João Camargo
Em um passado não muito distante, a ideia de que o ensino a distância (EaD) era de qualidade inferior e que, portanto, poderia não ser visto com bons olhos em um currículo ou em uma oportunidade de emprego, era recorrente. Contudo, parece que este pensamento está começando a mudar.
E quem via essa modalidade por uma perspectiva não tão próxima, pôde perceber uma maior aceitação, por conta das mudanças de estilo de vida e dos hábitos, durante a pandemia da Covid-19. A verdade, porém, é que este modelo de ensino já apresentava indícios de seu crescimento antes dessa guinada atual.
De acordo com resultados do Censo da Educação Superior 2019, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), a tendência de crescimento do (EaD) se confirma a cada ano. Em dados retirados deste censo de 2019, das 16.425.302 de vagas disponíveis para o nível superior de ensino, 63,2% (10.395.600) foram ocupadas por essa modalidade.
O censo mostrou ainda que, naquele ano, pela primeira vez na história, o número de ingressantes em cursos de EaD ultrapassou a quantidade de estudantes que iniciaram a graduação presencial na rede privada. Ao todo, 50,7% (1.559.725) dos alunos que ingressaram em instituições privadas optaram por cursos de EaD. Em contraponto, 49,3% (1.514.302) dos estudantes escolheram ingressar na educação superior de modo presencial.
E isso não se reflete somente em um âmbito nacional. Em Ribeirão Preto, algumas das Universidades e Centros Universitários apresentam números bem interessantes. Para João Ricardo Benedito, gerente de EaD do Centro Universitário Barão de Mauá, o cenário da educação está se transformando em ritmo acelerado.
Benedito ressaltou que a tecnologia vem, cada vez mais, fazendo parte de nosso cotidiano e, com isso, o EaD ganha força. “Os cursos EaD são tendência e estão em constante crescimento por tudo que a modalidade apresenta, como: flexibilidade, economia de tempo, comodidade e mensalidades mais acessíveis”, disse. Ele ainda reforçou que, devido à autonomia e praticidade, esta modalidade já é uma realidade.
O diretor de operação da Faculdade Metropolitana do Estado de São Paulo, Antônio Marcos Neves Esteca, também compartilha desta ideia de avanço. Segundo ele, a faculdade assistiu a um crescimento de 285% na captação de alunos para cursos na modalidade EaD, entre os anos de 2019 e 2020. Esteca comentou ainda que, para 2021, a expectativa é de continuar em forte ritmo de expansão. “Como um dos principais pontos fortes do EaD, vejo a possibilidade de levar uma educação de qualidade a todo o território nacional, oportunizando uma formação de excelência mesmo em locais mais distantes dos grandes centros econômicos do país. Ademais, a flexibilidade do modelo, atrelada ao avanço dos recursos tecnológicos, como o uso de simuladores e laboratórios virtuais, permite o acesso à educação superior a estudantes de todas as idades e contextos sociais”, completou.
Outro Centro Universitário que se dedica a este modelo de ensino é a Estácio. Segundo Flávio Murilo de Gouvêa, diretor de ensino digital da instituição, a escola foi pioneira e é um dos mais relevantes players de educação digital do país, além de ampliar e aprimorar esse modelo de ensino nos últimos anos.
Gouvêa também acredita que a pandemia fez com que muito mais pessoas passassem a experimentar diferentes opções tecnológicas. “Acredito que a tecnologia continuará presente e que vai ajudar bastante as novas gerações. O conteúdo e o aprendizado vão ultrapassar a barreira da sala de aula. O digital veio para ficar. Como as novas gerações estão cada vez mais adaptadas aos ambientes virtuais, o Ensino Digital ganhará mais espaço”, concluiu.
Acesso à internet
Quando abordamos o ensino a distância é crucial também falarmos sobre o acesso à internet, já que, sem ela, não é possível ingressar em cursos dessa modalidade. Nesse sentido, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) divulgou, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua — Acesso à Internet e à Televisão e Posse de Telefone Móvel Celular Para Uso Pessoal Pnad Contínua 2018, que analisou o quarto trimestre daquele ano, que o uso da internet também está se expandindo no Brasil.
De acordo com essa pesquisa, os resultados de 2016 a 2018 mostraram que a utilização da internet nos domicílios está em contínuo e expressivo crescimento, que foi mais acelerado na área rural.
Em 2017, a Internet era utilizada em 74,9% dos domicílios do país e este percentual subiu para 79,1%, em 2018. O crescimento mais acelerado da utilização da internet nos domicílios da área rural contribuiu para reduzir a grande diferença em relação aos da área urbana. De 2017 para 2018, o percentual de domicílios em que a internet era utilizada passou de 80,2% para 83,8%, na área urbana, e aumentou de 41,0% para 49,2%, na área rural. O mesmo sentido de crescimento ocorreu em todas as Grandes Regiões.
Procura por cursos de saúde
Além de estar, de certa forma, atrelada ao impulsionamento das buscas por cursos EaD, a pandemia da Covid-19 também despertou grande interesse dos estudantes nos cursos de saúde. Uma pesquisa que entrevistou potenciais alunos que tenham interesse de início em cursos de graduação presencial ou EaD nos próximos 18 meses, em Instituições de Ensino Superior (IES) particulares, mostrou que a área mais escolhida é a da saúde.
O estudo foi feito pela EducaInsight que o realizou de forma recorrente, analisando os impactos conforme a evolução da pandemia no Brasil a cada mês. Entre os potenciais alunos entrevista dos, havia homens e mulher de 17 a 50 anos.
Como resultado, a pesquisa mostrou que entre os 15 principais cursos presenciais escolhidos, seis são da área da saúde. O que equivale a 36,1% das escolhas. Entre eles, estão Enfermagem, Psicologia, Educação Física, Biomedicina, Fisioterapia e Nutrição.
Em relação aos cursos à distância, quatro estão entre os 15 principais. O que equivale à 17,5% das escolhas. Dentre os escolhidos, há Enfermagem, Nutrição, Educação Física e Biomedicina.