao 5º ano. Enquanto estudantes do 6º ano para mais elevado, pareceram menos prováveis de registrar esses sintomas de saúde. Ser um estudante estrangeiro foi associado com menor probabilidade de registrar ideações suicidas e estresse percebido, ainda que havendo um risco aumentado de estresse psicológico para os mesmos. Interessante registrar que os pesquisadores chamaram a atenção para estudantes viventes em ambientes rurais demonstrarem menor probabilidade de ideações suicidas e de estresse psicológico severo do que aquele vivendo em áreas urbanas.

Outros dados muito relevantes mostraram, também, que os cuidados com a saúde mental, durante a pande­mia, diminuíram por parte da população estudada. Um exemplo? Antes da quarentena, pessoas na idade entre 16 a 24 anos, com altos níveis de depressão e ansiedade, obtiveram ajuda profissional em 18 a 34% dos casos. No estudo em questão, estudantes com pensamentos suicidas ou ansiedade severa, estresse, estresse psico­lógico ou depressão buscaram cuidados de saúde apenas em 12, 4% do tempo. O que isso indica? Indica que, ao longo da quarentena, buscar acesso aos cuidados médicos e prescrições regulares foi problemático. Esta barreira situacional, a saber, a quarentema, podendo ser, então, particularmente prejudicial para as pessoas jovens, conhecidas por buscarem menos regularmente os cuidados de saúde, o que poderia, se buscado, prevenir o sofrimento psicológico.

Em suma, os achados desse estudo sugerem que a saúde mental dos estudantes universitários é um problema de saúde pública, tendo se tornado muito mais crítica no contexto de uma pandemia, determinado e justificando, portanto, a necessidade de reforçar a prevenção, a vigilância e o acesso aos cuidados de saúde. Em adição, também parece importante manter contatos contínuos com esses estudantes para lhes assegurar uma boa qualidade de condições de moradia, prover suas necessidades básicas, permitir-lhes atividades físicas e conexões sociais e oferta de informações adequadas. Medidas que promovem acesso à saúde devem ser sempre encorajadas.

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