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A década da restauração de ecossistemas

A década de 20 se inicia. O primeiro artigo que escrevo deste período versa sobre o desafio de restaurar paisagens e áreas degra­dadas para manter os serviços ecossistêmicos dos meios terrestres, aquáticos e costeiros.

A Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030) foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) por meio da Convenção sobre Diversidade Biológica. Esta, considerada um dos instrumentos internacionais mais importantes para o meio ambien­te, encontra-se estruturada em três pilares: conservação da biodi­versidade, uso sustentável da diversidade biológica (flora, fauna e microorganismos) e repartição justa dos benefícios provenientes da utilização de recursos genéticos.

Diagnósticos recentes publicados pela ONU mostram que a degradação dos ecossistemas, como por exemplo, a erosão, conta­minação e o esgotamento dos solos, ou a perda de espécies, compro­metem o bem-estar de 3,2 milhões de pessoas e custam em torno de 10% da renda anual global.

Os objetivos de restabelecer o funcionamento pleno dos ecos­sistemas são: diminuir as mudanças climáticas já que florestas bem conservadas sequestram o excesso de Carbono da atmosfera; adaptar nossos sistemas produtivos às novas condições climáticas, consi­derando riscos crescentes à produção e distribuição de alimentos; promover a economia florestal; fortalecer a biodiversidade; conser­var os solos e garantir a continuidade do fornecimento de água para atividades humanas e para a sobrevivência de todas as espécies.

Como se vê, estamos tratando da sustentação da vida no planeta.

O Brasil possui vocação florestal e agrícola. Muitos centros de pesquisa nacionais, como por exemplo a Embrapa Solos e a Embrapa Agrobiologia, têm demonstrado esforços técnicos na direção da tran­sição agroecológica, considerando a saída da agricultura convencional para sistemas restaurados, sem onerar o agricultor. Este desafio também aponta para novas fronteiras da pesquisa em agroecossistemas.

Como os gestores públicos devem contribuir com este propósito mundial?
A princípio, identificando fontes de recursos financeiros e estruturando setores competentes para estabelecer e manter política pública direcionada à conservação e à recuperação ambiental.Em seguida, mapear cadeias de valor sustentáveis e inclusivas, como por exemplo o fortalecimento dos sistemas agroflorestais no meio rural, incentivos a quintais biodiversos e áreas verdes urbanas produtivas, recuperação de recursos hídricos degradados, criação de unidades de conservação, entre muitos outros.

Creio que nos anteciparmos e, na medida do possível, dimi­nuirmos as consequências hostis das mudanças do clima, tornando nossos ambientes e nossas paisagens mais resilientes ecologicamen­te, garantiremos um presente e um futuro mais seguro e saudável.

Em Ribeirão Preto, por exemplo, há a previsão no texto do futuro Código Municipal do Meio Ambiente, de pelo menos três planos muni­cipais que convergem para esse tema e apontam as premissas para uma política consistente nesta área. São eles: da Mata Atlântica e do Cerrado, das Nascentes e das Mudanças do Clima. É perfeitamente viável que o governo local estabeleça política de investimento visando a execução das ações previstas nestes instrumentos de gestão ambiental e se junte a tantos outros esforços que estão em cursos e outros que estão por vir.

Suely Araújo, ex-presidente do Ibama, em recente reportagem na Folha de S. Paulo, a respeito do tema “governança ambiental”, vaticina:“o orçamento é o espelho de decisões políticas”. Além disso, já existem diversos mecanismos de captação de recursos financeiros para essa empreitada. A tendência é que fundos pró-meio ambiente se multipliquem nesta década.

As Nações Unidas apontam que 350 milhões de hectares deverão ser restaurados, gerando U$ 9 trilhões em serviços ambientais, removendo de 13 a 26 gigatoneladas de gases de efeito estufa da atmosfera. Consi­derando o cumprimento do Código Florestal Brasileiro, o país deverá recompor 21 milhões de hectares de vegetação. Há serviço e geração de renda para milhões de brasileiros. Basta fazer a opção e se organizar.

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