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Cuidado, onça e lobo à porta de casa

Hoje já nem se fala mais na Região da Mogiana. Os mais novos nem se lembram da antiga estrada de ferro, que nos servia. Os jovens nem a conheceram. Veio a Fepasa e, com ela, a partir da segunda metade do século passado só identifi­camos: Região de Ribeirão.

Naquela época andar por aqui avistava-se lavouras de café, famosas fazendas com seus terreiros, além do plantio para a colheita de grãos. Isso se alterou com o predomínio da cana de açúcar que deu lugar à monocultura. Nossa economia é outra e dela tratamos com orgulho porque agora sediamos o agronegócio que, em tempos de pandemia, ainda se salva.

O visual da nossa região também se modificou. A expan­são da cana de açúcar praticamente expulsou os antigos mo­radores das fazendas que se mudaram para as cidades mais próximas. No mesmo momento (êxodo rural) os trabalhado­res rurícolas se desligaram de seu meio original e se uniram nas comunidades dos bairros periféricos, perdendo a quali­dade de vida porque ali é precária a infra estrutura oferecida pelas cidades: eles acabam se socorrendo de organismos sociais diversos (das igrejas, geralmente).

A princípio eram os “paus-de-arara” transportados preca­riamente nas carrocerias dos caminhões, como gado, depois também conhecidos como “bóias-frias” porque levavam marmitas preparadas na madrugada. A desgraça dos aciden­tes precedeu a mecanização e modernidade das operações numa economia enriquecida, menos para aqueles trabalha­dores que, nas cidades, vivem mal, sem amparo para a saúde, habitação e sofrem com o desemprego urbano.

Suas famílias (esposas e filhas) serviam como domésticas e, hoje, menos trabalho tem. Essa população urbana diminuiu muito, principalmente após a nova lei da categoria (de 2015) criando mais direitos e novos custos para quem emprega.

Naturalmente, a população do meio rural encolheu. Poucos permanecem morando em propriedades rurais, até os donos das terras evitam, alegando questões de segurança. Vez por outra alguém é assaltado traumaticamente ou até morto. As colônias foram extintas cedendo lugar para a cana de açú­car, em geral arrendada para uma usina mais próxima – que não dispõe de terras para o plantio.

Por consequência, a situação também se modificou para outros habitantes: os animais perderam do que se alimentar e abandonam as áreas rurais (acabaram as matas), invadindo as cidades. A desestruturação do meio rural foi total nessas últimas décadas e reflete nas cidades dos canaviais, cujas pre­feituras (municípios pobres) pouco podem fazer.

Os moradores de Santa Rosa de Viterbo, São Simão e adjacências se preocupam com os animais perigosos (onças, lobos e cobras) à porta de casa. Em chácara os bezerros são atacados (no pescoço), à noite, deixando rastro de sangue. Já falta quem aceite serviço de guarda.

Qualquer lugar desta região pode ter invasões de animais famintos. No Corpo de Bombeiros de Ribeirão há quem capture, chega rápido. Mas, e Serrana, Cravinhos, Santa Rosa e outras? É melhor ter cuidado ao sair de casa. Enfrentar, nunca. Morar em área rural, nem pensar. Foi-se o tempo de andar tranquilo pela região de Ribeirão Preto.

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