Sempre digo que a urbanização poderia ser bem diferente do que ela é. Via de regra, onde a densidade de edificação é maior, a natureza se encontra profundamente modificada e não exerce os benefícios que melhoram nossa qualidade de vida na sua plenitude. Não precisaria, necessariamente, ser assim. Basta compreender que a cidade não é apenas um lugar de negócios e o solo não possui apenas um valor mercadológico.
É perfeitamente possível que convivamos com a integridade ou a parcialidade dos atributos naturais de um território compartilhado por milhares de pessoas. É recomendável que cidadãos acessem e desfrutem de espaços protegidos que abrigam florestas, corpos d’água, animais de vida livre e ar puro. Os urbanistas deveriam estudar Ecologia Urbana. Esta área do conhecimento é muito desenvolvida na Alemanha e poderá ajudá-los a romper paradigmas estéticos e econômicos.
Há vários estudos que constatam que cidades da Inglaterra, por exemplo, possuem maior variedade de espécies da fauna e da flora do que seu ambiente rural de entorno. Como estará nossa situação uma vez imersos no mar verde de cana-de-açúcar; uma cultura agrícola agressiva aos ciclos naturais? Outras ruralidades são possíveis; outras urbanidades também.
Daqui pra frente, o que devemos fazer de imediato é intervir a favor da natureza, enriquecendo-a. Nesse sentido, a existência de unidades de conservação (UCs) no meio urbano passa a ser um imperativo dos tempos atuais. As UCs podem ser conceituadas como sendo espaços protegidos por lei com os objetivos de manter os serviços ambientais, garantir a existência e a evolução das espécies e oportunizar a convivência das pessoas com ambientes preservados e saudáveis. Ao criarmos, mantermos e ampliarmos áreas protegidas, nós atraímos pessoas que querem cultivar um futuro digno e sustentável.
Estou lendo a dissertação de mestrado da bióloga e educadora ambiental Rafaela Aguilar Sansão, do Programa de Pós Graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, defendida em 2017, cujo título é “As práticas de governança e gestão para a mitigação de pressões e ameaças em unidades de conservação urbanas”. O trabalho é um diagnóstico preciso das respostas de gestão perante pressões e ameaças em UCs nacionais e europeias inseridas no contexto urbano. Recomendo a leitura cuidadosa aos gestores e educadores ambientais que desempenham suas atividades em UCs urbanas.
O Parque Natural Municipal do Morro de São Bento (PMMSB) aqui em Ribeirão Preto é uma UC urbana. No final do ano passado, o Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (COMDEMA) aprovou o texto de revisão do Plano de Manejo e sua inserção na categoria “proteção integral”. O PMMSB é um patrimônio ambiental e cultural relevante para todos nós e deve seguir exercendo suas três principais funções: conservar a biodiversidade ali existente, garantir à população os benefícios advindos da floresta e permitir que moradores e visitantes continuem a desfrutar do bem-estar em uma área natural.
Visando aprimorar o desempenho dessas funções, sugere-se que sejam diagnosticadas as principais ameaças e pressões que afetam o Parque, bem como as necessidades de recursos e de estrutura de gestão para mitigar tais impactos, seguindo a orientação do trabalho desenvolvido pela pesquisadora citada anteriormente. Elaborar um correto diagnóstico nos coloca diante de decisões acertadas. Saibamos valorizara riqueza que já existe e que foi herdada pelos tempos biológicos e históricos. Façamos apenas que essa riqueza se expanda.
Visando também a ampliação de áreas protegidas na zona rural do Município, sugere-se estudos para a criação de quatro novas unidades de conservação: às margens do Rio Pardo, no divisor de águas Pardo-Mogi,em trechos florestados próximos ao do Córrego do Tamanduá e na divisa de Ribeirão com Guatapará, às margens do Ribeirão da Onça. Para os dois últimos há estudo preliminar na tese de doutorado da bióloga Olga Kotchetkoff Henriques, intitulada “Caracterização da vegetação natural em Ribeirão Preto, SP: bases para a conservação”.