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COVID-19: Quando e como reabrir as escolas (3)

Em resposta à intensa transmissão do vírus nos quatro quadrantes do planeta, governantes, tanto de países quanto de Estados, de forma integrada e/ou independente, visando mitigar a disseminação do vírus, ousaram tomar decisões sem precedentes na história da humanidade, como, por exemplo, fechar espaços de agregações de pessoas (igrejas, shoppings, comércio em geral etc). Ainda que nas decisões polêmicas, as escolas também estiveram entre as primeiras instituições a fecharem seus portões, alternando acesso e modalidades de ensino voltadas às crianças. Na grande maioria dos sistemas escolásticos, as escolas continuam fechadas até hoje e discus­sões acerca de “quando” e “como” reabri-las têm, desde o início da segunda onda, fomentado discussões acaloradas. Em face dessas questões complexas, e em função de visões diferentes, levantadas por diferentes agentes educacionais envolvidos, tais como, governos, diretores, professores, sindicatos e alunos, en­tre outros, o dilema ainda permanece sobre como reincorporar a aprendizagem presencial em sociedade, especialmente com a nova alta incidência de casos e mortes ocorrendo na 2ªa onda.

Sob a luz de tal dilema, torna-se também importante con­siderar as implicações desta dramática decisão de fechamento das escolas sobre a saúde e bem-estar das crianças. Estudiosos do comportamento conhecem que crianças na idade de 2 a 10 anos têm uma vida social ativa nas escolas, em geral, que as ajuda a aprender de seus próprios colegas e que positivamente impacta o desenvolvimento dos traços de personalidade e do processo de identidade social das mesmas. Ademais, interrupções das relações de coleguismo do ambiente escolástico têm sido associadas com ansiedade, depressão, culpa, medo e raiva. Crianças experenciando isolamento e quarentena têm mos­trado um risco elevado de desenvolverem desordens de estresse pós-traumático após dor não somática e sofrimento psicológico, além de desordens de ajustamento. Praticamente, em todas as nações do mundo, e, especialmente, nas mais desiguais social e economicamente, os pais são frequentemente os únicos provedores de cuidados para as crianças, o que limita sua produtividade no trabalho, mesmo quando eles têm possibilidade de manterem empregos que lhes permitam trabalhos domésticos e à distância. Em outros casos, a coabitação forçada num ambiente doméstico com pais sofrendo de problemas econô­micos e de saúde física e mental, expõe as crianças ao risco de serem submetidas a algumas formas de comportamentos violentos.

Considerando especificamente os aspectos educacionais durante confinamentos ou distanciamento físico, a aprendizagem à distância nem sempre é uma alternativa plausível à instrução presencial para as crianças de 02 a 10 anos, do ensino básico e fundamental 1, e, particularmente, em crianças mais jovens, que estão no estágio evolutivo de adquirir a coordenação mãos e olhos em função da escrita. Também tem sido apontado pela Academia, em “Reopening K-12 Schools During the COVID-19 Pandemic Consensus Study Report from the National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine (2020)”, profunda análise acerca de “quando” e “como” reabrir as escolas, que o ensino online pode, também, amplificar as desigualdades, ou seja, aumentar a divisão digital. É muito fácil de imaginar esse fato se re­fletirmos nas grandes disparidades existentes nas diferentes escolas federais, estaduais e municipais, bem como, na qualidade educacional vigente entre os diferentes Esatdos da nação brasileira.

A Academia supracidade destacou que a temática da equidade é um dos principais desafios que os dirigentes escolares enfrentam e enfrentarão quando decidirem “quando” e “como” reabrir as escolas. Em seus escritos, a Academia menciona que a habilidade das escolas, especialmente as públicas, em alcançar as necessidades de suas comunidades é contingente aos recursos imediatamente disponíveis para elas. Neste relatório, destaca-se que muitas escolas e municípios são pessimamente equipados para fornecer os serviços mais básicos para os estudantes e seus familiares. Ao contrário, desde o início da pandemia, e agora com a elevada incidência da 2ª onda, isso tem servido para exacerbar as desigualdades existentes, extraindo das crianças e de seus familiares os recursos que, até então, estes tinham. Logo, na pandemia, os estudantes estão experenciando uma mais profunda desigualdade social do que era prévio à pandemia da Covid-19.

Ao mesmo tempo, a pandemia tem elevado os desafios enfrentados pelos precários sistemas de saúde que eventualmente são fornecidos dentro das escolas ou nas comunidades que as circundam. A Aca­demia nacional aponta que essas disparidades surgem das diferenças sociais, econômicas, ambientais e estruturais que contribuem para as diferenças entre grupos nos desfechos de saúde nas variadas comu­nidades e bairros que rodeiam tais escolas. Assim, como consequência, suporte social e intervenções visando a promoção da resiliência à saúde física e mental nas escolas dependem muito de quão organi­zada, estruturada e bem equipada são as escolas. Obviamente, no Brasil, o retorno ao ensino presencial deve considerar, profundamente, a variável desigualdade econômica. Em outras palavras, para algumas comunidades brasileiras, impera que os educadores considerem os riscos, as impressões e os custos da reabertura escolar para responderem, adequadamente, às questões concernentes à equidade se quiserem determinar, com eficiência, as estratégias voltadas à mitigação da Covid-19.

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