Está chegando o Natal mais inusitado dos últimos tempos, o Natal da Pandemia. Interessante observar como as pessoas vivem a proximidade de uma das festas mais aguardadas do calendário e que agora refletirá a união entre o novo e o velho normal da sociedade contemporânea.
As famílias estão em dúvida entre preparar a grande ceia com aglomeração, rabanada, peru, queima de fogos, troca de presentes, muitos beijos e abraços ou a contida refeição apenas com os moradores da residência. É momento de continuar cautelosos ou vale a pena expor idosos e integrantes dos grupos de risco?
Preocupados em proteger seus colaboradores, alguns empresários preparam festas de natal virtuais onde até os familiares poderão participar, também aderem às medidas sanitárias para evitar a contaminação da equipe e de clientes. Outros fazem manifestações pela liberação das grandes festas e ampla abertura do comércio, pois será a maior oportunidade de recuperar os prejuízos advindos de vários dias de fechamento e restrições.
Nos campos da saúde e da política continuam os embates sobre a vacinação. Em tempo recorde e depois de um esforço histórico, pesquisadores conseguiram desenvolver e aprovar as tão aguardadas vacinas comReino Unido, Rússia, Estados Unidos e Canadá saindo na frente e já imunizando suas populações, mas, por aqui, a pendenga parece não ter fim e até a Corte Suprema foi provocada a manifestar-se sobre sua obrigatoriedade.
Muitos contrários questionam a origem do fármaco, embora ao longo da vida tenham sido vacinados contra as mais variadas doenças, sem jamais questionar a marca ou o fabricante. Os que defendem o direito de não ser vacinados esquecem que, para diversos atos da vida civil a vacina já é exigida.
Em vários estados e cidades, a caderneta de vacinação é obrigatória para matricular em escola pública, o mesmo ocorre com quem busca vagas em concursos federais. Até no Bolsa Família se exige vacinação em dia. Certas vacinas são obrigatórias para viagens internacionais e desde novembro todos os militares da ativa devem ser vacinados.
Enquanto certas autoridades tentam politizar a vacina, acabam desacreditando um item tão essencial para a manutenção da vida. Mais do que saber quem está certo ou quem está errado é saber o que é o certo e o errado. Em sintonia com esse pensamento, em seu aniversário celebrado no último dia 17, o Papa Francisco fez uma convocação para construção de “uma nova cultura” para combater a pandemia do coronavírus e as guerras que assolam o mundo.
Existe uma interessante e quase infantil contradição natalina. Enquanto alguns depositam suas esperanças de presentes e dias melhores no lendário Papai Noel, outros ainda se recordam de Jesus de Nazaré, o aniversariante do dia. Assim, continua a dualidade entre escrever uma cartinha endereçada ao “bom velhinho” ou fazer uma oração para o “menino Jesus”.
Os cristãos não podem ter uma fé ingênua de que neste final de ano tudo pode e que não existirão consequências. Sem vacina e sem cuidados a tendência é espalhar o vírus provocando doença e até a morte.
Se não precisa existir conflito entre saúde e economia, fé e ciência também não devem ser antagônicas. Fundamentalismo, desinformação e o desprezo à ciência são atitudes irresponsáveis que colocam em risco toda coletividade. Jesus disse: “… eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Alúdica imagem da manjedoura com um bebezinho acompanhado de seus pais, reis magos e animais simboliza essa esperança que é confirmada no sacrifício da cruz, morte e ressurreição quando o Nazareno se consolida como o Cristo Rei do Universo.