Tribuna Ribeirão
Cultura

O ano das lives

Uma das palavras mais ouvidas neste ano foi “live”. Com a paralisação dos shows ao vivo, os artistas viram nas redes sociais uma possibilidade de continuar presente entre o público. Em um primeiro momento, o movi­mento era amador: o cantor abria a câmera e se apresentava para o pú­blico, como um afago em tempos em que é preciso ficar em casa para con­ter o avanço da covid-19.

Porém, no dia 28 de março, aqui no Brasil, o sertanejo Gusttavo Lima foi além de um cantinho, um violão e um celular. Em uma live pa­trocinada que durou mais de cinco horas, ele mostrou que era possível fazer do ao vivo na internet uma fonte de renda diante das bilheterias fechadas – e atrair um grande público.

“O Gusttavo Lima sempre gostou de fazer produções grandiosas. Ele enxergou que podia fazer algo maior do que um artista com seu violão to­cando em casa”, diz o jornalista André Piunti, autor do site Universo Sertane­jo e do livro Música Sertaneja – Uma Paixão Brasileira (volumes 1 e 2).

Diante da porteira aberta, outros artistas seguiram pelo mesmo cami­nho e, segundo um ranking elabo­rado pelo YouTube, os artistas serta­nejos lideram a audiência mundial do formato. Das dez transmissões ao vivo de música com maior audiência de todos os tempos na plataforma de streaming, oito são brasileiras – sete são sertanejas. Essa audiência recor­de foi conquistada nos dois primei­ros meses de isolamento, entre abril e maio.

O primeiro lugar ficou com Ma­rília Mendonça, com a Live Local, realizada em 8 de abril, que alcançou pico de 3,31 milhões de visualiza­ções simultâneas – ou seja, enquanto a apresentação acontecia ao vivo. De lá pra cá, a live, que durou 3 horas e meia, já tem mais de 55 milhões de acessos. Marília também ocupa a 8ª posição do ranking com a live Todos os Cantos da Casa.
Em segundo está a dupla Jorge & Mateus, que em 4 de março levou 3,24 milhões de pessoas a assistirem à Live Na Garagem.

Quebrando a hegemonia serta­neja, o italiano Andrea Bocelli apa­rece em terceiro com a apresentação na Catedral de Milão, na Itália, va­zia, no domingo de Páscoa. Outro estrangeiro entre os dez artistas mais vistos no mundo foi o grupo sul-coreano BTS, com 2,31 milhões de espectadores. Gusttavo Lima fi­cou em 7º, com a segunda live que fez, em 11 de abril.

Piunti afirma que o sucesso dos sertanejos no YouTube veio da ca­pacidade que artistas, empresários e produtores tiveram em se articular para criar um modelo rentável. Ele acredita que as lives devem continu­ar, mesmo que os shows para públi­cos maiores sejam liberados quando a pandemia der trégua. “O sertanejo sempre foi muito focado em shows, que é de onde vem o dinheiro mesmo, mas não tinha essa articulação direta com os patrocinadores. As lives ajuda­ram nessa aproximação. Acredito que Jorge & Mateus, por exemplo, podem fazer uma live a cada três meses, ban­cada por alguma marca, para lançar um disco novo, fazer uma divulgação. Cada um vai achar seu modelo.”

Júlia Braga, head comercial da gra­vadora Som Livre, que tem a cantora Marília Mendonça em seu cast, diz que as lives se tornaram um meio de aproximação entre artista e público. A análise da executiva vai na mesma linha de Piunti em relação ao modelo de negócio que foi criado. “As lives pa­trocinadas geraram uma receita para a indústria fundamental nesse perí­odo, mas entendemos que também destravaram possibilidades futuras de parceria, mesmo após passada a quarentena. Outro ganho foi o fato de os artistas usarem sua força para arrecadações em prol de instituições e comunidades. E quando as marcas somaram nestas ações, facilitou ainda mais toda essa logística”, diz.

Para Júlia, uma das possibilidades será um modelo híbrido de show + live, e o que o momento é de enten­der como a indústria da música vai funcionar nos próximos anos. “Mui­tas frentes se abriram e é nisso que estamos trabalhando, entendendo o que pode ser feito, o que público quer e olhando o nosso portfólio de pro­dutos, como os nossos festivais, para adaptá-los a esse novo mundo. Esta­mos atentos às mudanças e às inova­ções que envolvem o comportamento e o consumo seguro da música, isso é decisivo para o sucesso”, finaliza.

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