A disputa pelo comando da Câmara já chegou à Justiça. O presidente do PDT, Carlos Lupi, e o deputado Mário Heringer (PDT-ES) pediram a interferência do Supremo Tribunal Federal (STF) para que a votação no próximo dia 1º de fevereiro seja virtual para os parlamentares do grupo de risco da covid-19.
Após pressão de apoiadores da candidatura de Arthur Lira (PP-AL), a Câmara decidiu na segunda-feira, 18 de janeiro, que a eleição para a sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) será em votação estritamente presencial. A decisão foi tomada em reunião da Mesa Diretora da Casa, com votos contrários de Maia e também de Heringer, que é médico e o relator da questão.
Maia estudava a possibilidade de realizar um formato misto de eleição, liberando a votação virtual para o grupo de risco. Segundo ele, cerca de dois mil servidores precisam ser mobilizados no dia. Lira, que recebeu apoio formal do PTB na terça-feira (19), diz que a adesão do PSL à sua candidatura “é fato consumado”.
Segundo o deputado, ele já tem maioria dentro do partido, que estava dividido e havia anunciado apoio a Baleia Rossi (MDB-SP). “Havia aquelas questões internas (no PSL) de suspensões, mas nós não concordamos com a decisão monocromática. Encontramos politicamente uma outra forma. Essa questão está resolvida”, afirma.
De acordo com Maia, em razão dessa decisão, 513 deputados e um total de ao menos três mil pessoas terão que comparecer à Câmara no dia da votação. Ele lembrou a posse do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luis Fux, em que vários convidados, incluindo Maia, se contaminaram com covid-19. “Vamos trazer parlamentares de 27 Estados em um momento de crescimento da pandemia”, diz.
Baleia Rossi tem o apoio do bloco composto por doze partidos – PT, PSL, MDB, PSDB, PSB, DEM, PDT, Cidadania, Solidariedade, PCdoB, PV e Rede –, que conta com 295 deputados, mas a divisão do PSL pode alterar este placar. Do outro lado, Lira, candidato do presidente Jair Bolsonaro, pode ficar com o apoio de nove legendas – PP, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Patriota, Avante, Pros, PTB e PSC – ou 179 parlamentares, além do PSL.
Já Lira lidera a corrida pelo cargo nas três principais bancadas temáticas da Casa de Leis. O líder do Centrão tem mais votos declarados do que seu principal adversário entre os deputados que integram as bancadas ruralista, evangélica e “da bala”. A maior diferença proporcional entre os dois se dá entre os evangélicos. Neste grupo, o progressista soma 100 votos declarados, enquanto Baleia Rossi alcança 21.
Para reverter este quadro, o emedebista teria de conquistar os “indecisos” e ainda tirar votos de seu concorrente, já que nem a soma de seus apoios com o total de parlamentares que não quiserem responder à enquete seria suficiente para ultrapassar o alagoano.
Pesquisas que medem a taxa de aprovação de Bolsonaro colocam os eleitores evangélicos como os mais satisfeitos em relação ao governo, o que poderia explicar a vantagem de Lira entre os deputados que representam esse eleitorado. Em dezembro, por exemplo, pesquisa XP/ Ipespe mostrou que 53% dos entrevistados que se dizem fiéis a alguma denominação evangélica consideravam a gestão federal boa ou ótima.
No caso da bancada ruralista, Bolsonaro já cobrou por diversas vezes o apoio dos deputados, argumentando que o campo “nunca teve um tratamento tão justo e honesto” como em seu governo. O líder da bancada, deputado Alceu Moreira, no entanto, criticou a insistência do presidente e até já declarou apoio a Baleia Rossi. Neste grupo, a vantagem de Lira é menor: 106 a 47.
Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Moreira afirma que o apoio ao emedebista não é geral entre a bancada, mas que vai exigir do candidato o compromisso com pautas nas quais não houve abertura com o atual presidente, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A prioridade, segundo ele, é a reforma tributária.
Uma das propostas em discussão no Congresso foi apresentada por Baleia Rossi. Além disso, a frente dos ruralistas vai cobrar a votação de projetos do setor, entre eles a regularização fundiária. O projeto foi um dos temas de atrito entre Maia e o líder da bancada ruralista.
Já os representantes da chamada “bancada da bala”, que reúne deputados que já foram militares, que compuseram equipes da Polícia Civil e que apoiaram majoritariamente a eleição de Bolsonaro em 2018, a diferença de apoios é da ordem de 40% pró-Lira. Neste grupo, porém, 89 parlamentares não aceitaram responder à enquete, o que, em tese, aumenta as chances do emedebista de reduzir a margem para seu concorrente.