Ah, chegou 2021! Interessante a quantidade de pessoas que divulgaram mensagens pedindo que 2020 seja esquecido. Apesar do respeito às opiniões, permito-me discordar, mas fundamento. Realmente o ano findo foi difícil em todos os sentidos. O impacto social e financeiro da pandemia será sentido por muito tempo, mas cabe a nós – sobreviventes – colher todos os ensinamentos e projetar o futuro evitando repetir erros e reduzindo danos.
Como esquecer que mais de 200 mil brasileiros morreram vítimas de Covid? Foram famosos e anônimos, familiares, amigos, vizinhos, dificilmente encontraremos alguém que não perdeu um conhecido. Dá para esquecer deles? A economia também sentiu com empresas fechadas, demissões, aumentos de preços e falta de alguns produtos. As medidas de distanciamento social nos separaram de entes queridos. Pela primeira vez deixar de visitar ou abraçar foi encarado como prova de amor.
O ano passado expôs, ainda, uma triste realidade que já era de conhecimento geral, mas agora ficou escancarada: a péssima qualidade dos gestores públicos, especialmente os que colocam os interesses pessoas e políticos, acima dos coletivos. Se por um lado reconhecemos o heroísmo dos profissionais da saúde, também vimos a crueldade e desfaçatez dos que aproveitaram as compras emergenciais para seus esquemas de corrupção e desvios de recursos públicos. Faltou ambulância, leito, respiradores, equipamentos de proteção individual e, principalmente, competência.
Enquanto várias nações já estão vacinando seus grupos prioritários, por aqui sequer compraram os insumos básicos como seringas e agulhas. Enquanto cientistas do mundo todo se uniram e conseguiram produzir e aprovar vacinas em tempo recorde, o presidente da república banalizou a letalidade do vírus e questionou a qualidade e efetividade dos imunizantes. Para piorar, diante dos péssimos exemplos de algumas lideranças, o cidadão comum também resolveu avacalhar e as festas de Natal e Reveillon registraram uma série de abusos. Como consequência as enfermarias e UTI´s voltaram a ficar lotadas e várias cidades informam o colapso do sistema de saúde.
Nosso país regrediu na questão ambiental com alarmantes indicadores de queimadas, desmatamento, poluição, assoreamento dos cursos d´água e poluição atmosférica. Após dois anos seguidos com recordes na queda de mortes, o Brasil voltou a registrar aumento de violência sendo que negros, mulheres epobres continuam sendo as maiores vítimas. As mobilizações mundiais bradando que vidas negras importam foram respostas contundentes dos que aguardam medidas efetivas para promoção da igualdade. A polarização política foi outra marca negativa com vários ataques à democracia e situações de afronta aos direitos civis.
No esporte, pela primeira vez na história, todas as modalidades foram interrompidas. Na volta sem a emoção do público presente assistimos ao Bayer de Munique vencendo a Champios Ligue, Los Angeles Laker arrasando na NBA e Sir Lewis Hamilton tornando-se o maior vencedor da Fórmula 1. Também presenciamos os grandes celebridades liderando movimentos contra o racismo.
O novo ano já chegou com velhos problemas. As chuvas de verão expuseram a deficiência na infraestrutura e os aumentos nos impostos tiram o sono dos contribuintes. No cenário mundial a invasão do Capitólio demonstrou o quanto um líder insano pode manipular parte de um povo. Acostumados a vangloria de maior democracia do mundo, os estadunidenses experimentaram um dia de violência, vergonha e desonra, mas deram a resposta a tempo. A democracia balançou, mas ainda bem que não caiu. Que sirva de exemplo para as vozes tupiniquins que tentam fomentar iniciativas semelhantes.
Ano Novo é tempo de renovar sonhos e projetos. É a oportunidade de aguçar a esperança, porém, parafraseando Carlos Drummond de Andrade é apenas uma data. E para ganhar objetividade, nada de lista de boas intenções que serão engavetadas ou de acreditar que justiça, igualdade e liberdade serão implantadas por decreto. A vida segue e o que fará o novo ano diferente não é o calendário e sim as nossas atitudes.
Que nós, sobreviventes, saibamos fazer 2021 diferente à partir dos aprendizados de 2020, um ano que certamente deverá ser lembrado.