João Camargo
Segundo informações do Programa Municipal de DST/ Aids, Tuberculose e Hepatites Virais de Ribeirão Preto houve um aumento no número de casos de HIV na cidade. Em 2018, foram registrados 141 casos. Enquanto em 2019, este número pulou para 164. O que reflete em um crescimento de 16,3% nos números de pessoas que se infectaram com o vírus. Em contrapartida, o número de casos de ribeirão-pretanos com Aids diminuiu. Em 2018, foram computados 79 casos. Já em 2019, a quantia caiu para 75.
Para que fique claro a diferença entre HIV e Aids, eis as explicações: a Aids é a doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (da sigla em inglês HIV). Esse vírus, do tipo retrovírus, ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. Os casos de HIV e Aids – juntamente com outras doenças crônicas transmissíveis –, a avaliação do banco de dados é sempre feita no período referente ao ano anterior.
Ainda segundo os dados do Programa, no município, já faleceram 3.327 pessoas vivendo com HIV desde o ano de 1987. A taxa de mortalidade, que chegou a 25,7/100.000 hab no ano de 2000, caiu para 4,1/100.000 em 2019.
Assim como em outros meses, em que são feitos alertas sobre a conscientização de doenças, dezembro também é marcado por um combate. Desta vez, o Dezembro Vermelho marca uma luta contra o vírus HIV, a Aids e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), chamando a atenção para a prevenção, a assistência e a proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV.
Pandemia
O Programa ressaltou que o ano de 2020 trará um grande prejuízo na epidemia de HIV e Aids – assim como em outras –, por conta do período de pandemia e no que este implicou. “Observamos que ocorreu queda na solicitação dos exames e, com isso, consequentemente queda na identificação de novos casos, o que retarda o início do tratamento destes indivíduos”, concluiu por meio de nota.
O biomédico Jorge Luiz Naliati Nunes ressalta que ainda não temos uma cura para a doença. Segundo ele, atualmente cerca de 21,7 milhões de pessoas usam os tratamentos com combinações de medicamentos antirretrovirais (ARVs) que ajudam a combater a multiplicação do vírus e permite que os pacientes levem vidas mais longas e saudáveis, evitando o comprometimento rápido do sistema imunológico.
Nunes adiciona, ainda, que alguns pacientes não resistem à infecção, pois seu sistema imunológico acaba se enfraquecendo. “Infelizmente, isto ocorre quando o sistema imunológico se torna fraco a ponto de não poder mais combater infecções oportunistas e doenças como a pneumonia, a meningite, a tuberculose e alguns tipos de câncer. Além disso, os medicamentos levam a efeitos colaterais, provocando doenças cardíacas, lesões hepáticas e renais”, explica.
Por conta disso, o especialista alerta que o paciente deve sempre ser acompanhado periodicamente pelo seu médico e procurar levar uma vida saudável. “É fundamental o uso de preservativos nas relações sexuais. Recomenda-se também o acompanhamento médico do parceiro ou parceira”, finaliza o biomédico.
Direito de quem possui HIV
O Dezembro Vermelho também é voltado para a assistência e a proteção dos direitos das pessoas infectadas com o HIV. Para tratar disso, Daniel Pacheco, docente do curso de Direito do Centro Universitário Barão de Mauá, explicou um pouco da situação.
“Além de todos os direitos e deveres que qualquer outra pessoa teria, os por tadores do HIV são protegidos pela Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids, criada em 1989 por profissionais da saúde e membros da sociedade civil, com o apoio do departamento de IST, HIV/Aids e Hepatites Virais”, salienta (ver box).
De acordo com Daniel, a real importância desses direitos é evitar que essas pessoas que vivem com o HIV ou com a Aids sofram qualquer tipo de discriminação. “Muito embora todos estejam muito mais bem informados do que há 40 anos, quando o vírus da Aids começou a circular, ainda há bastante preconceito. Existem pessoas que não gostam nem de sentar-se próximas a indivíduos infectados. Fora isso, como os portadores do HIV, não raro, sofrem de doenças oportunistas, que podem prejudicar bastante a qualidade de vida e causar até mesmo a invalidez, é fundamental que existam esses outros direitos, como a aposentadoria e a prestação continuada”, comentou.
No caso de algum portador que não tenha tido seus direitos assegurados, Daniel esclarece que este pode procurar a polícia, já que, possivelmente, tal conduta constituirá crime.
