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Astro da seleção, RICHARLISON faz sucesso ao levantar bandeiras nas redes sociais

DIVULGAÇÃO/EVERTON

Um dos jogadores que se firmaram na seleção brasilei­ra de Tite nos últimos anos, o atacante Richarlison também consegue se destacar em ou­tras frentes na carreira. No Everton, seus gols ajudam muito o time a se posicionar no Campeonato Inglês. Mas é fora de campo que ele mexe com uma legião de seguido­res das redes sociais e torce­dores pelo seu sucesso.

Richarlison tem levantado algumas bandeiras incomuns entre seus colegas de futebol, mais animados com games e fones no ouvido, crescidos em bolhas e por agentes que repetem o tempo todo que jogador deve pensar apenas em jogar futebol. O atacante quebra essa máxima, pede mais educação e comida na mesa do brasileiro e cobra governantes em entrevista concedida ao Estadão.

Você cativou um públi­co de forma espontânea nas redes. Peguei umas métricas de comentários em jogos do Everton e da seleção no Twit­ter e, salvo engano, em duas oportunidades você não es­teve entre os cinco mais co­mentados durante o período. Como é isso para você? Te ba­lança? Dá vontade de pegar o celular e ficar rindo das men­sagens que te mandam?
Eu gosto muito de inte­ragir com os torcedores e com os fãs. Quando era mais novo, nunca tive a oportu­nidade de ver um ídolo meu de perto, muito menos trocar ideia com ele. Então, tento fa­zer um pouquinho disso para quem gosta de mim e acom­panha o meu trabalho, como uma forma de retribuir. As redes sociais ajudam muito nessa aproximação.

Aliás, online, quem é camisa 10 e mete a faixa? Quem merece um banco ou sequer deveria ser convoca­do para sua seleção?
Meu grande rival no PubG é o Jemerson, zagueiro do Co­rinthians, mas eu sempre ga­nho dele. Não tem mais graça (risos). Mas ele é bom, joga bem. Tem muita gente que joga comigo, mas vou mais pela re­senha. Na competição mesmo, tem a molecada do time que apoio, o R7, que é fera. Eles são 10 e metem a faixa (risos).

Voltando às redes, um dos motivos que cativaram essa relação com o público foi seu envolvimento em causas so­ciais. Muitos diziam que o jo­gador tem um perfil alienado e ver alguém ser engajado de forma tão espontânea aumen­tou seu vínculo com as pesso­as, que se sente representadas. Como você vê isso?
Muita gente acha que é falta de vontade dos caras de se po­sicionar, mas não é bem assim. De onde a gente vem, ninguém nunca quis saber o que a gen­te tinha para falar. E quando o nosso trabalho faz com que as nossas vozes sejam ouvidas, muitos jogadores já não que­rem mais esse desgaste. Cada um tem suas feridas, sabe o tan­to que ralou para chegar aonde chegou e as pessoas precisam entender isso. É difícil você encontrar um jogador que não ajuda sua comunidade ou não faz um trabalho social. Ajudam o quanto podem. É claro que seria ótimo se todos quisessem também falar e cobrar atitudes de quem está no comando e de quem deveria fazer alguma coisa para mudar a realidade do Brasil, porque é muito impor­tante e o alcance dos jogadores é muito grande, mas isso é uma coisa pessoal de cada um.

Você tem dimensão que, mais do que um ídolo em cam­po, é uma voz para milhões de brasileiros, que sentem em você um grande espelho? Como espera que sua voz che­gue a eles?
Espero que minha voz che­gue cada vez mais alta. Se não for para fazer barulho e ajudar, eu nem vou (risos). Vou con­tinuar do lado de quem mais precisa, porque já estive lá e minha comunidade tinha mui­tas necessidades. Sei que isso cobra um preço do jogador, qualquer coisa errada que fizer vai ter uma repercussão maior e algumas pessoas vão cair ma­tando, mas é um preço que eu estou disposto a pagar.

Quando tivemos o #Bla­ckLivesMatter, você foi categó­rico ao dizer que “poderia ser comigo”. Já passou por situa­ção semelhante? Se sim, como foi e onde encontrou forças para superá-la?
Eu morava em uma comu­nidade pobre, diversos amigos que tinha quando era criança foram por um caminho ruim. Muitos foram presos, outros morreram e outros perderam o rumo mesmo. Sou grato às pes­soas que me ajudaram, porque sei que poderia ter sido vítima de algo ruim, mesmo sempre indo pelo caminho certo. Já fui confundido com um trafican­te quando estava voltando do futebol com meus amigos (no Espírito Santo), já vi muita coi­sa errada acontecer na minha frente. Tudo que podia fazer era me afastar daquilo e foi o que eu fiz. Sempre digo que o futebol me salvou, outros não tiveram a mesma sorte que tive. E não é só nessa questão de violência física que a coisa é complicada, é no tratamento também. As pessoas te olham diferente, trocam de calçada para não passar perto de você com medo de serem roubadas ou de você pedir alguma coisa. Vejo algumas pessoas dizendo que não existe racismo no Bra­sil, mas é só você analisar qual a maior parcela da população pobre do País para notar que existe e é muito grande.

