A pandemia da covid-19 trouxe ao mundo muitas mortes e sofrimento. No entanto, além dessas acarretadas pelo vírus em si, outra parte da população tem sofrido com outros tipos de infortúnios, como a ansiedade e a depressão. De acordo com um levantamento feito por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict/Fiocruz), realizado no Brasil e na Espanha, os sintomas dessas doenças afetam 47,3% dos trabalhadores de serviços essenciais durante a pandemia.
A pesquisa apresentada no artigo “Depressão e Ansiedade entre trabalhadores essenciais do Brasil e da Espanha durante a Pandemia de Covid-19: uma pesquisa pela Web (Depression and Anxiety Among Essential Workers From Brazil And Spain During The Covid-19 Pandemic:a websurvey)”, aceito na revista cientifica Journal of Medical Internet Research, conseguiu levantar ainda que mais da metade desses trabalhadores sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo.
Segundo o psicólogo Felipe Areco, este cenário de sobrecarga mental já era de se esperar. Isso porque, no caso dos profissionais da saúde, estes já são tidos como profissionais que estão em constante vulnerabilidade, pois lidam rotineiramente com todas as questões de morte, de luto e de perda.
“Em relação à covid-19, eu penso que por ter sido um impacto muito grande, exageradamente absurdo em relação ao trabalho dos profissionais da saúde, aconteceu esse descontrole em relação a como tratar o todo. A gente sabe que existem muitos profissionais da saúde que tem dupla jornada e que trabalham em mais de um hospital – o que já é um fator gerador de sobrecarga”, disse.
No entanto, Areco também ressalta que não só estes profissionais da linha de frente tendem a sofrer com esses outros males da pandemia, mas todos que tiveram sua rotinha abruptamente alterada.
“Eu penso que a humanidade está em um ponto de grande vulnerabilidade, de grande descontrole emocional nesse momento, porque não há uma certeza do que se pode fazer. […] A pandemia da Covid-19 traz uma aproximação com a morte de uma maneira bastante intensa. Então, não só os profissionais da saúde e dos serviços essenciais, mas os demais que tenham que lidar com as adversidades das novas rotinas também podem desencadear os sintomas de ansiedade e de depressão”, comentou o psicólogo.
Janeiro Branco
O primeiro mês do ano traz um alerta para o tema saúde mental na vida das pessoas. A Associação dos Funcionários Públicos do Estado de São Paulo (AFPESP) abraçou a campanha Janeiro Branco, mês dedicado à prevenção, tratamento e apoio às pessoas que sofrem com depressão, ansiedade e outros transtornos que causam enorme sofrimento físico e psicológico.
Para o médico pneumologista e presidente da entidade, Álvaro Gradim, a saúde mental está ligada não somente ao estado emocional, neurológico, comportamental, sentimental e fisiológico da pessoa, mas também ao conhecimento de si mesma e de suas necessidades psicológicas.
Gradim ressalta ainda que existem diversos fatores capazes de influenciar negativamente a saúde mental de um indivíduo. Com a pandemia e o isolamento social, esses eventos ganharam força, aliados ao sofrimento emocional provocado pela ausência de convívio com amigos e parentes, privação do lazer ou, ainda, excesso de trabalho e medo da covid-19.
“Esse abalo emocional deve ser encarado com muita seriedade pois, se não tratado, o quadro pode evoluir para depressão, crises severas de estresse, ansiedade ou pânico, por exemplo. Quando se fala na prevenção de doenças, é muito comum que os esforços se concentrem apenas na saúde do corpo, deixando de lado a saúde mental. Manter a mente sã é tão importante quanto garantir o bom funcionamento do organismo”, finalizou.