Direitos
– Os portadores do vírus têm direito a informações específicas sobre sua condição;
– Todo portador do vírus da Aids tem direito à assistência e ao tratamento, dados sem qualquer restrição, garantindo sua melhor qualidade de vida;
– Todo portador do vírus tem direito a comunicar apenas às pessoas que deseja seu estado de saúde e o resultado dos seus testes;
– Toda pessoa com HIV/Aids tem direito à continuação de sua vida civil, profissional, sexual e afetiva. Nenhuma ação poderá restringir seus direitos completos à cidadania.
Além dessas, há também auxílio-doença, aposentadoria por invalidez e benefício de prestação continuada.
Preconceito afeta renda de pessoas soropositvas, diz Unaids
Levantamento do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e outras sete organizações, divulgado nesta semana, revela que o estigma contra pessoas com HIV ou Aids ainda existe, sendo praticado, inclusive, por profissionais de saúde. Em relatório com foco na cidade de Salvador, as entidades expuseram números relativos a direitos humanos e também à esfera profissional. O impacto do preconceito na vida social das pessoas soropositivas que residem na capital baiana foi outro aspecto abordado pelos pesquisadores.
Em alguns casos, pessoas que convivem com quem é soropositivo acabam contando sobre sua condição sem o seu consentimento. Após ouvir 119 pessoas soropositivas, apurou-se que somente 26,9% delas informaram sobre a infecção aos respectivos empregadores.
A porcentagem faz sentido, se colocada ao lado de outro dado: o de que, nos últimos 12 meses, 27,2% de um total de 217 pessoas vivendo com HIV e Aids perderam o emprego ou a fonte de renda, por causa de sua condição. A discriminação também acontece por meio de agressões físicas e assédios verbais, relatados por 6,8% e 20,8% dos entrevistados, respectivamente.
Os entrevistados destacaram comentários discriminatórios ou fofocas de não familiares como a forma mais frequente de discriminação. Porém, o comportamento foi apontado por 50,2% como existente também entre membros da própria família.
Rede de saúde
Outro ambiente hostil às pessoas soropositivas é a rede de saúde. Durante atendimentos, os pacientes notaram que profissionais de saúde evitaram contato físico ou tomaram precauções por causa da sorologia positiva para o HIV (9,6%); fizeram comentários negativos ou fofocas (8,4%) em relação a eles; e revelaram a outras pessoas a sorologia positiva para HIV, sem sua autorização (9,6%).
O levantamento foi aplicado em Manaus, São Paulo, Recife, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Porto Alegre. A versão integral do relatório referente a Salvador pode ser consultada no site do Unaids.
Brasil tem 920 mil pessoas com HIV
O Ministério da Saúde (MS) apresentou no início do mês o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2020, que traz os dados de diagnósticos e infectados consolidados do ano de 2019 e um comparativo dos casos nos últimos anos no país.
Segundo a pasta, atualmente cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil: 89% delas foram diagnosticadas, 77% fazem tratamento com antirretroviral e 94% das pessoas em tratamento não transmitem o HIV por via sexual, por terem atingido carga viral indetectável. Até outubro deste ano, cerca de 642 mil pessoas estavam em tratamento com antirretroviral, enquanto, em 2018, eram 593.594 pessoas em tratamento.
Jovens
O Ministério da Saúde estima que cerca de 10 mil casos de aids foram evitados no país, no período de 2015 a 2019. As pessoas na faixa etária de 25 a 39 anos, de ambos os sexos, com 492,8 mil registros, concentraram o maior número de casos. Nessa faixa etária, 52,4% são do sexo masculino e 48,4% são mulheres.
Queda
Desde 2012, houve uma diminuição na taxa de detecção de aids no país. O número passou de 21,9 casos por 100 mil habitantes, em 2012; para 17,8 casos por 100 mil habitantes em 2019, representando um decréscimo de 18,7%.
A taxa de mortalidade em decorrência da aids também apresentou queda, de 17,1%, nos últimos cinco anos. Em 2015, foram registrados 12.667 óbitos pela doença e em 2019 foram 10.565. Na avaliação do Ministério da Saúde, ações como a testagem para a doença e o início imediato do tratamento, em caso de diagnóstico positivo, são fundamentais para a redução do número de casos e óbitos por aids.