…E o vento levou
Em tempos muito idos, um repórter jovem não perdia uma ocorrência policial. Não esperava a elaboração dos BOs. Ficava de plantão no Central para pegar os “furos” de reportagem. Dormia em um Volks dos antigos, mal ajambrado, para não necessitar de ler as matérias nos frios papeis da delegacia daquela cidade. Não havia lugar que não fosse para ‘cobrir’ os acontecimentos. Quando não tinha carro, pegava carona com os policiais, bombeiros, ambulância, o que tivesse a mão. Certa feita o telefone daquela Regional, distante de Ribeirão Preto, tocou e um policial de uma cidade distante informou que alguns ex-funcionários de um banco, sabedores dos segredos de impressão de cheques garantidos haviam sacado muito dinheiro na boca do caixa e fugido rumo a um canavial daquela região. Um agente da lei ofereceu carona ao jovem jornalista e para lá se dirigiram os dois, além de todas as outras viaturas com os policiais militares.
Eis que o bandido surge
Em um ponto de ônibus, um cidadão com jeitão de matuto, aguardava o coletivo que atendia as fazendas, passando-se por passageiro com uma caixa de sabão de papelão na mão. O agente, vivo, sacou que o dito cujo poderia ser um dos bandidos. Pegou a arma e deu voz de prisão. O ‘171’, como são denominados os que aplicam golpes, não ofereceu resistência. Colocou a caixa de papelão no chão e de imediato disse que não teria resistência para o policial se ele não fosse agredido. Quando o agente da lei abriu a caixa, lá estava metade do golpe e era bastante dinheiro. Os policiais que acompanhavam o Volks preto e branco do policial civil pegaram o estelionatário (qualificado) e o levaram para completar a diligência e tentar prender o resto da quadrilha.
O vento
O agente daquela época e de outro município colocou a caixa no banco traseiro da pequena viatura, abriu todos os vidros, mesmo em uma estrada de terra e deu o máximo que o carrinho poderia oferecer de velocidade. Neste momento, algumas cédulas voaram. Ele brecou o carro e ato contínuo, virando-se para o repórter, afirmou: – “Você viu? Metade das cédulas voou”. O jovem repórter que viu apenas duas ou três cédulas das milhares que estavam guardadas voarem para dentro do próprio veiculo ficou no aguardo da sequência. Enfático ele disse que iria diminuir a velocidade para que as outras não “batessem asas”. O repórter, antevendo o que iria acontecer, pediu para descer da viatura, mesmo estando em meio a fazendas daquela região e disse: – “Deixe-me descer, pois pode ocorrer de dar outro vento e eu não quero ser o responsável pelo voo do dinheiro”. Desceu com seu gravador Phillips antigo e ficou na estrada esperando carona. Conseguiu chegar até a sede daquela Regional com um caminhão leiteiro que estava com tambores para entrega em um entreposto de cooperativa de laticínios.