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COVID-19: Quando e como reabrir as escolas (5)

É amplamente conhecido que o Coronavírus é transmitido primariamente por gotícu­las respiratórias inspiradas de pessoas infectadas num contato proximal, bem como, por su­perfícies contaminadas que, tocadas por pessoas sem infecção, a estas contaminam quando as mesmas levam as mãos, não lavadas, ao rosto, olhos, nariz ou boca. Dados têm mostrado que o número médio de casos secundários por cada caso infeccioso varia de 2,5 a bem acima de 3,0, fazendo esse vírus consideravelmente mais infeccioso do que a influenza. Evi­dências atuais sugerem que, dado como o vírus é espalhado, contato íntimo prolon­gado em ambiente fechado é particularmente de alto risco. Sabe-se, também, hoje, que o período médio de incubação, independente da idade, é estimado ser de 5 dias, com uma amplitude de 2 a 14 dias. Segundo o consenso intitulado “Reopening K-12 Schools During the COVID-19 Pandemic Consensus Study Report from the National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine (2020)”, publicado nos Estados Unidos, o conhecimento científico sobre o impacto do vírus sobre adultos e crianças evoluiu muito ao longo do correr da primeira onda da pandemia. Os estudos iniciais revelaram que as crianças estavam em menor risco que adultos para contraírem a doença, além de muitos estudos terem mostrado que as crianças são menos prováveis de experenciar doenças e sintomas mais severos que os adultos. Como consequência, criou-se a percepção que as crianças são menos susceptíveis à infecção e não desempenham papel substancial na transmissão.

A partir dessas premissas e demais dados científicos coletados mundialmente alguns países decidiram manter as suas pré-escolas (crianças de 1 a 6 anos de idade) e suas escolas (crianças de 7 a 16 anos de idade) abertas. Contrastan­do, muitos outros países, incluindo o Brasil, os quais, baseando-se em dados obtidos sobre a distribuição da influenza, que, de fato, afetava mais crianças do que adultos, decidiram fechar suas escolas, muitas das quais ainda continuam fechadas e cuja reabertura tem trazido à tona embates calorosos e, até, agitações, revoltas, greves e paralisações por parte de pais e professores. Neste contexto, a Suécia adotou, na pandemia, uma abordagem considerada, talvez, a menos restritiva entre os países europeus. Foi deixado a cada cidadão, educados que são, seguir suas ações individuais para mitigação da Covid. Em atitude oposta, a Noruega adotou um severo regime de isolamento da população para combate ao Coronavírus, recomendando desde o uso de máscaras à tomada de consciência do necessário ato de lavar as mãos constantemente. Em relação à problemática de abertura e fechamento das escolas, dados obtidos tanto na Suécia quanto na Noruega, chegaram à mesma conclusão. O estudo sueco, publicado na The New England Journal of Medicine (06 jan 2021), realizado por pesquisadores do Instituto Karolinska, detalha os casos de Covid nas escolas suecas que mantiveram suas pré-escolas e escolas abertas entre 01 de março a 30 de junho de 2020, nos estágios iniciais da pandemia. Na ocasião, a disseminação comunitária do vírus foi predominante na Suécia e, enquanto o distanciamento físico era encorajado mas o uso de máscara ainda não. Importante, 1.951.905 crianças nas idades de 1 a 16 anos investigadas até 31 de dezembro de 2019, 65 morreram no período pré-pandêmico de novembro de 2019 a fevereiro de 2020, comparadas com 69 no período de março a junho de 2020. Nenhuma dessas mortes ocasionadas pela Covid-19. Neste contexto, quinze crianças diagnosticadas como tendo Covid-19, incluindo sete com síndrome inflamatória em multisistêmica pediátrica, foram admitidas numa Unidade de Cuidados Intensivos entre março a junho de 2020 (0,77 por 100 crianças neste grupo etário), com quatro delas requerendo ventilação mecânica. Destas, 4 crianças tinham de 1 a 6 anos de idade e onze crianças tinham de 7 a 16 anos de idade. Também, 4 delas tinham comorbidade (2 com câncer, 1 com doença crônica renal e 1 com doença hematológica).

Dos 103.596 professores pré-escolares e 20 professores escolares, em toda a Suécia, um grupo de dez integrantes foi admitido na Unidade de Cuidados Intensivos em até 30 de junho de 2020. O risco relativo ajustado para a idade, conside­rando professores pré-escolares, foi de 1,10 comparado com outras ocupações do que com ocupações da saúde. Já para os professores das escolas o risco foi de 0,43. Tomados em conjunto, os autores desse estudo afirmaram que “a despeito da Suécia ter mantido escolas e pré-escolas abertas, nós encontramos baixa incidência de Covid-19 grave entre crianças na pré-escola e na escola, durante o surto pandêmico do Coronavírus. Entre 1,95 milhões de crianças, de 1 a 16 anos de idade, 15 crianças tiveram ou Covid-19 ou síndrome inflamatória pediátrica, ou ambas as condições, sendo todas elas admitidas na Unidade de Cuidado Intensivo, o que equivale a 1 criança em 130 mil crianças”. O líder dos autores assim concluindo “É muito gratifican­te saber que grave Covid-19 é tão rara entre as crianças a despeito de as escolas estarem abertas durante a pandemia”.

Por sua vez, no estudo sueco, publicado Eurosurveillance (07 jan 2021), liderado por pesquisadores do Instituto de Saúde Pública de Oslo (Noruega), consta que, entre agosto e novembro de 2020, os pesquisadores rastrearam e testaram duas vezes todos os contatos feitos por crianças de 5 a 13 anos de idade, diagnosticadas como tendo Covid-19 e em qua­rentena, em dois municípios do país com maiores propagações do Coronavírus. De quatro de treze crianças que tinham ido a escola com sintomas moderados, apenas dois lares com os quais elas tiveram contato apresentaram casos primários da doença, e nenhum caso secundário foi encontrado. As outras crianças ou pacientes monitorados foram assintomá­ticos enquanto frequentando a escola. Dos 234 contatos das crianças testados para a Covid-19, dois casos primários (0,9%) e nenhum caso secundário foram encontrados. Dos 58 adultos contatados pelas crianças, um caso primário (1,7%) e nenhum caso secundário foram identificados. O número médio de contatos por paciente monitorado foi de 19 crianças e 3 adultos. Baseando-se nesses dados, os autores mostraram que a transmissão da infecção por Covid-19 para crianças abaixo de 14 anos foi mínima nas escolas primárias da Noruega em municípios nos quais 35% da população norueguesa reside. Os resultados categoricamente mostram que, transmissão comunitária de baixa a média demonstram papel limitado das crianças na transmissão da Covid-19 no ambiente escolar. Tomados juntos, os dois estudos indicam que escolas e pré-escolas podem ser seguramente reabertas, uma vez que crianças, especialmente aquelas menores de 10 anos, não contribuem significativamente para a dinâmica da pandemia da covid-19. Embora com diferentes estratégias de mitigação do vírus, ambos os estudos chegaram a conclusões semelhantes.

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