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COVID-19: Quando e como reabrir as escolas (2)

As evidências suportando a eficácia do fechamento das escolas em nível globalizado, visando controlar a Covid-19, ainda que estejamos no pico da 2ª onda, é bastante esparça. Não obstante, os pais, dirigentes escolares, educadores e cientistas reconhecem que o fato de as escolas ficarem fechadas por um longo periodo tem consequ­ências prejudiciais sociais e econômicas, bem como, na saúde mental e no bem estar das crianças e dos adolescentes.

Considerando essas implicações, o consenso intitulado “Reope­ning K-12 Schools During the COVID-19 Pandemic Consensus Study Report from the National Academies of Sciences, Engi­neering, and Medicine (2020)”, publicado nos Estados Unidos, tem destacado várias dimensões que precisam ser consideradas e ponderadas para a tomada de decisão em relação à reabertura das escolas, mesmo no contexto que pode ser generalizado na 2ª onda que estamos vivendo.

Uma recomendação que tem sido enfatizada pela Academia destaca que manter as escolas fechadas, de forma a impedir o ensino presencial, traz sérios riscos educacionais. Estudantes de todas as idades beneficiam-se da aprendizagem presencial que lhes permitem esperenciar aspectos escolásticos e de ensinagem que não podem ser completamente replicados através da aprendizagem à distância. Os riscos educacio­nais desta aprendizagem podem ser muito mais elevados para as crianças muito jovens, ou que apresentam alguma forma de incapacidade.

Ademais, sem o planejamento cuidadosamente adequado, o ensino virtual, sozinho, carrega o risco de exacerbar as disparidades de acesso a uma educação de alta qualidade entre diferentes grupos demográfi­cos e comunidades. No Brasil, em particular, é conhecido por qualquer educador que há diferenças substanciais na estrutura física, bem como, na qualidade formacional dos professores, na segurança em geral e mesmo nos meios de transporte e acesso às escolas municipais e estaduais nas quais, usualmente, estudam as crianças mais jovens.

Outra dimensão que tem sido destacada, em primeira mão, pela Acade­mia, é que o fechamento das escolas poderá agravar a insegurança alimentar. Para muitos estudantes que vivem na pobreza, escolas não se limitam a lugares de aprendizagem, mas, também, se configuram como um lugar para alimentação saudável. De fato, a Academia descreve estudos mostrando que o lance fornecido na escolar é associado com melhorias no desempenho acade­mico, enquanto a insegurança alimentar, incluindo dietas irregulares, ou não saudáveis, é associada a baixo rendimento escolástico e a riscos substanciais para a saúde física e mental das crianças. Neste contexto, o número de crianças enfrentando insegurança alimentar é elevado no mundo. No Brasil, em particular, grande parcela dos pais de família, com crianças em idade escolar, tem sobrevivido ao longo da pandemia com os recursos emergenciais concedidos pelo governo federal ou em função de algum auxílio concedido pelos governos municipais e estaduais, que tem feito entregas de lanches diários. Para dar uma ideia da dimensão desta situação, estima-se que em 6,6% dos lares com crianças na União Europeia, 5,5% no Reino Unido e 14% na grande nação norte-americana, as crianças não têm prontamente disponível uma refeição com carne ou tem insegurança alimentar. Vejam que estamos tratando de nações ricas. Já, por outro lado, se considerarmos famílias de nações mais pobres, esse cenário, certa­mente, sera mais miserável e drástico.

Dimensao adicional destacada pela Academia se refere a muitas escolas não só ofe­recerem ensinagem, propriamente dita, como trazerem, de forma inerente, serviços de suporte familiar associados à saúde mental e à saúde física tanto para as crianças quanto para os pais e outros cuidadores das mesmas. Obviamente, em escolas fechadas estes serviços deixam de ocorrer. Assim considerando, “se” e “quando” as escolas reabrirem, os funcionários que lá trabalham se constituirão em um grande desafio, pois é conheci­do de todos que uma parcela significativa dos funcionários pertencem a grupos etários de alto risco, ou hesitam em retornar à escolar presencial por conta dos riscos que estas podem acarretar a sua saúde. No Brasil, por exemplo, e no Estado de São Paulo, em es­pecial, a Secretaria da Educação determinou o retorno à escolar no início de fevereiro. Mas o Sindicato dos professo­res manifestou-se contrário, entendendo que as estratégias de mitigação da pandemia implemetadas não garantiam àqueles uma proteção confiável.

Por adição, algumas das estratégias para limitar a transmissão da Covid-19 dentro das escolas, tais como, manter reduzidos tamanhos de classe, fazer controle sanitário e de atividades recreativas, e, até mesmo, do transporte escolástico, além de manejar o processo de ensino de forma híbrida, presencial e virtual, irão requerir dos dirigentes educacionais, e de seus governos responsáveis, a contratação adicional de funcionários, bem como, a reforma das dependências sanitárias e alimentícias, além da implementação de triage, testagem e monitoramento rápido, confi­ável e contínuo de eventuais infectados presentes entre alunos, professores, pais e funcionários. O que mostra que, “quando” e “como” reabrir as escolas sera sempre um dilema.

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