Os nomes das ruas e dos bairros de uma cidade transformaram-se na sua impressão digital porque documentam não apenas a cultura de seu povo, como a inclinação política de seus administradores.
Em Paris a orientação foi preservar valores históricos. Quem sai do Museu do Louvre pela porta da Rua do Rivoli, tomando o lado direito, aproxima-se do bairro denominado “Marais” que, como o nome indica, acompanha a margem do Rio Sena. O vocábulo “marais” em francês significa “brejo”. Ninguém ousa trocar o nome da área, onde estão instaladas inúmeras lojas como também um pedaço importante da história do seu povo.
Descendo pelas ruas do Montparnasse encontra-se uma denominada Rua do Sabot, o que em português significa Rua do Tamanco. O nome registra o período de industrialização da cidade, com a instalação de muitos teares. Os operários, naqueles tempos, calçavam tamancos com sola de madeira. Resolviam seus conflitos trabalhistas lançando seus tamancos nas máquinas, causando enormes prejuízos. O vocábulo francês tamanco (“Sabot”) gerou “sabotagem” em inúmeras línguas, inclusive em português. Os franceses, para perpetuar sua história, como se vê, mantém o nome da rua para documentar o fato histórico.
A cidade de Ribeirão Preto nem sempre seguiu o exemplo francês, mas em determinados locais, a sua história foi preservada. As ruas que envolvem o Hospital São Lucas foram batizadas com os nomes de nossos poetas. Uma delas consagrou Olavo Bilac.
No alto da cidade reservaram outro local para perpetuar os soldados paulistas, nascidos na cidade que, heroicamente, morreram na Revolução de 1932. Uma daquelas ruas recebeu o nome do soldado Airton Roxo, que sacrificou a vida lutando pela democracia.
Mas, a necessidade de preservar o passado nem sempre inspirou os nossos administradores.
Na minha infância a Rua Mariana Junqueira era conhecida como Rua do Comércio. Não seria difícil homenagear a memória daquela nobre senhora, deslocando seu respeitado nome para outro local, respeitando a tradição anterior que identificava a importantíssima rua do centro da cidade como local de desenvolvimento de atividade comercial. Trocaram o nome da rua.
O mesmo se deu com a Vila Tibério. A rua que ligava o bairro com a Escola de Agricultura, hoje Universidade de São Paulo, era conhecida como “Corredor dos Calabreses”. Os antigos moradores do local afirmam que o Corredor dos Calabreses foi substituído por Rua Paranapanema.
Seguramente o vocábulo “Paranapanema” deve ter enorme importância para a nossa cidade, mas que, jamais se aproximará daquilo que aqui fizeram os calabreses, que, com seu sacrifício e enorme trabalho, ergueram a cidade que se converteu no seu novo lar e na nova casa de seus filhos e netos.
Mas, outros lugares documentam a nossa história. A Rua Leais Paulistas eternizou a bravura dos nossos soldados vivos e mortos que tanto lutaram pelo Estado Democrático na Revolução Paulista como na Segunda Grande Guerra.
Na sua continuação está a Rua General Estilac Leal, militar brasileiro que vigorosamente impediu que soldados brasileiros, ao lado dos americanos, invadissem a Coréia, instalando um conflito bélico até hoje não resolvido.
Em busca do registro histórico do Brasil e de Ribeirão Preto, seria importante batizar dois locais com os nomes das irmãs Alice e Sebastiana Garcia que se imortalizaram como professoras do Primeiro e do Segundo Grupo Escolar, na década de quarenta. Eram mulheres e negras. Lembro-me que todas as famílias procuravam ardentemente colocar seus filhos em suas classes. Fui aluno da Professora Alice Garcia em 1948.