Outro caso marcante foi sua participação no caso da Mari Ferrer (influenciadora que moveu processo de es­tupro em Santa Catarina). Acha que com pessoas como você dando luz ao que temos de mais obscuro, aos poucos podemos discutir mais al­guns temas e conseguir mais justiça social?
Eu espero que sim, porque é uma questão de humanidade e muito óbvio. Sobre o caso da Mari Ferrer… Eu tenho irmã, mãe, primas, avó, amigas… Mi­nha família é cheia de mulhe­res, cara. Eu ficaria maluco se acontecesse algo assim com elas e nem consigo imaginar como elas ficariam. Nós, homens, pre­cisamos parar de minimizar as coisas que acontecem com as mulheres, parar de culpar quem é vítima. Uma menina que é es­tuprada ou sofre assédio nunca mais vai esquecer. Isso é muito triste. E só vai mudar quando quem fizer esse tipo de coisa for para a cadeia e ficar por lá um bom tempo, independentemen­te de ser pobre ou rico. Sobre Manaus, foi horrível ver aquilo acontecendo. Ver as pessoas na fila para tentar buscar oxigênio para seus familiares Como dis­seram: faltou ar no pulmão do mundo. Eu acho que a gente não pode se acomodar com essas coisas, passar a tratar absurdos como coisa normal.

Na cabeça do Richarlison, o que precisamos mudar para ter um mundo em que sua família e entes queridos vivessem em paz? E em que avançamos?
Eu acho que temos de olhar com carinho para quem preci­sa mais. O Brasil é um país que produz e exporta comida para o mundo inteiro, mas tem gen­te passando fome. Tem crianças que não conseguem ir para a es­cola porque precisam trabalhar ou ir pedir dinheiro no semá­foro, porque os pais não conse­guem emprego nem sustentar a família. E algumas dessas crian­ças escolhem o caminho erra­do, porque é teoricamente mais fácil. Penso que um país sem saúde e educação para todos – e nisso entra o esporte também, que é muito importante, por­que ensina coisas boas e faz bem para a saúde – e sem comida na mesa não vai para frente. Acho que todo mundo deveria estar buscando por isso, não pelas besteiras que ficam brigando e discutindo o dia inteiro.

Quando a seleção vol­tou a jogar, você veio para o Brasil, com pouco tempo de trabalho, sem três peças titu­lares importantes (Neymar, Casemiro e Coutinho) e contra uma Vene zu e ­la fechada. Como foi aquele jogo?
E s t a v a mais descan­sado que a maioria, ainda não tinha perdido ritmo de jogo. Eles são jogadores que fazem muita falta, claro, são funda­mentais para a nossa equipe. Mas acho que a maior dificul­dade foi que pegamos um ad­versário com nove jogadores dentro da sua própria área e estava difícil achar espaços. Foi um jogo difícil e que consegui­mos uma vitória importante nas Eliminatórias.

Continuando no assun­to seleção, sabemos que seu objetivo (e de quem está no radar do Tite) está no Catar, em 2022. Como é para um atleta mostrar serviço em apenas uma semana? Como vem sendo para você esse ci­clo até o Mundial?
Na verdade, vejo isso um pouco diferente. Eu acho que temos de mostrar serviço to­dos os dias. O Tite conversa com os nossos treinadores nos clubes e sabe exatamente como estamos rendendo não apenas nos jogos. Isso faz com que precise estar bem também no dia a dia. Eu estou dando a vida para poder estar lá no Catar em 2022, quero mais do que tudo. Para isso, sei que preciso manter meu nível aqui no Everton e continuar mostrando serviço quan­do estiver na seleção, mes­mo com tão pouco tem­po. Qualquer vacilo, posso perder espa­ço, porque temos muitos ata­cantes de qualidade no radar.

Muitos elogiam o trabalho do América-MG, onde você já esteve, que se estruturou de forma que sempre está figu­rando bem nos torneios e vem conseguindo resultados sig­nificativos desde quando você estava lá. Você via essa estrutu­ração no seu período?
Acho que foi tudo muito bem feito no América-MG. Ele se fortaleceu primeiro lá den­tro, dando uma boa condição de trabalho para os jogadores e treinadores, para poderem se desenvolver. Na base também, sempre tem uma molecada mui­to boa, e isso ajuda. Espero que possa permanecer na Série A e chegar cada vez mais alto. É um clube que merece os frutos que vem colhendo.

Se você pudesse mandar um recado aos seguidores, o que falaria?
Queria mandar um abraço ao povo brasileiro. Pedir que tenham paciência, que fiquem em casa quando possível; quan­do sair, usem máscara, porque a pandemia está complicando de novo. É hora de acreditar em quem estuda e vive para nos ajudar a vencer essas difi­culdades. Fiquem bem!

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