Estudo divulgado nesta terça-feira, 5 de janeiro, por pesquisadores do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP/ USP) aponta o mecanismo que torna a nova variante do coronavírus mais transmissível. Até então, mais de 30 países apresentaram infecções da nova cepa. O Brasil detectou os dois primeiros casos nesta semana, em São Paulo.
Uma das pessoas com resultado positivo é uma mulher de 25 anos, residente em São Paulo e que se infectou após contato com viajantes que passaram pela Europa e estiveram no Brasil. Começou a apresentar sintomas no dia 20 de dezembro, com dor de cabeça, garganta, tosse, mal estar e perda de paladar, com PCR realizado em 22 de dezembro.
O outro é um homem de 34 anos e a equipe de Vigilância Epidemiológica está investigando o histórico do caso, bem como local de moradia e sintomas. A investigação epidemiológica sobre ambos os casos está em andamento e, por isso, não há mais detalhes sobre quadro clínico e sintomas apresentados pelos pacientes.
Ambos os casos são da linhagem B.1.1.7 (termo sinônimo de “cepa” e “variante”). O Sars CoV-2 tem uma proteína chamada spike em sua estrutura, que interage com um receptor das células humanas, o ACE2. De forma simplificada, o ACE2 é a “porta de entrada” do vírus no nosso corpo. Assim, ele consegue causar a covid-19.
Por meio de bioinformática, os cientistas brasileiros compararam a força de interação entre a spike e o receptor, como ela acontece na cepa original, detectada em Wuhan, e como é essa interação na nova variante, a B.1.1.7., recentemente encontrada no Reino Unido.
Segundo Gerson Passos, que assina o artigo junto a Jadson Santos, ambos do Departamento de Genética USP, os resultados mostram que a força de interação entre a spike e o ACE2 na nova cepa é “muito maior”. Essa, segundo ele, pode ser a causa da maior transmissibilidade da variante B.1.1.7.
“Usamos um software para medir essa força de interação. Tivemos que baixar de um banco de dados as estruturas químicas das proteínas, tanto da spike quanto do ACE2, e com a ajuda do programa fizemos a análise. O programa já é desenvolvido pra isso, ele mostra as interações que ocorrem bem ali onde as duas proteínas se ‘encostam’”, explica Passos.
O software mostrou que a mutação – uma mudança no material genético do vírus – gerou uma troca de aminoácidos que determinou a nova variante. Onde estava o asparagina (N) no RNA do coronavírus de Wuhan, na versão do Reino Unido, agora existe o tirosina (Y).
Passos explica que antes o “N fazia duas ligações” e, agora, o “Y faz muito mais”. E completa: “Adere mais na proteína [receptor] humana”. Com isso, a pesquisa determinou a relação entre maior força de interação e maior transmissibilidade da B.1.1.7. O estudo foi apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e ainda é uma pré-publicação – não foi selecionado por revistas científicas e revisado por outros cientistas.
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde, até o momento, não há comprovação científica de que esta variante inglesa encontrada no Brasil é mais virulenta ou transmissível em comparação a outras previamente identificadas. O comportamento de um vírus pode ser diferente em locais distintos em virtude e fatores demográficos e climáticos, por exemplo.