Na manhã desta sexta-feira, 12 de fevereiro, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, esteve em Batatais, município localizado na Região Metropolitana de Ribeirão Preto, onde aplicou pessoalmente uma dose da vacina contra o novo coronavírus em sua mãe, dona Maria José de Toledo Covas, de 87 anos.
“Não deixaria isso para mais ninguém”, disse, visivelmente emocionado, o médico e cientista, também diretor-presidente do Hemocentro de Ribeirão Preto. Após a imunização, mãe e filho se abraçaram e posaram para fotos junto à equipe de profissionais de saúde.
Nascida em 1933, dona Maria José declarou que estava duplamente emocionada: primeiro por chegar a vez dela de ser vacinada, já que está há um ano sem sair de casa e, depois, por ser vacinada pelo próprio filho. Dimas Covas aplicou uma dose da Coronavac, imunizante desenvolvido pelo Butantan em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac.
Antes de ir a Batatais, Dimas Covas esteve em Serrana, onde participou do lançamento oficial do “Projeto S”, que pretende vacinar, a partir de quarta-feira, próximo dia 17, de fevereiro cerca de 30 mil moradores da cidade, em caráter de pesquisa clínica, com a finalidade de testar a redução do contágio pelo novo coronavírus em uma população.
O estudo foi desenvolvido pelo Instituto Butantan, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidae de São Paulo (FMRPUSP) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). É uma parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e a prefeitura de Serrana.
A imunização mira os moradores de Serrana com 18 anos ou mais. A cidade tem 45.844 habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O cadastro complementar da população começou a ser realizado na quinta-feira (11) e vai até terça-feira, dia 16. Somente na quinta-feira, 23 mil pessoas se cadastraram, 76% do público-alvo.
Será realizado em oito escolas que participam da ação. Somente moradores podem participar. Para facilitar a imunização em massa, a cidade foi divida em 25 partes, que depois formaram quatro regiões separadas por cores. A vacinação será feita de quarta-feira a domingo, de acordo com o cronograma para cada cor, a partir do dia 17.
Com a primeira dose serão imunizados os moradores de Serrana da região verde (de 17 a 20 de fevereiro), em seguida os da região amarela (de 24 a 27 de fevereiro), da região cinza (de 3 a 6 de março) e da região azul (10 a 13 de março).
Segundo a prefeitura, os moradores só podem tomar a vacina no período correspondente à cor de sua região, por conta da metodologia da pesquisa. A expectativa é a de que a vacinação seja concluída em dois meses. A estimativa é de que em 13 semanas já seja possível obter as respostas necessárias para conhecer os efeitos da imunização em massa.
Mulheres grávidas ou em amamentação, quem teve febre nas últimas 72 horas antes da vacinação e portadores de doenças graves não podem receber a dose e um médico orientará a população sobre isso nos locais das aplicações. A prefeitura informou ainda que os postos de vacinação serão montados em oito escolas.
Segundo Dimas Covas, a escolha da cidade para a pesquisa teve como um dos fatores o fato de no ano passado o município ter sido objeto de um inquérito sorológico para detectar a prevalência do novo coronavírus na população.
Os resultados apresentaram números elevados, que chamaram a atenção do Butantan. Em uma das fases, chegou a mostrar que 5% dos moradores estavam ativos para covid-19 e 10,6% tinham o coronnavírus. O objetivo do projeto é verificar o impacto de uma vacina em uma população inteira. Por isso, a ideia é vacinar o maior número possível de pessoas adultas.
Com a iniciativa, que tem caráter de pesquisa clínica, será possível estudar a eficiência da vacina na diminuição da transmissibilidade do vírus. A eficácia e a segurança do imunizante já foram comprovadas por meio de testes de fase 3 com 12,5 mil voluntários em 16 centros de pesquisa brasileiros
Serrana também foi escolhida por ter cerca de dez mil habitantes que se deslocam diariamente para a região por conta de trabalho, o que pode favorecer a propagação do novo coronavírus. Além disso, a cidade fica perto de Ribeirão Preto, considerado importante polo de saúde do país, que fornecerá estrutura de apoio para a pesquisa.