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Na 2ª temporada de ‘His Dark Materials’, as crianças tomam o comando

Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão

Ao fim da primeira temporada de His Dark Materials – Fronteiras do Universo, Lyra (Dafne Keen) e Will (Amir Wilson) chegaram à conclusão de que nem sempre dá para confiar nos adultos. Na segunda temporada da série baseada nos livros de Philip Pullman, que tem novos episódios todas as segundas, às 23h, na HBO e HBO Go, Lyra e Will deixam seus mundos e se encontram pela primeira vez em Cittàgaze, partindo dali para descobrir os mistérios do universo.

Lyra e Will, figuras essenciais para os destinos dos mundos de His Dark Materials, continuam sendo perseguidos pela Sra. Coulter (Ruth Wilson) e Lorde Boreal (Ariyon Bakare). Marisa Coulter, claro, vem a ser a mãe de Lyra e é uma personagem “infinitamente fascinante”, segundo a atriz. “Philip Pullman nunca ofereceu muitas respostas. Não sabemos pelos livros por que ela age como age, por que é tão sedenta de poder, por que é tão obcecada com sua filha. Não há muitas explicações psicológicas”, disse Ruth Wilson. Na primeira temporada, uma boa parte das informações para construir a personagem veio de seu “daemon”, o animal que representa a alma das pessoas no seu mundo. No caso da Sra. Coulter, é um macaco que não fala e, por vezes, é maltratado por ela.

Na verdade, no segundo livro, A Faca Sutil, em que a maior parte da segunda temporada se baseia, a Sra. Coulter mal aparece. “Mas nós queríamos continuar explorando essa relação dela com Lyra”, disse Ruth Wilson. “Mergulhamos mais na sua psicologia, sua origem, sua história antes de a conhecermos, por que ela decidiu não ficar com sua filha, como se tornou bem-sucedida num mundo tão masculino, e a qual custo.” Sorte dos espectadores, que têm a chance de ver a performance deliciosa da atriz para uma antagonista realmente complexa.

Lorde Boreal é igualmente misterioso. Ele quer se tornar a pessoa mais poderosa da história, mas, segundo o ator Ariyon Barake, é uma espécie de anarquista que não acredita mais no Magisterium, a organização religiosa que controla tudo e todos nesse mundo e tenta negar a existência de outros mundos, apesar das evidências. Nos livros, o personagem é descrito como mais velho, branco, de cabelo grisalho. “Ele é tudo o que não sou”, disse Barake. “Mas histórias são histórias, e eu posso contar esta.” O Boreal de Barake ganhou um quê de vilão de James Bond, com ternos bem cortados. Ele também buscou elementos em seu “daemon”, uma cobra, para compor sua interpretação. “Historicamente, a cobra foi descrita como aquela que tenta os outros, que hipnotiza, que parece não ter sentimentos. Foi assim que eu pensei em Lorde Boreal.”

Nem todos os adultos de His Dark Materials são como a Sra. Coulter, Lorde Boreal ou mesmo Lorde Asriel (James McAvoy), o pai de Lyra, que também a abandonou ainda bebê e traiu a filha ao fim da primeira temporada. A bordo de seu balão, o aventureiro Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda) assume uma posição paternal em relação à menina. “Ele faz o possível para manter Lyra segura em sua missão, mesmo a distância”, disse Miranda ao Estadão.

Scoresby inclusive discute seu amor por Lyra com a Sra. Coulter no terceiro episódio, um encontro que não existe nos livros. O aeronauta também encontra o pai de Will, o Coronel John Parry (Andrew Scott), que estava desaparecido e ressurge com o nome de Dr. Stanislaus Grumman. “Você não pode imaginar a quantidade de mulheres – e homens! – que me mandaram mensagens dizendo que não podiam acreditar que eu estava num balão com o padre gostoso de Fleabag”, contou Lin-Manuel Miranda, entre risos.

Pullman sempre disse que os livros falam de como os adultos perdem a capacidade de imaginação e a criatividade. No fim das contas, His Dark Materials é uma história sobre crescimento e sobre a importância de ouvir as crianças, porque elas muitas vezes podem ver as coisas de forma mais clara. Will e Lyra precisam se aliar para combater os males desse universo. “No começo, é difícil para Will e Lyra confiar um no outro, porque eles tiveram muitas decepções na vida. Mas percebem que estão no mesmo barco, tentando fazer algo de bom para o mundo”, disse Wilson, de 16 anos.

Para Dafne Keen, de 15 anos, por isso a série pode ser um exemplo para outras crianças e adolescentes. “Há muita gente da nossa idade que não está sendo defendida como deveria pelos adultos. E eles precisam saber que têm voz e direito de reclamar quando as coisas estão erradas.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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