Por Luiz Carlos Merten
Antes de Park Chan-wook, Bong Joon-ho e Lee Chang-dong, houve Kim Ki-duk. Ele talvez tenha sido o primeiro autor sul-coreano de sua geração a ganhar projeção internacional. Tornou-se assíduo nos grandes festivais. Era considerado ousado, provocador – era. Aos 59 anos, Kim Ki-duk estava em fase de mudança para a Letônia. Iniciara o processo para comprar uma casa e iria se transferir para a antiga república soviética. Ele tinha justamente um encontro agendado com um corretor. Não compareceu. Havia sido internado numa unidade de urgência de saúde. Foi vítima da covid-19.
Nascido numa família operária, Kim não teve uma formação especializada para se tornar cineasta. Estreou relativamente tarde, aos 33 anos. Foi premiado em Berlim e Veneza, participou da seleção de Cannes. Ganhou admiradores para o forte conteúdo visual de seus filmes e a preferência por personagens marginais, em choque com as instituições. Entre seus melhores filmes estão A Ilha, Endereço: Desconhecido, Crocodilo, Primavera Verão Outono Inverno e Primavera, Samaritan Girl, Casa Vazia, O Arco, Sem Fôlego, Pietà.
Casa Vazia causou profunda admiração em Hector Babenco. A história do homem que entra nas casas e coloca ordem na desordem em que vivem as pessoas mexe com temas profundos do inconsciente Pietà é sobre um violento cobrador de contas atrasadas. Sua vida fica caótica quando surge essa mulher que se apresenta como sua mãe – será?
Festival
Começou no dia 4 e vai até 13 o Festival Online de Cinema Sul-coreano no Belas Artes a La Carte. Kim Ki-duk é um dos autores que integram a programação. Vale recusar a obra do diretor, cujo prestígio entrou em colapso devido a acusações de abuso e violência sexual formuladas por uma atriz que permaneceu anônima. Segundo ela, Kim obrigou-a a rodar cenas nuas que não estavam no roteiro de Moebius. O caso repercutiu e talvez esteja na origem do desejo do artista de deixar a Coreia do Sul.