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O Paraguai e sua Literatura: Josefina Plá (4)

A capacidade de Josefia Plá reunir em torno de si os processos de modernização da cultura paraguaia advém, segundo especialistas, de sua visão de cidadã em constante movimento. Tendo experienciado a Guerra Civil e as vanguardas espanholas em seu país de origem, Plá retorna ao Paraguai e vem a liderar movimentos nas artes e na literatura, tais como, o Grupo Arte Nuevo e o Grupo Vy’a Raity, respectivamente. Entretanto, foi com o Grupo del 40, iniciador do processo de moder­nidade literária no país, que Plá, em parceria com Hugo Rodríguez Alcalá, Augusto Roa Bastos, Oscar Ferreiro, Plá, Herib Campos Cervera, Hipólito Sánchez Quell, Julio Correa e Elvio Romero, renovou a poesia paraguaia, vindo, em conjunto, a se tornarem o grupo Vy‘a Raity (ninho de alegria). Quatro gera­ções de poetas, portanto, que, reunidos, liam Rilke, Dylan Thomas, Valéry e Lorca, envolvendo-se com a renovação das letras e artes pela modernidade.

Segundo especialistas, Lorca e Plá, por entenderem que tudo o que é primitivo, e que é o passado da tra­dição, integra os processos construtivos das artes, devendo ser valorizado e nunca negado, optam por não passarem pela experiência extrema de ruptura das vanguardas. Entretanto, não tarda para que essa postura, viabilizando que a poesia paraguaia pudesse ser apreciada pelas massas, seja interrompida pela Guerra Civil (1947), a qual levará alguns de seus poetas, como, por exemplo, Augusto Roa Bastos e Hérib Campos Cer­vera, ao exílio, desarticulando o movimento. Permanecendo no país, Plá intensifica sua produção artística e literária, vindo a colaborar com o movimento de renovação das artes plásticas do Paraguai. De acordo com estudiosos, “Sua experiência com a poesia nova não pode ser desvinculada do movimento Arte Nuevo, já que o retorno à tradição e às origens étnicas presentes no discurso de Lorca estará presente na produção plástica da autora de modo muito mais intenso que em sua poesia, e será também manifestado em seus contos, produzidos em sua maioria posteriormente, durante as décadas de 1950 e 1960”.

Por ocasião da primeira semana de arte moderna no Paraguai, em 1954, a ausência de salões de arte e locais similares em Assunção, faz com que Plá exponha sua arte nas ruas centrais da cidade, principalmente nas quadras centrais da Calle Palma, tradicional espaço de passeio e comércio, no qual, nos fins de semana, se rea­lizavam feiras de antiguidades, livros, obras de arte e flores no país. Na década de 50, na coluna “Interpretando o Brasil”, Plá publicou uma série de ensaios sobre literatura brasileira na imprensa paraguaia, especialmente no La Tribuna de Assunção. De acordo com especialistas, esses textos críticos foram lidos no Brasil na época de sua publicação no jornal, ou ao menos foram conhecidos por alguns intelectuais, como, por exemplo, por Cecília Meireles, que cita um deles em seu famoso ensaio “Expressão feminina da poesia da América”, de 1956. O que isso indica? Indica que o Paraguai não estava tão excluído assim do âmbito intelectual e artístico da região.

Encontraram-se até o momento vinte e cinco textos sobre literatura. A lista de autores citados e anali­sados por Plá? Uma lista ampla, abordando, entre outros, Gilberto Freyre, Gregório de Matos, Botelho de Oliveira, Basílio da Gama, Santa Rita Durão, Machado de Assis, Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira, Cruz e Souza, Mário Pederneiras, Bernardino da Costa Lopes, Alphonsus de Guimarães, Graça Aranha, Jorge de Lima, Josalina Coelho Lisboa, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Augusto Frederico Schmitdt, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Gilka Ma­chado, Ronald de Carvalho, José de Alencar, Visconde de Taunay, Couto de Magalhães, Franklin Távora, Rachel de Queiroz, Américo de Almeida, José Lins do Rego, Jorge Amado, Amado Fontes, Graciliano Ramos, Cordeiro de Andrade, Marques Rebelo, Monteiro Lobato, Manuel Antonio de Almeida, Raul Pompeia, Euclides da Cunha, Aluísio Azevedo, José Lins do Rego e Érico Veríssimo. Sua visão transcen­de o conceito de literatura nacional, relacionando esses autores com outros, seja do âmbito hispano-a­mericano, seja do âmbito mundial, como, por exemplo, Bews, Bernard, Clements, Warming, no caso de Freyre; Rilke, Byron, Quevedo, Góngora, Victor Hugo e Baudelaire.

Por sua vez, na década de 1980, intensifica-se a publicação dos contos e poesias da autora, como, por exemplo, “El espejo y el canasto” (1981), “La pierna de Severina” (1983), “Maravillas de unas villas” (1988), “La muralla robada” (1989); “Follaje en el tempo” (1981), “Tiempo y tiniebla” (1981), “Cambiar sueños por sombras” (1984), “La nave del olvido” (1985), “Los treinta mil ausentes: elegía a los caídos del Chaco” (1985), e “La llama y la arena “(1987). Nesse mesmo período, também os traba­lhos críticos e análises sociais e históricas, como “Ñanduti: encaje de dos mundos” (1983), “Arte actual en el Paraguay” (1983), em colaboração com Olga Blinder e Ticio Escobar, “La cultura pa­raguaya y el libro” (1983), “Apuntes para uma apro­ximación a la imagenería paraguaya (1985)”, entre outros títulos, são apresen­ta­dos ao público leitor.

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