Tribuna Ribeirão
Economia

Reajuste salarial é inferior à inflação

© Marcello Casal JrAgência Brasil

Em dezembro, o reajuste sa­larial no Brasil ficou abaixo da inflação (-0,9%). É o que revela o boletim Salariômetro, divul­gado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) nesta sexta-feira, 22 de janeiro. O painel analisa os resultados de 40 negociações salariais, que são coletados no portal Medidor, do Ministério da Economia.

O reajuste mediano nego­ciado foi de 4,3% em dezem­bro, enquanto o Índice Nacio­nal de Preços ao Consumidor (INPC) – indexador do Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) –, no acu­mulado de doze meses, ficou em 5,2%. O piso salarial me­diano [que corrige discrepân­cias] negociado foi de R$ 1.333 em dezembro, enquanto o piso médio foi de R$ 1.442.

“Em dezembro, tivemos um repique muito forte da inflação. E a inflação, na mesa de nego­ciação, é medida pelo INPC. Como no final do ano tivemos um aumento muito grande, principalmente na alimentação, isso refletiu no custo de vida dessas famílias e o INPC mos­trou isso”, diz Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Eco­nomia da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Projeto Salariômetro.

Dezembro foi o único mês no ano passado em que o reajus­te das negociações salariais ficou abaixo da inflação. Nos outros meses do ano, os reajustes se equipararam, com um pequeno reajuste real de 0,1% em feve­reiro. Em todo o ano passado, 5.038 instrumentos foram ne­gociados, sendo que 4.472 deles por meio de acordos coletivos e 566 por convenções coletivas.

Em dezembro, a proporção de reajuste nessas negociações, que ficou abaixo do INPC, atin­giu 70,2%. “São negociações que não deram nem a inflação acumulada. Só 10,6% ficaram acima [da inflação]”, afirma Zylberstajn. Já as negociações salariais que terminaram em reajustes que corrigiram a in­flação [ou seja, ficaram iguais à inflação] somaram 19,1%.

“Para uma empresa que esteja disposta a repor a infla­ção com o sindicato, já teria que começar com 5,2%. Se for dar aumento real, teria que ser mais do que isso. E isso em uma época de recessão pro­funda”, acrescenta. Conside­-rando-se todo o ano de 2020, o reajuste mediano nominal foi de 3% e o piso mediano de R$ 1.273. Para 2021, a Fipe prevê que os reajustes reais se­rão raros, já que as projeções para o INPC continuam al­tas, superiores a 5%, podendo chegar a 7% em junho.

Salário mínimo
O salário mínimo de R$ 1.100 deste ano não repõe a in­flação de 2020. O INPC, indi­cador que corrige o piso nacio­nal, registrou alta de 5,45% no ano passado, segundo dados divulgados pelo IBGE, acima do reajuste de 5,26% dado no salário mínimo.

Isso significa que a alta no piso não repõe o poder de compra, como assegurado pela Constituição. Para isso, o piso deveria subir para R$ 1.101,95 ou R$ 1.102, após arredondamento. O Ministé­rio da Economia ainda não informou se o governo defi­nirá um novo valor para o sa­lário mínimo, como foi feito em 2020.

No ano passado, o gover­no anunciou que aumentaria o salário mínimo de R$ 998 para R$ 1.039, mas depois da divulgação do INPC, o valor foi reajustado para R$ 1.045 a partir de 1º de fevereiro. Em 30 de dezembro, o secretário de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodri­gues, disse em coletiva de im­prensa, que o governo poderia reavaliar a situação e talvez até incorporar a diferença de for­ma imediata.

Segundo o Ministério da Economia, cada R$ 1 a mais no salário mínimo eleva as despe­sas em R$ 351,1 milhões. Na prática, o aumento de R$ 55 no piso, de R$ 1.045 para R$ 1.100, se traduzirá num gasto maior em R$ 19,3 bilhões. Como par­te desse impacto já estava in­corporado, a diferença deve ser de R$ 4 bilhões.

Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeco­nômicos (Dieese), elaborado com base na cesta básica de alimentos mais cara do país, de São Paulo, onde custava, em média, R$ 631,46, o valor do salário mínimo em dezembro teria que ser de R$ 5.304.90, correspondente a 5,08 vezes o salário mínimo vigente à épo­ca, de R$ 1.045.

Este valor seria necessário para suprir as despesas de um trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, hi­giene, transporte, lazer e previ­dência. Em dezembro de 2019, o mínimo ideal seria de R$ 4.342,57, quatro vezes o piso oficial da época, de R$ 998. Em novembro de 2020, o ideal seria de R$ 5.289,53, correspondente a 5,06 vezes o valor do salário do ano passado.

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