Tribuna Ribeirão
Política

João Cunha recebe homenagem em RP

FOTO: FERNANDO GOINZAGA/CCS

“Tenho a honra de dizer que o meu voto enterra a ditadura fascista, corrupta e entreguista que infelicitou a minha Pátria”. Assim, o deputado João Cunha, então no PMDB, justificou, em 15 de janeiro de 1985, seu voto, de número 344, a Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. O mineiro foi o primeiro presidente civil e eleito após a ditadura militar.

Passagens como essa, e tan­tas outras em defesa da demo­cracia, foram lembradas du­rante homenagem póstuma ao deputado realizada na Câmara de Vereadores, na noite de quinta-feira, 11 de dezembro, que contou com a presença de familiares, amigos e colegas de bancada do deputado.

O prefeito Duarte Nogueira (PSDB) também esteve presente e discursou sobre a relevância dos trabalhos de João Cunha como defensor dos direitos hu­manos e da democracia. “Ho­menageamos aqui nosso ilustre ribeirão-pretano, que faleceu no último dia 14 de novembro, coincidentemente véspera do processo eleitoral, o qual ele tan­to defendeu e participou”, disse.

“Nós não vivemos tem­pos normais, estamos todos de máscaras, fato inusitado para a normalidade da própria huma­nidade, e era em tempos anor­mais que o João Cunha iniciou sua vida política, enfrentando a ditadura militar, defendendo o retorno do sufrágio universal, o direito à liberdade, direitos hu­manos e a luta a favor da demo­cracia”, ressaltou o prefeito.

Discursaram também o pre­sidente da sessão solene, vereador Renato Zucoloto (PP), o jurista Sérgio Roxo da Fonseca, o ex-de­putado federal Marcelino Roma­no Machado, o advogado Roberto Heck e o representante da Comis­são e Justiça e Paz de São Paulo, Ezio Bruno Bruzadin.

Todos, amigos do homena­geado, lembraram de situações que viveram com ele enaltece­ram a importância da sua luta. Também falou à tribuna , An­drea Cristina dos Santos Corra­do, vice-presidente da 12ª Sub­seção da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB­-SP), a OAB de Ribeirão Preto.

Durante a homenagem, foi exibido um vídeo com imagens históricas de discursos de João Cunha no plenário da Câmara Federal e em comícios, além de depoimentos de amigos. A fa­mília do homenageado também recebeu um diploma referente aos serviços prestados não só à sociedade ribeirão-pretana, como também à população bra­sileira. Ao final da cerimônia, Patrícia Rodrigues da Cunha, filha de João Cunha, agradeceu as homenagens prestadas.

“Eu queria falar um pouco sobre a figura do meu pai, o ho­mem dessa potência de coragem, de combatividade, dessa braveza única, mas existe o João, meu pai, que transcendeu todas essas ca­racterísticas, eu posso dizer que ele é o homem mais doce, mais terno, mais gentil que eu pude conhecer em essência”, disse.

“Ele nos colocava no banho quente, naquele frio de Brasília, preparava nosso café da manhã, são essas as lembranças doces. Tudo no João era desmedido, o sentimento, a braveza, a potên­cia, mas acho que isso faz parte de almas que são singulares. Essa será uma saudade de todos os dias”, revelou.

“Gratidão pela loucura feita de sonhos e luta incansável pelo nosso bem-estar. Como disse Fer­nando Pessoa, seu amado poeta, ‘Tudo vale a pena quando a alma não é pequena’”, finalizou, emocio­nada. João Cunha morreu aos 81 anos, em 14 de novembro.

João Orlando Duarte da Cunha era advogado formado pela Faculdade de Direito Laudo Ferreira Camargo, da Universi­dade de Ribeirão Preto (Unaerp). Foi vereador em sua cidade natal, deputado estadual e deputado fe­deral. Pai de quatro filhos em dois diferentes casamentos, publicou, em 1977, a coletânea de discursos intitulada “Resistência”.

Foi vereador em Ribeirão Pre­to por dois mandatos, de 1969 a 1972 e de 1973 a 1975, ambos pelo MDB, partido de oposição à Are­na, que era historicamente ligada ao regime militar. Foi eleito depu­tado federal por quatro mandatos consecutivos (de 1975 a 1991), sempre pelo MDB (PMDB a par­tir de 1983), tendo tomado parte da Assembléia Nacional Consti­tuinte de 1988.

No período como parlamen­tar, se destacou como membro de uma das alas que mais se opunha ao regime militar. Foi um ferrenho opositor ao Ato Institucional nº 5 (o popular AI-5 que muita gente hoje quer ressuscitar) e denunciou publicamente o assassinato de Vladimir Herzog. Ao fim do regi­me militar, citou o ex-presidente João Batista Figueiredo como o líder de uma facção criminosa que se mantivera no poder por mais de 20 anos.

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