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Steve Vai: ‘Sempre quis deixar os fãs sem fôlego’

Por Julio Maria

Seus improvisos são sempre uma coleção de surpresas, como se tirasse coelhos da cartola a cada compasso – uma lição aprendida com Frank Zappa, com quem tocou entre 1980 e 1982, e com Jeff Beck, uma de suas maiores influências. “Caramba, este cara deve ter um par de músculos extras ou alguns tendões a mais nas mãos”, disse Joe Satriani à época em que o teve como aluno, no final dos anos 70.

A alma de Steve Vai não existiria sem a técnica. Em conversa com o Estadão há duas semanas, antes de participar do evento DMX (Digital Music Experience), ele respondeu sobre os ataques de quem o acusa de tocar com excesso de notas e de colocar a técnica à frente da emoção. “O meu desejo sempre foi tocar rápido e ter um controle completo e deslumbrante sobre o instrumento.”

Uma discussão que sempre retorna é o quanto se deve estudar e o quanto se deve tocar por intuição. Há muitos músicos renomados que defendem uma carga de estudo menor. O que acha mais importante: estudar horas a fio ou começar a tocar logo em uma banda de rock?

A resposta é diferente para cada pessoa. O aluno precisa estar em contato com suas intenções, saber o que de fato quer fazer no mundo. Para mim, as duas coisas foram importantes: estudar em casa e tocar em uma banda. Eu praticava em casa e saía para tocar e colocar tudo à prova. Uma pessoa só precisa decidir o que é melhor para si e seguir em frente.

Depois de tantas experiências com timbres e efeitos diferentes, você já descobriu o que realmente importa para as pessoas? A harmonia, o ritmo, os efeitos, a velocidade ou a melodia?

O que mais emociona as pessoas é a conexão que o artista tem com elas e o instrumento. A plateia sempre responde a um intérprete confiante, não importa o que ele esteja fazendo. Mas, no final das contas, o ingrediente que dá a uma música maior ou menor longevidade é a profundidade da harmonia e da melodia.

Falando em velocidade, o quanto esse ponto importa realmente para você? Guitarristas que não gostam de seu estilo dizem que podem trazer a mesma emoção que você traz em mil notas tocando apenas uma.

O meu desejo sempre foi o de tocar rápido e ter um controle completo do instrumento para deixar os fãs sem fôlego. Esse era o meu objetivo. Eu o alcancei e adoro isso. Sempre quis poder tocar de uma forma que traduzisse a liberdade mais pura do instrumento. Gosto de tocar rápido, mas ser capaz de tocar rápido não faz de você necessariamente um grande músico, não o torna um bom intérprete nem um bom compositor. Mas também não significa que, se você tocar devagar, você será competente em todas essas coisas. Eu conheço muitos guitarristas lentos que não são bons, escrevem músicas das quais eu não gosto e basicamente não têm identidade. Os guitarristas precisam parar de acreditar que um é melhor do que o outro. O melhor é aquilo que é melhor para você.

O que você aprendeu com Frank Zappa e com Joe Satriani, dois músicos de linguagens tão distintas?

Com Satriani, aprendi que tudo o que você toca deve soar musical Com Zappa, o real significado da independência artística.

Você ainda tem planos de gravar três álbuns? Você disse que faria isso de formas diferentes, tocando em um com a guitarra limpa, em outro com os efeitos que mais usa, e em um terceiro com uma guitarra pesadíssima, de oito cordas (as guitarras têm seis cordas).

Essa informação foi baseada em um projeto que pensei em fazer há alguns anos, mas mudou. Em vez disso, no momento estou trabalhando em um disco acústico / vocal solo. É tudo muito simples, sem nenhum virtuosismo. As músicas são baseadas em um tipo particular de DNA melódico que eu tenho também.

Como evitar se tornar um refém de seus próprios solos? É muito comum ouvirmos padrões de solo repetidos por guitarristas de blues, por exemplo.

Se um guitarrista gosta de seu estilo e se pega repetindo muito, tudo bem. Eu sempre ficava animado quando fazia uma pequena descoberta para mim mesmo. Isso é o que eu mais amo e, ao longo dos anos, desenvolvi várias maneiras de encontrar essas coisas dentro de mim. Às vezes, crio limitações no meu espaço usando, por exemplo, apenas uma corda e um dedo para solar. Isso me leva a fazer coisas que eu não faria normalmente. Ideias e melodias interessantes podem surgir disso. Eu também posso fazer coisas como solar usando apenas as cordas E (mi), G (sol) e A (lá). Ou criar uma frase em minha cabeça e tocá-la na guitarra. Existem muitas maneiras de um guitarrista extrair ideias incomuns de seu instrumento.

O tempo passou e você está com 60 anos. A criatividade é um recurso finito?

Não, a criatividade não é um recurso finito. Copiar os outros é. Eu acredito que a criatividade está no centro do nosso ser. Existem problemas que podem surgir em nossas vidas quando não estamos expressando nossa verdadeira liberdade criativa. Quando era mais jovem, eu não conseguia me imaginar com 60 anos e ainda ser um homem criativo, mas me sinto cheio de ideias. O que começou a desaparecer foi a necessidade de estar no controle de coisas que realmente não tenho controle. Descobri que gosto muito de ter 60 anos. É estranho! Eu me sinto melhor agora do que nunca e ainda mais criativo, embora goste de me mover um pouco mais devagar.

Qual é o melhor solo de guitarra que você já ouviu?

Meus solos favoritos mudaram ao longo dos anos. O primeiro que ouvi e que realmente me pegou foi Heartbreaker, de Jimmy Page. Eu tinha 12 anos e, quando o escutei, decidi tocar guitarra. Houve outros que tiveram impactos profundos em mim, como o de Carlos Santana para Europe, Frank Zappa em Inca Roads e Jimi Hendrix em Machine Gun.

Algum músico brasileiro com quem gostaria de gravar?

Eu absolutamente amo música brasileira. Durante o verão, depois do jantar, minha esposa e eu nos sentamos sob as árvores e ouvimos música brasileira. Eu ficaria feliz em trabalhar com qualquer artista brasileiro autêntico para fazermos uma fusão do rock com aqueles grooves contagiantes. Seria como dar uma festa para Chico Buarque na casa de Jimi Hendrix.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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