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Criar filhos e o novo mistério dos pais

Casal amigo (doutores na universidade), pesquisava o dia todo, à noite cabeça no travesseiro e sono repousante. Vie­ram os filhos e, aí, critérios rígidos. Babá indicada pela antiga “mãe de leite” da família, com extrema confiança. Na casa, televisor só no quarto do casal. Às crianças, suco de laranja, nem de polpa: refrigerante jamais (se servisse “o escuro” que o mundo conhece, perderia o emprego). Na escola “maternal”, a matrícula foi na melhor, para manter regras do casal. De­pois, descobriu-se que a “tia” contava as historinhas da Xuxa, dizendo “que todo dia vinha na sua nave espacial” (papos de família: “Mamãe, por que não tem Xuxa em casa ?”).

As crianças se visitavam: voltavam entusiasmadas com as novidades, até com o famoso refrigerante “escuro” (“que delí­cia, mamãe !Compra!”). Chegou o dia em que o televisor veio para a sala e a “festa” rolou enquanto os pais trabalhavam. A babá, da maior confiança, tinha seus programas preferidos, aqueles que tratam de “casos de família”, conflitos conjugais e desvios de conduta; sempre na indispensável companhia dos atentos “baixinhos”, aprendendo tudo que os pais não imagi­navam.

Crescidos, frequentaram as melhores escolas, fora da “educação de berço” partiram pela vida. Notícias sobre eles chegaram – a filha amancebou-se com vizinho matador, que foi “morar” por alguns anos no “hotel do Estado”; um filho saiu pelo mundo, não se sabe dele; o outro internou-se com doença “ruim”, que pega nas ruas. Casal aposentado, isolado, lê e vê TV na companhia da netinha, falam como três adultos. Os idosos, enfrentam a depressão com futuro incerto: cura ou a eternidade. Nessa trajetória, o que aconte­ceu? Alguém errou?

Certeza: a vida mudou, os hábitos não são os mesmos, a educação paterna sofreu transformações, a sociedade é outra. As pessoas não se relacionam: só se conhecem! Nos univer­salizamos. A vida está extremamente competitiva. Pensa-se saber quase tudo. É preciso mais (que todos) e melhor (sobre tudo) como um computador que nos julgam ser. Quem está perdendo? Quem será derrotado? Há um componente, que entra em nossas casas sem pedir licença, diz o que quer, a qualquer hora, dita a modernidade e deixa sua mensagem a quem ouvir e seguir: é a TV, que passou a ser parte do núcleo das casas, como se fosse parte da família que ali habita.

Analise como quiser. Até ambiente familiar é projetado a partir do televisor. A planta do imóvel é traçada conforme sua localização e audição. Preocupa-se com a visualização – é som e imagem. E mais: informa, analisa, emite pensamento. Logo, forma opinião. Interfere na sociedade, provoca resul­tados. Hoje faz o debate político, sem os comícios das praças, elege candidatos.

A empresa tem fins econômicos (lucrativos). Assiste quem quer. Sim, como se escolhe quem entra em sua casa, fala com os filhos, interfere na educação e no comportamento. O televisor é seletivo, opte pelo que interessa, da pura informa­ção ao entretenimento: às vezes deforma (subliminarmente, os frágeis); uma companhia misteriosa aos idosos; sem pagar, por enquanto (canais pagos expandem). Novos tempos, sem volta. Acostume-se.

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